Internet das coisas e inovação pautam cursos de pós mais procurados

Economia compartilhada e indústria 4.0 obrigam busca constante por atualização

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Lisandra Matias
São Paulo

​​A revolução digital, com seus impactos e oportunidades, aquece a demanda e a oferta de pós-graduação relacionada ao tripé tecnologia, gestão e inovação. Cursos que tratam de internet das coisas, analytics, big data e quarta revolução industrial (manufatura 4.0) estão em alta. 

Profissionais e empresas querem entender a sociedade em rede e de economia compartilhada e a “servitização”, transição da produção de bens para soluções e serviços.

Precisam dessa compreensão para saber “se posicionar e competir nesse cenário”, diz Leandro José Morilhas, professor dos cursos de MBA e mestrado profissional da Fundação Instituto de Administração e diretor-executivo e de afiliações da Anamba (Associação Nacional de MBAs).

Isso vale para profissionais e empreendedores de qualquer ramo, que precisam transformar dados em oportunidades de negócios e em informações para a tomada de decisões. 

“Isso sem falar na força do e-commerce e da relação do consumidor ou usuário com a marca na esfera digital. Sem tecnologia, fica difícil enxergar o futuro”, afirma Guilherme Pereira, diretor da pós-graduação da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), parceira da Singularity University, na Califórnia (EUA), instituição reconhecida por seu caráter inovador.

Para atender essa demanda, entram em cena desde cursos mais generalistas, centrados em gestão e negócios, como big data e business analytcs, negócios digitais, marketing digital e marketing analytcs, até os direcionados para uma área específica, como direito digital, gestão da comunicação e mídias digitais, tecnologias na aprendizagem e tecnologia em saúde.

“Na turma do curso de business analytcs e big data, há pessoas das áreas de TI (tecnologia da informação), finanças, marketing e até médicos”, conta Elsa Cuesta Gutierrez, responsável pelo Núcleo de Admissão e Matrículas da FGV (Fundação Getulio Vargas) Educação Executiva, de São Paulo.

Na área de tecnologia propriamente, pós em ciência de dados, inteligência artificial, machine learning, quarta revolução industrial (manufatura 4.0) e segurança de dados têm sido muito valorizadas.

De acordo com Pereira, dois novos cursos da Fiap, oferecidos pela primeira vez neste ano, tiveram grande procura: business agility, voltado para gestores, que capacita o profissional a desenvolver soluções ágeis num mundo em constante transformação, e blockchain (tecnologia que usa a descentralização de dados para aumentar a segurança), destinado a profissionais de TI, que muitas empresas já estão considerando a nova revolução da internet.

O empreendedor Vitor Pompei, 22, com MBA em business inovation, no espaço de coworking da Fiap
O empreendedor Vitor Pompei, 22, com MBA em business inovation, no espaço de coworking da Fiap - Zanone Fraissat

Como a transformação digital abre oportunidade para empreender, programas que têm foco no tema também são tendência. 

Formado em design, Vitor Pompei, 22, começou a empreender ainda durante a faculdade e já cursou uma especialização em empreendedorismo na USP (Universidade de São Paulo) e um MBA em business inovation na Fiap, que concluiu em abril de 2019. 

Há um ano, criou a startup Founding, plataforma que conecta especialistas em tecnologia e empresas que procuram por esses serviços. Diretor da empresa, ele atua como consultor estratégico em negócios que passam por processo de transformação digital.

“O curso me preparou para estruturar, prever e construir empresas que consigam se sustentar de acordo com o mercado dos próximos anos.”

Sustentabilidade é outra temática emergente, segundo Rodrigo Vianna, presidente da Mappit, consultoria do Grupo Talenses especializada em recrutamento de profissionais em início de carreira.

As empresas estão sendo mais monitoradas por diversos agentes, como por exemplo governo, consumidores e investidores, que cobram práticas sustentáveis e postura transparente e ética. “Elas procuram profissionais com conhecimento nessa questão para fazer a interlocução com todos esses atores”, diz Morilhas, da Anamba.

Assim como o desenvolvimento tecnológico, outras transformações do mundo atual também aquecem determinados setores e abrem campos de trabalho e estudo. 

“O envelhecimento da população e o aumento do número de idosos demandam, entre outros, especialistas em gerontologia, cuidados paliativos e saúde pública”, afirma Ana Carolina Bhering, que é coordenadora de desenvolvimento da área de saúde do Senac São Paulo. 

Outro exemplo vem do setor agrário. “O vigor do agronegócio brasileiro eleva a busca por pós-graduados em áreas como gestão de agronegócio, controle biológico e melhoramento genético”, afirma Pedro Valentim Marques, professor da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo).

Nessa linha, Silas Guerriero, pró-reitor de Educação Continuada da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), destaca o curso de gestão de projetos sociais em organizações do terceiro setor. 

“Ele acompanha a tendência de profissionalização de pessoas que atuam em organizações da sociedade civil, tão importantes nos tempos atuais, e trabalha com temas transversais, como gestão de pessoas e de recursos, legislação, captação de recursos, marketing e responsabilidade social”, conta.

A interdisciplinaridade e a transversalidade dos conhecimentos também tem sido uma tendência importante na pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), de acordo com Márcio Alves da Fonseca, pró-reitor de pós-graduação da PUC-SP.

“Existe a necessidade de investigações científicas que respondam às realidades complexas atuais, como as interações entre as tecnologias e a vida social e os problemas vinculados aos deslocamentos humanos”, diz.

Pós multidisciplinar trata dos distúrbios do desenvolvimento

Na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o programa de pós-graduação em distúrbios do desenvolvimento aborda, em perspectiva interdisciplinar, diversos aspectos de modo integrado —psicológicos, educacionais, relacionados à saúde, bioquímicos, neurocomportamentais e sociais. 

“A diversidade de formações do corpo docente é uma das premissas que contribuem com o exercício da interdisciplinaridade como método para a produção de conhecimentos na área do desenvolvimento e seus transtornos. Trata-se de um fenômeno de elevada complexidade que demanda diferentes saberes disciplinares interconectados”, diz Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, coordenadora geral da pós-graduação stricto sensu.

Áreas aquecidas

Administração e gestão 
Big data, business analytics;negócios digitais, marketing digital; empreendedorismo; sustentabilidade

Agrárias e biológicas 
Gestão do agronegócio; controle biológico e melhoramento genético; segurança alimentar; desenvolvimento sustentável, gestão ambiental

Ciências sociais e humanas 
Metodologias ativas, tecnologias na aprendizagem; educação socioemocional; inclusão e diversidade; gestão em organizações do terceiro setor 

Direito 
Direito digital e novas tecnologias; direito previdenciário; direito do trabalho; direito empresarial; direito processual

Engenharia e exatas 
Ciência de dados; segurança da informação; indústria 4.0, automação; inteligência artificial, machine learning; blockchain; engenharia automotiva; logística

Saúde
Gerontologia, cuidados paliativos, saúde pública; urgência e emergência, saúde da família, enfermagem em UTI; gestão de serviços; qualidade hospitalar, segurança do paciente

Fontes: Senac São Paulo, Fiap, Unesp Franca, Anamba, PUC-SP, Esalq-USP, FEI

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