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Serafina

Wilza Carla: senhora de sua própria fartura de carnes

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Wilza Carla sempre foi superlativa. Aos 13 anos, já tinha corpão de mulher curvilínea e brilhava como rainha do Carnaval do Rio. Logo tomou gosto pelos concursos de fantasias e foi mesmo uma das musas desse circuito por muitos anos.

Manteve o gosto pela indumentária de Carnaval mesmo décadas depois, quando atuava como jurada de programas de auditório, entre eles, o de Silvio Santos. Os cabelos espalhafatosos estavam sempre adornados com enfeites ainda mais chamativos, emoldurando o rosto supermaquiado.

Nessa época, Wilza já estava gorda. Não era uma gorda tímida ou desajeitada, mas senhora de sua própria fartura de carnes.

Os movimentos sensuais ela havia trazido da carreira de vedete do teatro de revista e das chanchadas, quando era a gostosa que enchia os olhos e os sonhos dos marmanjos. Durante os anos 70, no auge de sua gordura, Wilza migrou para o circuito das pornochanchadas.

Reprodução
Estilo e firmeza de Wilza Carla marcaram época e influenciaram gerações
Estilo e firmeza de Wilza Carla marcaram época e influenciaram gerações

Mais do que a gorducha sedutora e atrevida, a atriz era capaz de encarnar o próprio exagero que constitui o desejo sexual. Em entrevistas, já nos anos 80, ela dizia que adorava ir à praia de tanga e detonar com as magrinhas nas boates, confortável e sensual em todo o seu excesso.

O corpo, no entanto, não estava preparado para o espírito fellianiano de Wilza –ela adorava contar que se inspirava nas gordas comilonas, maternais e alegres dos filmes de Fellini, com quem quase chegou a filmar. Diabetes, problemas de locomoção e trombose jogaram areia no estilo "a vida enquanto banquete" da moça.

Por muitas vezes, foi obrigada a fazer regime, o que detestava. Era contra sua ideologia. Mesmo no final da vida, enfraquecida por uma série cruel de doenças e internações, dizia à filha que preferia morrer de barriga cheia.

Tinha espírito forte, essa Wilza. Nem todos compreendiam a verve outsider da atriz. Mas muitos se apaixonaram por ela. Não só os namorados, noivos e casinhos, mas também sua legião de imitadores. Comparada à travesti Divine, parceira e musa hardcore do cineasta trash-cult John Waters (de "Pink Flamingos" e "Female Trouble"), Wilza inspirou várias gerações de drags caricatas, entre elas, Kaká di Polly, figura icônica da noite paulistana.

Entre gays e travestis, assim como entre os seus amantes, sentia-se amada e compreendida: podia usar seus cílios postiços e seus looks absurdos na boa e não recebia olhares reprovadores por ter atuado em títulos como "As Eróticas Profissionais" (1977) ou "Um Sutien para o Papai" (1975). Porém, a morte encontrou Wilza empobrecida, abandonada pelos amigos e esquecida. Estava, inclusive, mais magra. Um desfecho melancólico para uma mulher tão vibrante.

Prefiro acreditar que, como Dona Redonda, sua mais famosa personagem (da novela "Saramandaia"), Wilza comeu os mais doces manjares até explodir, gloriosa, em pura fome de viver.

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