Eficiência energética esbarra em falta de ação do governo

Seminário da Folha discutiu falta de política públicas para o tema no país

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Belo Horizonte

A falta de políticas públicas é o principal entrave para o aumento dos índices de eficiência energética no Brasil, segundo os participantes da 2ª edição do seminário Meio ambiente, organizado pela Folha na terça-feira (7). Para os especialistas, o governo Jair Bolsonaro se ausentou do tema em discussões internacionais, o que afastou o Brasil ainda mais do protagonismo global no setor.

Participaram do evento Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC (Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU); Robson Casali, gerente de desenvolvimento de negócios de energia da Braskem; e Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica. O debate foi moderado pela repórter Ana Carolina Amaral e teve patrocínio da Ambipar e da JBS.

 Repórter de meio ambiente da Folha, Ana Carolina Amaral, media debate entre Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica; Paulo Artaxo, professor titular de física da USP; e Robson Casali, gerente de desenvolvimento de negócios de energia da Braskem
Folha realiza webinário sobre eficiência energética no Brasil - Jardiel Carvalho - 7.jun.22/Folhapress

De acordo com Elbia, a discussão sobre transição energética acelerou nos últimos três anos, com a entrada do setor privado no debate. Para ela, falta ao governo brasileiro "visão estratégica dos recursos do país", além de tratar a transição energética como um potencial negócio financeiro.

Hoje, cerca de 80% da energia elétrica produzida no Brasil vem de fontes renováveis, sendo 60% de hidrelétricas. Os recentes períodos de seca no país, porém, ameaçam o equilíbrio sustentável da matriz elétrica brasileira. No ano passado, por exemplo, o governo contratou usinas térmicas para reforçar a produção de energia das hidrelétricas entre 2022 e 2025.

A média mundial de fontes renováveis para gerar energia elétrica é de cerca de 30%.

Por outro lado, o Brasil tem índices de eficiência energética abaixo do resto do globo. O termo se refere à capacidade de gerar a mesma quantidade de energia usando menos recursos naturais não sustentáveis.

Em 2018, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), apenas 8% da energia utilizada pela indústria brasileira era coberta por políticas obrigatórias de eficiência. A média mundial era de 38%.

Segundo Robson Casali, o pouco feito pela indústria é mérito do próprio setor. "Apesar de não haver programas que nos incentivem, a necessidade e a demanda pelo tema faz com que a indústria se mova na direção de buscar maior eficiência energética", diz.

Em 2011, o governo lançou o Plano Nacional de Eficiência Energética (Pnef), que previa reduzir em 10% o consumo de energia elétrica até 2030. Caso tivesse sucesso, o plano seria responsável pela economia de 106,6 mil gigawatt-hora (GWh) ao final do período estipulado –Itaipu nos últimos oito anos produziu 87 mil GWh, anualmente.

O plano, no entanto, ainda não foi implementado, segundo especialistas. Questionado, o Ministério de Minas e Energia afirmou que em 2021 o país conseguiu, proporcionalmente, os 5,8% anuais de economia propostos pelo Pnef. No ano passado, porém, o consumo de energia foi menor do que o estipulado para o período. A pasta não se manifestou sobre a falta de posicionamento internacional apontada pelos especialistas.

No ranking do Aceee (Conselho Americano para uma Economia de Energia Eficiente), que avalia a eficiência energética de 25 países, o Brasil ocupa a 19ª posição. O México, único outro país da América Latina no levantamento, é o 14º.

"Nenhum outro país está em uma região tropical, com alta incidência de radiação solar e alta taxa de ventilação como o Brasil. Por que não estamos aproveitando essas vantagens estratégicas e continuamos confiando num sistema de geração elétrica dependente da chuva?", questiona o professor Paulo Artaxo.

A participação das energias solar e eólica no setor foi de 2,6% e 12% em 2021, respectivamente. Dois anos antes, era de 1,5% e 9,1%. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Segundo Elbia, nos últimos anos, a instalação de energia eólica bateu recorde no país. Ela estima que a cada R$ 1 gasto no setor, o PIB brasileiro aumenta R$ 2,90. "A curva de crescimento da energia eólica e solar, porém, bate no limite da capacidade do mercado brasileiro. Temos um excesso de energia renovável e nós precisamos criar novos mercados", pondera.

O setor de transportes também prejudica os índices do país sobre o tema. Conforme a IEA, a eficiência média de combustível dos veículos de passeio é quase 24% menor no Brasil do que na União Europeia. As razões para isso, segundo a agência, passam pela falta de padrões obrigatórios de economia de combustível para carros e caminhões no país.

Artaxo acredita que essa lacuna pode ser preenchida com pesquisas sobre o uso do hidrogênio verde como substituto de combustíveis de avião e automóvel. Considerado o combustível do futuro, ele é produzido a partir da água, por meio de um processo térmico.

"As perspectivas do Brasil são excelentes, mas falta visão de Estado. O país precisa olhar para o restante do planeta e identificar suas vantagens estratégicas e aproveitá-las, diz.

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