Um dos primeiros estilistas brasileiros a lançar uma coleção 100% digital, Lucas Leão, 31, acredita que o futuro da moda está na fusão entre o mundo real e o virtual.
"Você usa um filtro quando está meio cansado e não tem tempo para passar uma maquiagem. Por que não usar uma roupa virtual em um evento online quando está meio desleixado?", diz.
A ideia de comercialização de peças para serem usadas no metaverso surgiu após a São Paulo Fashion Week de 2020.
Naquele ano, em plena pandemia, o principal evento de moda da América Latina aconteceu de forma remota, com a transmissão por meio de projeções, vídeos e lives. Leão inovou exibindo sua coleção inteira em filme 3D.
Em um cenário árido de deserto, avatares vestiam peças almofadadas ou de tecidos fluidos. A produção chamou a atenção do marketplace Shop2gether, que fechou contrato para vender a coleção digital criada por Leão.
Atualmente, no site há uma única peça 100% digital: o vestido Anêmona, disponível nas cores amarelo e azul, por R$150 —depois de comprar o item, o consumidor deve enviar uma foto sua para o site, que vai aplicar a roupa sobre a imagem.
Em 2021, após o burburinho causado pela comercialização das peças virtuais criadas no Brasil, mais uma vez o estilista testou caminhos na São Paulo Fashion Week.
Dessa vez, Leão criou o primeiro desfile em realidade aumentada realizado no formato "phygital" (expressão em inglês que vem da fusão das palavras físico e digital, relacionadas a experiências que unem os dois ambientes).
Os espectadores que viam o desfile —batizado de Erebus— ao vivo podiam apontar seus celulares para a apresentação. Na tela, as peças e o cenário ganhavam novos elementos.
"O que mais me fascina é a interação do físico com o digital. Hoje, eu vejo muita gente falando que quer participar do metaverso. Mas o grande lance é a união dos dois universos, essa hibridização", afirma Leão.
Outro lançamento do estilista que explorou a conexão entre os dois mundos foi uma camiseta branca que não tem nada de básica.
Na etiqueta da peça há um QR code que disponibiliza algumas estampas para os clientes fazerem uma personalização virtual.
Ou seja, as pessoas fazem fotos com a mesma camiseta, mas, ao usar filtros diferentes, terão quatro estampas para variar o produto —também disponível na Shop2gether por R$ 106,90.
Segundo o estilista, os maiores interessados em suas criações são pessoas que têm presença bastante ativa nas redes sociais.
"Nossos primeiros consumidores são influencers que usam as nossas peças em seus perfis. E, depois que eles postam, geralmente seus seguidores entram em contato querendo os mesmos itens."
A tecnologia também é uma forma de Leão ter uma confecção mais sustentável. Todo o projeto de modelagem e prototipagem das coleções é feito virtualmente. Os produtos só ganham uma versão física na etapa final do processo, economizando matéria-prima.
"É mais uma possibilidade de implementação de tecnologia pelas indústrias para reduzir os insumos", diz.
Para os seus primeiros experimentos, o estilista trabalhou em parceria com um escritório alemão. Hoje, o desenvolvimento tecnológico das confecções é feito por uma equipe de quatro pessoas —número que costuma crescer dependendo da demanda.
Atualmente, eles trabalham em um projeto para a Disney e no lançamento para a próxima coleção, que está prevista para outubro.
Para o próximo desfile, Leão promete uma experiência que vai superar o uso da tela dos smartphones.
"O celular já ficou ultrapassado. A gente acredita bastante nas experiências que misturam o mundo digital e o físico. Estamos trabalhando em um projeto que mexa com as nossas sensações e evolua para algo que conecte a outros gadgets, como óculos de realidade aumentada", diz.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.