Cursos livres e rápidos tentam suprir déficit de trabalhadores especializados na área digital

Empresas começam a mudar pré-requisitos para contratação; algumas já dispensam diploma universitário

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São Paulo

O setor de tecnologia teve saldo positivo de 59.153 mil vagas no Brasil em 2020, ano de pandemia e de queda de 4,1% no PIB.

O número é da Brasscom, associação do setor, e vai ao encontro de um estudo divulgado pela entidade em 2019, que previa 420 mil vagas na área em seis anos.

Há, entretanto, déficit de profissionais no mercado, o que aumenta a importância de cursos livres, de curta e média duração, para que trabalhadores de outras áreas tenham imersão em tecnologia e busquem essas vagas, mesmo sem formação superior.

A designer Rafaela Paludo, 30, de Porto Alegre, que conseguiu aumentar seu salário após curso livre de UX (experiência do usuário)
A designer Rafaela Paludo, 30, de Porto Alegre, que conseguiu aumentar seu salário após curso livre de UX (experiência do usuário) - Marlene Bargamo/Folhapress

“Estamos passando por um período de transição acelerada no sentido da adoção desse tipo de curso como pré-requisito para entrada no mercado de trabalho”, diz Sérgio Paulo Gallindo, presidente da Brasscom. “A gente fala, no estudo de 2019, que as empresas no futuro deveriam tirar das buscas os requisitos de curso superior e inglês fluente, e agora isso está acontecendo, porque a procura por esses profissionais é muito grande”.

Assim, pulularam nos últimos anos escolas especializadas na oferta remota desse tipo de formação. Uma delas é a Escola Britânica de Artes Criativas e Tecnologia (Ebac Online), que abriu o primeiro de seus cursos online de tecnologia em julho passado. Hoje tem 55 opções nas áreas de programação, designer de UX (experiência do usuário), ciência de dados e games, entre outras. Todos assíncronos e com feedbacks de profissionais da casa.

”Esse tipo de educação é fundamental para termos a mão de obra necessária na área digital e também para dar às pessoas um caminho de realização e ascensão social. As ferramentas para tal não são necessariamente as universidades, que seguirão tendo sua importância”, diz o argentino Rafael Steinhauser, fundador da escola.

Nos seus 11 meses de existência, a escola já atraiu cerca de 10 mil alunos buscando qualificação em tecnologia.

Uma delas foi Rafaela Paludo, 30, de Porto Alegre (RS). Formada em design gráfico, trabalhava desde 2014 na área e, no início de 2020, buscou aprender sobre experiência do usuário (UX).

Enquanto fazia o curso, que durou cerca de um ano, trocou de emprego da antiga para a nova área e, após finalizá-lo, mudou de trabalho mais uma vez. Hoje, trabalha com UX numa empresa de hospedagem de dados.

“Terminei o curso na metade de março, em abril aconteceu a minha última troca de emprego. Para mim, financeiramente, valeu muito a pena. Hoje, eu ganho quase o triplo do que ganhava como designer gráfica”, afirma ela.

Rafaela conta que comprou o curso por meio de uma tarifa promocional. Gastou cerca de R$ 1.700.
Esse tipo de capacitação também pode ser um caminho não só para formados que querem mudar de área, mas também para quem não tem qualquer formação universitária.

A Alura, plataforma que existe desde 2013, dobrou de tamanho no ano passado. Oferece 1.300 cursos, a maioria esmagadora em áreas de tecnologia. Adriano Almeida, sócio da plataforma, conta que, por exemplo, ele emprega na própria Alura um ex-serralheiro convertido em programador.

“Tem havido uma mudança importante no mercado. É claro que a graduação ainda é importante, mas hoje ela é menos exigida. Outra mudança que noto é que tem havido mais espaço para profissionais júnior, com pouca experiência”, afirma.

Segundo ele, algumas empresas de tecnologia contratam o empregado e, antes de o colocarem de fato para trabalhar, dão treinamento.

“Tem muita gente que quer e precisa de oportunidades, mas é necessário dar esse tempo de maturação”, diz.

Para ter acesso a todos os cursos da Alura, o aluno precisa pagar uma anuidade de cerca de R$ 1.200.
Diretor de marca da Mentorama, escola que nasceu no ano passado e oferece 43 cursos em tecnologia, Luis Tauffer diz que a busca por esse tipo de profissional no Brasil é tão grande que as empresas procuram as escolas para tentar suprir a demanda.

“O mercado absorve muito bem quem se qualifica com cursos livres em tecnologia. Há empresas desesperadas por talentos. Elas vêm até nós pedir alunos”, afirma. A Mentorama tem cerca de 5 mil estudantes.

Luana Castro, gerente sênior da divisão de tecnologia da recrutadora Pagegroup, diz que a tendência de dar menos importância ao diploma em algumas áreas de fato existe, mas não é algo consolidado.

“Ainda não é a maioria das empresas que aceitam, mas essa flexibilidade deve crescer no futuro. Há cinco anos, isso era impossível. Sem ensino superior, nem ia para o RH”, diz. Ela afirma ainda que, embora as habilidades que não dependam de uma comprovação por diploma se valorizem cada vez mais, numa situação hipotética de dois profissionais com capacidades parecidas, um com e outro sem curso superior, o primeiro ainda leva vantagem.

“Mas o estudo contínuo também é muito importante. Se fez uma ótima faculdade e não continuou se capacitando, parou no tempo”.

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