Atrair talentos voltados para inovar é desafio para empresas

Faltam estudantes de ciência da computação e sobram bacharéis de direito no país, diz professor

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São Paulo

Para que as empresas tenham um bom desempenho em um ambiente de inovação constante, como o que demanda o mercado atual, é essencial que os funcionários trabalhem com uma mentalidade voltada para a disrupção.

Atrair talentos com essa capacidade, no entanto, é um desafio para as companhias brasileiras, de acordo com os participantes do 3º seminário Inovação no Brasil, realizado pela Folha, em São Paulo, na quarta-feira (28).

Rodrigo Brito (esq.), gerente de acesso à água do Instituto Coca-Cola Brasil, Bernardo Gallina, vice-presidente da Whirlpool Latin America, Alexandre Baldy, secretário de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo e a jornalista da Folha, Érica Fraga, durante o seminário
Rodrigo Brito (esq.), gerente de acesso à água do Instituto Coca-Cola Brasil, Bernardo Gallina, vice-presidente da Whirlpool Latin America, Alexandre Baldy, secretário de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo e a jornalista da Folha, Érica Fraga, durante o seminário - Keiny Andrade/Folhapress

O contato com a universidade é um dos principais meios para conseguir esses talentos, segundo Bernardo Gallina, vice-presidente da Whirlpool, empresa que é dona de marcas como Consul e Brastemp no Brasil.
“Formamos pouquíssimos especialistas em tecnologia da informação, por exemplo. Hoje, já falta gente para algumas funções”, disse.

“Devido à crise brasileira não sentimos ainda esse impacto tão forte, mas, com o fim da recessão, o volume de produção e o nível de inovação devem aumentar e, assim, vai faltar mão de obra especializada”, completou.

Para Ricardo Kahn, professor de inovação, empreendedorismo e engajamento de startups da Fundação Vanzolini, a transformação digital implica não apenas investimento e modernização de equipamentos, mas também a formação de diversas  competências em recursos humanos. “É preciso preparar os profissionais para conseguirem lidar com isso.”

Pierre Lucena, presidente do Porto Digital e professor de finanças da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), defendeu a possibilidade de o Estado induzir os estudantes a procurarem as carreiras em ciência e tecnologia.

“São Paulo tem menos alunos de ciência da computação no estado inteiro do que tem alunos de direito apenas em uma faculdade. Temos mais de 4 milhões de bacharéis em direito no país, mas ninguém duvida que a área do futuro é a da tecnologia”, afirmou.

O Porto Digital, no centro histórico de Recife, é um parque tecnológico onde hoje trabalham 10 mil pessoas. O desenvolvimento de softwares é uma das principais operações ali. Lucena conta que a instituição nasceu em 2000 para gerar uma demanda local para esses profissionais.

“Já formávamos muitos cientistas de computação e tínhamos bons profissionais no estado, mas as pessoas saíam de Recife para encontrar emprego. Criamos o Porto para que os recém-formados pudessem trabalhar”, disse.

As mudanças na dinâmica do mercado de trabalho também afetaram a captação desses talentos. De acordo com Gallina, muitos desses profissionais não querem mais ter emprego fixo em uma empresa. A saída veio na forma de parcerias temporárias, focadas em projetos para resolver problemas pontuais.

Outras empresas, como a Coca-Cola Brasil, procuram parcerias com empresas e startups que tenham atuação nas áreas em que precisam de reforço. “Buscamos atuar com quem já é referência dentro daquele ambiente”, afirmou Rodrigo Brito, gerente de acesso à água do Instituto Coca-Cola Brasil. A empresa também conta com uma incubadora para turbinar novas ideias de negócio.

No setor público, os desafios para reter talentos são maiores do que no setor privado, segundo Alexandre Baldy, secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo.

“A remuneração é, geralmente, pouco atrativa e os riscos são elevados. Os trabalhadores que decidem atuar nessa área lidam com situações adversas constantemente. Há o medo de assinar algo e depois ser processado. Precisamos profissionalizar o setor público se quisermos atrair mais pessoas capacitadas”, disse o secretário.

Para que as empresas incorporem um ambiente de inovação, é preciso também aprender a tolerar as falhas que podem acontecer no caminho, alertou Ricardo Kahn, da Fundação Vanzolini.

“Chegam profissionais jovens e inspirados nas empresas, mas a inovação está sujeita a falhas. Isso é natural. Se começar a castigar esse trabalhador por ele não ter tido sucesso em seu projeto, ele vai ousar cada vez menos”, disse Kahn.

“Ter tolerância é um dos elementos-chave para alavancar a inovação”, completou.

Colaboraram Guilherme Botacini e Eduardo Sombini

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