Na Web 3.0, tecnologias como NFT dão autonomia a artistas

Com novas tecnologias, profissionais podem ampliar público e lucrar mais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

Se antes muitos artistas dependiam de um contrato com uma gravadora ou de uma exposição em uma galeria para ganhar visibilidade, hoje os caminhos para o sucesso se ampliaram com a ascensão da web 3.0.

O conceito faz referência ao surgimento de uma nova geração de serviço de internet, construída de forma descentralizada, com regras e acordos estabelecidos por redes de usuários —não por grandes empresas, como o Google ou a Meta, dona do Facebook e do Instagram.

Dois homens estão sentados em cadeiras. Atrás deles, há um telão que diz Web 3.0 e metaverso
Ricardo Laganaro, diretor de conteúdo da ARVORE Experiências Imersivas, e Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, durante seminário sobre metaverso e web 3.0 - Keiny Andrade/Folhapress

Nessa nova realidade virtual, artistas se veem com mais poder na hora de divulgar e comercializar suas obras. Esse é o caso da fotógrafa Lívia Elektra, uma das participantes do seminário Web 3.0 e Metaverso promovido pela Folha e pelo Itaú Cultural nos dias 4 e 5 de julho.

Segundo ela, sua carreira mudou de forma radical quando transformou suas obras em NFTs (tokens não fungíveis, na sigla em inglês).

"Tenho 19 anos de carreira, mas diria que esse um ano e meio de NFT valeu por 19 anos em relação a oportunidades que estou recebendo no mundo inteiro", afirma a artista, que no mês passado teve uma obra exibida na Times Square, em Nova York.

Um dos termos mais populares da web 3.0, NFT é um certificado que dá ao comprador de obras digitais, como imagens e memes, o atestado de que ele adquiriu uma versão autêntica do trabalho.

"É como se você tivesse ido a um museu e comprado a ‘Mona Lisa’. Você pode encontrar várias cópias pela internet, mas aquela ‘Mona Lisa’ é única", explica a fotógrafa.

Tanta exclusividade pode fazer com que esse certificado digital ultrapasse somas milionárias. Foi o que aconteceu em março do ano passado, quando a obra "Todos os Dias: Os Primeiros 5.000 Dias", do americano Beeple, foi vendida por US$ 69,3 milhões (cerca de R$ 387,5 milhões).

“Comecei a fazer NFT no começo do ano passado e me apaixonei não só por poder colocar meu trabalho para colecionadores do mundo inteiro, mas pelo fato de a comunidade em torno do NFT ser incrível”, Lívia Elektra

Lívia Elektra

fotógrafa

Lívia explica que essa tecnologia de fato compensa do ponto de vista financeiro. Na pandemia, ela teve alguns trabalhos cancelados e viu os cachês despencarem. "Tinha trabalho que as pessoas não queriam pagar R$ 400 na diária."

Desde que passou a trabalhar com NFT, ela conta que os valores dispararam e já teve fotografia vendida por US$ 22 mil (cerca de R$ 118,5 mil). "Hoje, não me vejo fazendo um tipo de arte que não esteja relacionada ao NFT."

Outro artista que enxerga com bons olhos a web 3.0 é Pedro Xavier, produtor musical da cantora Super Saffira. "O que tem de mais interessante nessa proposta é a descentralização do poder, o que faz com que a gente crie uma relação mais próxima dos fãs e dos espectadores."

Além disso, há o metaverso, termo que se refere a ambientes virtuais que simulam a realidade, tecnologia que já despertou o interesse de Mark Zuckerberg, presidente-executivo da Meta.

O diretor Ricardo Laganaro conhece de perto os benefícios e os desafios de trabalhar com realidade virtual. Em 2019, lançou o filme "A Linha", curta em que o espectador interage com a história para fazê-la caminhar. Essa inovação rendeu à obra um Emmy e um Leão no Festival de Veneza.

"Se eu tivesse feito um bom curta, mas na tela plana, talvez eu nem tivesse sido selecionado", diz ele, que é diretor de conteúdo da Arvore Experiências Imersivas.

O fato de ser uma linguagem nova cria atrativos, mas também impõe desafios. "É uma tecnologia que tem mais incertezas que certezas. A única coisa que a gente sabe é que precisa entender rápido para começar a dominar e se lançar nesse universo", diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, mediador do painel.

Laganaro faz coro à opinião de Saron e acrescenta que o custo dos óculos de realidade virtual é um dos entraves. Embora estejam diminuindo, os valores ainda são elevados.

Outra questão é a falta de ferramentas que eduquem quem está entrando no metaverso, evitando, por exemplo, a disseminação de preconceitos. "A gente está aprendendo como fazer curadoria e moderação. Precisamos de empresas que ajudem os criadores desses metaversos a criarem o ambiente que eles querem", afirma Laganaro.

Foi pensando nisso que o Itaú Cultural decidiu lançar um edital para apoiar dez projetos no metaverso que estejam em desenvolvimento, mas que ainda não tenham sido apresentados.

Imagem mostra desenho animado em que rapaz anda enquanto segura uma flor amarela
Simulação de como o público pode interagir com o curta "A Linha", do diretor Ricardo Laganaro - ARVORE Experiências Imersivas

As inscrições foram abertas na quarta-feira (6) e vão até o dia 26 deste mês. Os interessados podem se inscrever no site itaucultural.org.br. "Com isso, queremos entender quais temas as pessoas estão abordando no campo da arte e da cultura e quais linguagens estão incorporando ao metaverso", diz Saron.

Para ele, é preciso ter consciência sobre as incertezas desse novo universo, incluindo os parâmetros éticos e a fragilidade do acesso qualificado dos brasileiros.

"Esse é o primeiro passo para que os benefícios tecnológicos e científicos cheguem a todos, não permitindo que adicionemos mais uma camada à desigualdade no Brasil", afirma.


Veja o debate completo:

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.