Descrição de chapéu Saúde da Pele - 2ª edição

Diagnóstico precoce é chave para tratamento adequado de doença de pele

Dificuldade de consultar especialistas atrasa identificação e agrava condições

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São Paulo

O tratamento de doenças crônicas de pele avançou nas últimas décadas, mas o acesso dos pacientes é comprometido pela dificuldade de encontrar um especialista e diagnosticar a psoríase, a dermatite atópica e a hidradenite supurativa antes que os quadros se agravem.

As novas terapias para condições crônicas de pele e as barreiras para alcançá-las foram discutidas na segunda edição do seminário Saúde da Pele, promovido pela Folha na quinta (18). O evento foi mediado por Cláudia Collucci, repórter especial da Folha, e patrocinado pela AbbVie.

Essas três doenças crônicas de pele têm diagnóstico clínico na maioria dos casos, ou seja, são detectadas a partir da avaliação dos sintomas e do histórico pelo médico.

Cláudia Collucci, repórter especial da Folha, faz mediação de evento
Cláudia Collucci, repórter especial da Folha, faz mediação de evento - Jardiel Carvalho/Folhapress

Assim, segundo os palestrantes, a identificação e a intervenção podem ser tardias se o paciente não conseguir ir a consultas com especialistas.

É comum que, após consultas com generalistas e pediatras, a dermatite atópica seja tratada como um quadro inflamatório inespecífico e as prescrições sejam de medicamentos tópicos (para aplicação na pele) que apenas aliviam os sintomas, explica Ana Príscia Castro, alergista e imunologista pela USP (Universidade de São Paulo).

"É mais fácil encontrar um dermatologista nos grandes centros, mas muitas vezes a pessoa está em uma área isolada e mal tem acesso a um clínico geral, quiçá a um especialista. Isso dificulta o alcance de terapias que já estão aprovadas na rede pública e privada", afirma Ricardo Romiti, coordenador do ambulatório de psoríase do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Para Romiti, outro obstáculo para o acesso ao tratamento ideal é a desistência após décadas se consultando com diversos profissionais e seguindo repetidas indicações de pomadas, cremes e loções ineficazes para o quadro específico.

Se o paciente não chega a especialistas que identificam a doença e intervêm precocemente, ele passa a lidar com as lesões usando roupas compridas e aplicando hidratantes para minimizar a descamação da pele, por exemplo.


Assista ao evento completo:


Por serem doenças inflamatórias, no entanto, as consequências vão além da estética e impactam negativamente o organismo como um todo, explica o médico.

"Todo paciente precisa ter três perguntas esclarecidas: ‘Qual é o nome disso que eu tenho? O que precisa ser feito? Por que é importante fazer isso?’. Com essas questões respondidas, mitiga-se a confusão que se faz entre tratamentos e doenças, e o paciente terá ferramentas para participar da decisão terapêutica", diz o dermatologista Gleison Duarte, doutor em ciências da saúde pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em imunodermatologia pelo Centro Hospitalar de Lyon, na França.

Sem tratamento, a psoríase —que costuma se manifestar com placas avermelhadas e descamativas na pele— pode evoluir para artrite psoriásica, que provoca dor nas articulações e pode levar à deformação dessas regiões.

Em quadros leves, o avanço pode ser evitado com cremes e xampus para regiões específicas, como cotovelos e couro cabeludo.

Já nos quadros com áreas mais extensas acometidas, o tratamento inclui banhos de luz chamados de fototerapia, medicamentos orais e imunobiológicos, afirma Romiti.

Já para a dermatite atópica —doença que provoca coceira, ressecamento e lesões profundas e pode estar associada a rinite, asma e alergias alimentares—, Duarte avalia que falta avançar na incorporação de terapias. Ele cita a ciclosporina, droga imunossupressora utilizada para controlar respostas alérgicas exageradas, que não é recomendada pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), embora seja necessária para alguns casos.

Outra consequência da dificuldade de encontrar um especialista, fazer o diagnóstico e receber o tratamento adequado em tempo hábil está nos impactos na saúde mental.

No dia a dia, pacientes de doenças crônicas de pele desenvolvem quadros de ansiedade e depressão ao notarem olhares atravessados e pessoas que se afastam devido às lesões em situações cotidianas, como usar transporte público.

"Não é raro ver crianças e adolescentes que não usam roupas curtas, não vão à praia e não vão à piscina mesmo no verão. Eles não têm vida social muito mais pelo receio de preconceito das pessoas, porque as lesões de pele podem ser parecidas com muitas outras doenças, até mesmo escabiose [sarna humana]", afirma Castro, alergista e imunologista.

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