Descrição de chapéu Seminário Coração Fraco

Conhecer a fundo o próprio diagnóstico é essencial para tratar insuficiência cardíaca

Menos de 50% dos pacientes recebem orientação adequada sobre piora de sintomas e o que fazer, afirmou especialista

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São Paulo

Em um cenário no qual quase 50% dos pacientes que são internados por insuficiência cardíaca no país voltam a ser hospitalizados em até seis meses após a alta, como indicou pesquisa realizada em 2014 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, falta à medicina dedicar maior atenção para que os pacientes compreendam a doença.

“A gente joga muito no colo do paciente o controle da doença e deixa de lado a responsabilidade do médico. Menos de 50% recebem orientação adequada em relação à piora de sintomas e ao que fazer”, afirmou Sabrina Bernardez Pereira, coordenadora dos Protocolos Assistenciais Gerenciados e do Escritório de Valor do Hospital do Coração (HCor).

Sabrina Bernardez Pereira (esq), coordenadora dos Protocolos Assistenciais Gerenciados e do Escritório de Valor do Hospital do Coração (HCor), Salvador Rassi, presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Westerlund Montera, coordenador do Centro de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco, e a repórter especial da Folha Cláudia Collucci participam do seminário Coração Fraco, em São Paulo
Sabrina Bernardez Pereira (esq), coordenadora dos Protocolos Assistenciais Gerenciados e do Escritório de Valor do Hospital do Coração (HCor), Salvador Rassi, presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Westerlund Montera, coordenador do Centro de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco, e a repórter especial da Folha Cláudia Collucci participam do seminário Coração Fraco, em São Paulo - Reinaldo Canato/Folhapress

Conhecer o próprio diagnóstico permite ao paciente avaliar o que é ou não apropriado, como limites de ingestão de sódio, de água e de atividade física —nenhum desses itens precisa ser banido quando identificado um coração fraco, a não ser que haja contraindicação médica, destacou Sabrina.

“Sem conhecer a minha doença, eu não consigo tratar. Não adianta recorrer ao 'dr. Google' porque eu não vou conseguir separar a literatura boa da ruim. É preciso voltar atrás para a medicina paternalista e gastar 10 minutos a mais na consulta”, disse Sabrina durante o seminário Coração Fraco, realizado pela Folha nesta segunda-feira (25), no auditório do Jornal. 

O evento teve o patrocínio da Novartis e apoio da Rebric e do Instituto Lado a Lado Pela Vida.

Para Salvador Rassi, presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o tratamento para insuficiência cardíaca evoluiu significativamente nas últimas décadas.

“Sou de uma geração que começou a tratar nos anos 80. A mortalidade era muito alta; a qualidade de vida dos pacientes, muito ruim”, destacou. Por outro lado, Rassi reconhece que o acesso aos medicamentos, hoje, nem sempre é facilitado.

“Fui a uma farmácia popular na semana passada. Cheguei lá com uma lista de medicamentos para insuficiência e perguntei quais deles eu conseguiria levar sem pagar, ou seja, por quais o governo pagava. Só tinha um.”

A disponibilidade de um tratamento completo para pacientes, lembrou Rassi, é fator primordial para redução de internação e, consequentemente, para redução de gastos no setor da saúde. “Isso não é culpa do médico ou do paciente, é do sistema de saúde”, disse.

Descobrir a causa da insuficiência cardíaca, rastrear doenças desconhecidas, monitorar hábitos de vida e buscar por uma medicação adequada são etapas indispensáveis para uma boa administração da doença, segundo Marcelo Westerlund Montera, coordenador do Centro de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco, do Rio de Janeiro.

“Eu tenho que enxergar o indivíduo holisticamente porque a insuficiência cardíaca não é como AVC e infarto. É uma síndrome que envolve várias coisas, e cada uma delas impacta no controle da doença. É preciso gerenciamento junto a outros especialistas”, disse.

Neste ponto, os participantes da mesa concordaram que nem sempre uma consulta possui o tempo necessário para abordar tantos aspectos da vida de um paciente, daí a importância de um tratamento que envolva múltiplos profissionais.

“Uma alta hospitalar feita por um médico é uma coisa. Por uma equipe multidisciplinar, é outra. Quando uma enfermeira pergunta se o paciente entendeu, é absurdo ver como muitas vezes ele não entendeu nada. Quando a receita que chega para ele é manuscrita, e não digitada, é pior ainda”, disse Rassi.

Esclarecimento é tão importante para evitar a falta de adesão ao tratamento quanto para evitar a taxa de reinternação. “A insuficiência cardíaca traz consigo uma polifarmácia e o paciente não entende por que tem que tomar tudo aquilo, ou então para de tomar porque está sentindo algum efeito adverso”, disse Sabrina.

Segundo a representante do HCor, há também muitos pacientes que negam a doença em função de depressão associada.

Montera destacou que um dos principais determinantes de piora de todas as doenças cardiovasculares é o problema nutricional. “As pessoas evitam ir a um nutricionista porque acham que vão ter que comer chuchu", afirmou.

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