Mulher atacada por uma raposa fica 34 dias no hospital e não sobrevive

Maria de Sousa Neta morreu de raiva humana no sertão da Paraíba, em abril de 2020

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Aline Martins
João Pessoa

A aposentada Maria de Sousa Neta, 67, a mais velha de nove irmãos, morreu após passar 34 dias internada, com diagnóstico de raiva humana, em um hospital público de João Pessoa, na Paraíba.

Para a família, a morte poderia ter sido evitada caso o médico, que prestou o primeiro atendimento após Maria ter sido mordida por uma raposa, tivesse aplicado vacina e soro.

O caso aconteceu em abril de 2020. Maria retornava para casa, no sítio Craúnas, no município de Riacho dos Cavalos, sertão da Paraíba, quando foi atacada por uma raposa.

O agricultor Francisco Emídio de Sousa, 49, contou que a irmã até tentou se defender do animal, mas acabou sofrendo uma mordida, teve um dos dedos das mãos arrancado e ficou com vários arranhões.
Para a família, o médico da unidade mista de saúde teria garantido que “não existia mais vacina”.

Maria de Sousa Neta, vítima de raiva humana
Maria de Sousa Neta, 67, que morreu de raiva humana, após ser atacada por uma raposa em Riacho dos Cavalos, sertão da Paraíba, em abril de 2020 - Arquivo Pessoal

“Ele disse: ‘Vou medicar ela que é a mesma coisa e vai resolver’. Colocou para tomar soro e falou que queria vê-la depois de dez dias”, conta o irmão.

Após esse período, a aposentada retornou e ouviu que estava curada. Porém, 62 dias depois, em junho, Maria apresentou sintomas como desorientação, dificuldades de deglutição e agitação psicomotora.
A família não suspeitava de que se tratava de raiva humana. Eles retornaram ao posto de saúde, e, então, o mesmo médico sugeriu que fossem a um hospital na cidade vizinha.

Ao informar o que tinha ocorrido com a irmã, outro médico suspeitou da doença e decidiu encaminhá-la para o Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa. Ao chegar na unidade, Maria foi imediatamente para a UTI.

“Ela não aguentava ficar deitada na ambulância. Fomos de moto, e a ambulância acompanhando atrás”, afirma Francisco. A irmã morreu 34 dias depois.

“Nós ficamos arrasados com a morte dela, principalmente do jeito que foi. O médico matou minha irmã. Disse que não tinha vacina. Depois eu soube que na cidade vizinha tinha. Se ele não quisesse usar o carro da prefeitura, era só dizer onde tinha que a gente levava”, diz o agricultor.

Maria vivia da aposentadoria e criava animais (carneiro e bode). Não tinha filhos nem era casada.

À Folha, o médico Paulo César Araújo negou que tenha dito que não existia vacina e afirmou que, quando a paciente foi atendida, já havia passado o intervalo de tempo adequado para fazer uma intervenção. “Eu fiz os cuidados básicos e prescrevi uma medicação injetável [seriam antibióticos]”, diz.

De acordo com o médico, há dificuldade para encaminhar pacientes para soroterapia porque é necessário que eles se desloquem para cidades maiores.

“Eu fiz o primeiro atendimento e orientei sobre esse assunto. A gente sabia do problema das vacinas que a gente tem na nossa regional, mas, quando eu atendi na unidade mista, deixei a critério da unidade de saúde a qual ela pertencia”, afirma.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.