Descrição de chapéu 6º Fórum A Saúde do Brasil

Ampliação da atenção básica pode revigorar sistema de saúde

Falta de médicos em áreas remotas e baixo interesse por especialização em medicina da família são desafios

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São Paulo

A atenção primária à saúde, abordagem que integra prevenção e tratamento, realizada principalmente por médicos da família e agentes comunitários, pode ajudar a tirar o sistema brasileiro do sufoco.

“Qualquer sistema de saúde no mundo, público ou privado, que não organiza a atenção primária está fadado ao fracasso”, afirmou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em palestra de abertura na 6ª edição do fórum A Saúde do Brasil, realizado pela Folha na segunda-feira (27), em São Paulo.

Mandetta citou a criação da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, que começa a funcionar hoje (31), como exemplo da prioridade que o governo dará à área.

Mesa de debate do 6º fórum A Saúde do Brasil, realizado na segunda-feira (27), no MIS, em São Paulo - Reinaldo Canato/Folhapress

“A reorganização do sistema de saúde vai partir da atenção primária. Em qualquer discussão sobre saúde brasileira, esse será o ponto inicial”, disse.

A nova secretaria será também responsável pelas políticas de saúde para populações vulneráveis, como crianças e idosos.

Para espalhar a atenção primária pelo país é preciso que mesmo as regiões mais remotas tenham estrutura de atendimento. Manter médicos em pequenas cidades afastadas dos grandes centros, porém, tem sido um dos maiores desafios.

O programa Mais Médicos, que não conta mais com profissionais cubanos, registrou 15% de desistência de médicos brasileiros em apenas três meses (entre dezembro de 2018 e março deste ano).

A baixa adesão à residência em medicina da família é outro problema no país. Dados do Ministério da Educação obtidos pela Folha no fim de 2018 mostraram que quase 70% das vagas estavam ociosas.

Ao ser questionado se programas de residência médica deveriam ter uma regulação que forçasse a procura pela área de família, João Alceu Amoroso Lima, presidente da FenaSaúde, rejeitou a possibilidade.

Disse, no entanto, que faculdades de medicina devem se adaptar a essa nova demanda de formação.

A incorporação da atenção primária é fundamental não apenas para o sistema público, mas também para o suplementar, concordaram os palestrantes do fórum.

“É a mudança da prática que trará o resultado dentro da perspectiva econômico-financeira, não a pressão financeira”, defendeu Claudio Lottenberg, presidente do UnitedHealth Group Brasil, multinacional controladora da Amil.

Lottenberg destacou que a atenção básica na saúde garante a resolução de problemas do paciente sem necessidade de atendimentos complementares.

O presidente da FenaSaúde concordou. “É preciso uma mudança de cultura, que consiste em fazer uma visita ao o médico da família antes de ir para o pronto-socorro”, disse Lima.

Reduzir internações potencialmente evitáveis é outro filtro que pode ser aplicado na contenção de gastos na área.

Na cidade de Belo Horizonte, a adoção da tecnologia DRG (grupo de diagnósticos relacionados, na sigla em inglês) por sete hospitais públicos reduziu o número de internações mensais de 2 mil para 1.700 desde que foi implementada, em agosto de 2017, segundo relatório do Grupo de Inovação em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde divulgado em maio deste ano.

Com a metodologia, pacientes hospitalares são classificados de acordo com a complexidade assistencial, ou seja, conforme tipos de diagnóstico e consumo de insumos médicos.

Para Renato Couto, co-fundador do DRG Brasil, empresa responsável pela implementação na capital mineira, é comum que, na dúvida entre internar e liberar o paciente, profissionais de saúde tendam a ficar com a primeira opção.

Couto ainda lembrou que, no Brasil, cirurgias de baixa complexidade raramente são feitas em ambulatórios, e acabam exigindo internações dispendiosas.

“O sistema de saúde tem solução, mas são necessários modelos de recompensa e de assistência que permitam isso”, disse.

“Os planos de saúde nunca tocaram na prevenção. As pessoas sempre viram seu plano de saúde como plano de doença”, afirmou o ministro Luiz Henrique Mandetta. 

Em termos de prevenção e redução de custos, a tecnologia pode ser grande aliada. “Se você consegue saber da condição de saúde ou qual tipo de doença que alguém tem probabilidade de desenvolver, é possível melhorar a eficiência do procedimento”, disse Fernanda De Negri, coordenadora do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Com o uso de dispositivos como relógios inteligentes e aplicativos de telefone, a tecnologia pode colaborar para que os pacientes fiquem mais engajados no cuidado com a saúde, segundo Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Como exemplo, Klajner citou um aplicativo criado pela instituição para que o paciente acompanhe sua vacinação e deixe ela em dia. “A falta de informação profilática fez com que a crise de sarampo tenha ameaçado seu retorno”, disse.

Os debates do fórum foram acompanhados por 200 pessoas no auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo e tiveram a mediação das jornalistas da Folha Cláudia Collucci e Mariana Versolato.

O evento foi patrocinado pela Associação das Administradoras de Benefícios (Anab), pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

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