Economia circular viabiliza novos negócios sustentáveis

Modelo gera retorno financeiro com transformação de resíduos em produtos

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São Paulo

Implementar a economia circular, conceito em que os resíduos da produção viram matéria-prima para outros itens, resulta em processos mais sustentáveis e traz benefícios financeiros para as empresas, que podem estruturar novos negócios a partir do que seria descartado.

As vantagens e os caminhos para adoção da economia circular foram abordados pelos debatedores do primeiro painel do seminário Meio Ambiente, promovido pela Folha na última terça (7), com patrocínio da Ambipar e da JBS. O evento foi mediado por Ana Carolina Amaral, repórter de meio ambiente e autora do blog Ambiência, da Folha.

Na JBS, um dos negócios criados para reduzir o impacto ambiental é a Campo Forte. Operando desde março de 2022, a iniciativa transforma 25% dos resíduos orgânicos gerados na produção em fertilizantes agrícolas, em um sistema "do berço ao berço" —ou seja, quando o resquício deixa de ser descartado e dá origem a outro ciclo.

Foto do auditório da Folha; no palco, está Ana Carolina Amaral mediando o evento
Na tela, os palestrantes Aldo Ometto (USP São Carlos), Rafael Tello (Ambipar) e Susana Carvalho (JBS); evento foi mediado por Ana Carolina Amaral, autora do blog Ambiência, da Folha - Jardiel Carvalho/Folhapress

Assim, o formato também traz retorno financeiro, já que a organização passa a atuar num setor no qual o Brasil ainda é dependente do mercado externo, afirma Susana Carvalho, diretora-executiva da Campo Forte. Segundo a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), o país importou 85% dos fertilizantes que usou em 2021.

"O processo produtivo e o modo de vida da humanidade extraem mais recursos do que o planeta consegue gerar. Se não mudarmos o modelo atual, de economia linear para circular, as consequências serão drásticas", diz Carvalho.

A evolução desse novo sistema está aliada ao avanço da discussão sobre sustentabilidade nas instituições, afirma Aldo Ometto, professor da Escola de Engenharia da USP São Carlos e líder do Centro de Pesquisa em Economia Circular junto ao Inova USP.

"Hoje, os modelos de negócios são trabalhados de forma mais ampla. Não são só voltados à relação entre empresa e consumidor, mas à rede de valor diversificada que a economia circular consegue oferecer para trazer inovações."


Assista ao seminário:


Até que surgissem soluções rentáveis, os resíduos foram vistos, entre as décadas de 1970 e 1990, como problema a ser manejado e, depois, como desperdício que poderia ser evitado com técnicas que gerassem menos resquícios, explica Ometto.

A necessidade de acompanhar a cadeia do início ao fim, ou seja, desde a obtenção da matéria-prima até o pós-uso do produto, foi percebida a partir dos anos 2000.

O formato linear —que começa na extração de recursos e termina no descarte, sem que o ciclo seja fechado com o reaproveitamento— é prejudicial para a competitividade, diz Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar, empresa de gestão ambiental. Quando um negócio demonstra que é capaz de reintroduzir os resíduos na produção, ele agrega mais valor.

"Temos novas gerações chegando com outras visões e propósitos orientando suas decisões. Cada vez mais, elas vão cobrar das empresas produtos e serviços que contribuam com uma sociedade mais próspera e justa. Não vamos precisar educar o consumidor, mas entender as tendências e alinhar objetivos e estratégias a isso para sermos competitivos ao longo do século."

Na Ambipar, outro ponto importante na transição para a economia circular são as parcerias que ampliam o impacto para o âmbito social.

Um exemplo é a união com a Boomera, startup que analisa formas de desenvolver produtos a partir de resíduos. O material recebido pela empresa é recolhido por cooperativas, o que também contribui para a geração de empregos.

Para o professor Ometto, da USP São Carlos, é fundamental estabelecer parcerias para adotar a economia circular. "Quando falamos de novos modelos de negócios, estamos falando da inovação do século 21, com atores que não faziam parte da cadeia de produção tradicional antes. Os atores de outras cadeias fazem parte de uma rede maior, de um ecossistema de negócio mais amplo."

Hoje, segundo Tello, a Ambipar tem 20 patentes de produtos elaborados com resíduos. Um deles é o Ecosolo, insumo para agricultura que ajuda o solo a reter mais água e intensifica a captura de carbono, o que ajuda a combater os gases de efeito estufa.

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