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Economia da Arte

Assim como a indústria, Chico Buarque gera emprego e renda para o país

Cidades como Nova York, Londres e Hong Kong investem no impacto financeiro da cultura

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Foto de Chico Buarque contida no livro "Revela-te, Chico - Uma Fotobiografia", organizado por Augusto Lins Soares
Foto de Chico Buarque contida no livro "Revela-te, Chico - Uma Fotobiografia", organizado por Augusto Lins Soares - Reprodução

​Tudo bem, o bolsonarista (esse tipo emergente da Barra da Tijuca e do Rio das Pedras) tem ódio de Chico Buarque —e dos artistas em geral. Propaga que os artistas “mamam nas tetas do governo”. E que vivem de forma nababesca.

Mas eu nunca vi um bolsonarista dando um bico em um carro da Volkswagen ou da Ford. Ou cuspindo um pepino (aqui relevo os perdigotos ferozes de Olavo de Carvalho).

Qual a relação entre uma abobrinha e uma mostra na Pinacoteca de São Paulo? Nos dois casos podem existir subsídios diretos ou indiretos. Portanto, se for um êmulo revoltado do Carluxo, prepare-se para também dar uma joelhada no Ford Ka.

Os governos desde sempre escolhem setores para receberem isenções, subsídios ou apoio financeiro. É uma visão estratégica de impulso à competitividade e geração de emprego. Os franceses, ainda hoje, subsidiam seus agricultores. A ideia é que seus produtos ajudam a manter empregos no campo e a controlar o preço de alimentos.

O Brasil do PT, entre outros, subsidiou fartamente a indústria automobilística. A justificativa era manter em pé a cadeia de empregos da indústria do carro. (Curiosamente nunca explicaram aos petistas que ela caminha para prescindir de operários…).

Ao odiar e achincalhar a produção artística, Bolsonaro caminha no tempo pré-industrial. Não percebe a cadeia de empregos gerada pela cultura —sim, Carluxo, um Chico Buarque ou Wagner Moura, diretamente ou não, geram mais empregos que o Flavio Queiroz. Durma com essa.

Como exemplo recente, vamos falar de Nova York —à qual Jair tem medo de ir. Há um mês a cidade ganhou o redivivo Hudson Yards, uma área renovada no West Side, com um investimento de US$ 25 bilhões. São várias torres comerciais e residenciais. Mais uma escultura —Vessel— e um centro de artes —Shed. Em troca de isenção de impostos, a municipalidade ficará com cerca de 1.400 apartamentos a serem destinados para moradores de baixa renda.

Só isso? Não. Estima-se que a nova região, antes cheia de galpões decrépitos, gere cerca de 55 mil novos empregos. O cálculo de impostos retornados à cidade é de alguns bilhões de dólares por ano.

Tanto o Vessel, que cobra ingressos para oferecer uma vista do rio Hudson, e o Shed, com sua estrutura móvel, são a cereja do Hudson Yards. Semana passada, o Shed hospedou espetáculo de Steve Reich. Nestes dias recebe a encantadora Björk. Só os dois eventos movimentam milhares de dólares. A cidade subsidiou suas presenças. Em vez de ganhar dinheiro com indústrias velhas que poluem, Nova York, Londres ou Hong Kong lutam para ser centros de serviços —e as atrações culturais coroam o processo.

Os britânicos já há uma década trabalham com o conceito de economia criativa. Sabem o impacto financeiro de um espetáculo dos Stones em Londres num fim de semana. Por que a rainha condecora McCartney ou Elton John com títulos de Sir? Porque ambos empregam tanto ou mais que muitas indústrias. Eles não rasgam dinheiro.

Miguel de Almeida

Escritor e diretor dos documentários 'Não Estávamos Ali para Fazer Amigos' e 'Tunga, o Esquecimento das Paixões', é autor de 'Primavera nos Dentes' (ed. Três Estrelas)

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