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Serafina

Louboutin corre o risco de perder monopólio da sola vermelha

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Eram quase 20h e o Sol se escondia na praia do Pego, a uma hora e meia de carro ao sul de Lisboa. Christian Louboutin, 47, acabara de posar para a foto abaixo.

Pediu uma pausa antes de fazer a entrevista por telefone, mas chamou seus assistentes. Não queria que ninguém perdesse o espetáculo do poente.

"É para esta casa [próxima ao centro do vilarejo de Carvalhal] que venho quando quero criar. A praia é um ótimo lugar para encontrar a si mesmo."

Seu império de sapatos de luxo está prestes a completar 20 anos, mas ele não pisa tão firme no momento. A marca Christian Louboutin vive um dos capítulos mais turbulentos de sua trajetória. Seus famosos (e caros) solados vermelhos, que adornam os pés de Madonna, Cate Blanchett e da primeira-dama francesa Carla Bruni, estão no centro de uma briga judicial milionária que pode fazer o designer francês perder os direitos sobre eles.

Leonardo Wen
O francês Christian Louboutin, na praia do Pego, próximo ao vilarejo de Carvalhal, em Portugal
O francês Christian Louboutin, na praia do Pego, próximo ao vilarejo de Carvalhal, em Portugal

Em abril deste ano, Louboutin processou a grife francesa Yves Saint Laurent e notificou a brasileira Carmen Steffens por usarem a cor vermelha nas solas de alguns sapatos de coleções recentes.

Desde o final de 1992, quando botou a cor nos solados em sua segunda coleção (inspirada na pop art), o designer percebeu a força dessa ideia e conseguiu registrar, em 2000, na França, e em 2008, nos EUA, a patente das solas vermelhas. Uma ideia simples e poderosa -de que outra forma uma grife de sapatos pode fazer sua marca ficar conhecida?

Tanto a Carmen Steffens quanto a Yves Saint Laurent alegam ser inconcebível alguém deter tal direito. O imbróglio envolvendo YSL foi travado na Justiça americana e terminou no mês passado. A decisão do juiz federal Victor Marrero foi por não tirar as peças das prateleiras e negar a indenização de US$ 1 milhão pedida à marca concorrente pelo "plágio".

"Meus solados vermelhos, além de serem registrados, fazem parte da minha história.São tão importantes para mim quanto para as minhas clientes, que me reconhecem por meio deles", afirma Louboutin, que não hesitou em recorrer da decisão. "Não é um 'martelo' final, isso ainda está em julgamento. Estão falando que perdi algo [referindo-se à patente], e é importante frisar que nada aqui está perdido", dispara.

Criado pela mãe e pelas três irmãs mais velhas, Christian cresceu num bairro operário de Paris. Sua paixão pelas mulheres nasceu em casa, mas foi reforçada na vida noturna da cidade no final dos anos 1970. Foi olhando para as dançarinas nas coxias dos teatros e das salas de música que fez escola. "Só pensava em criar sapatos para aquelas mulheres incríveis."

Até hoje ele, é encantado pela imagem de mulheres nos palcos. "Fico extasiado quando vejo uma artista em cena usando um par de sapatos criados por mim." De 1992, ano em que abriu sua primeira loja em Paris, para cá, ele viu seus saltos agulha nos calcanhares 
estrelados de Tina Turner, Beyoncé e Gwen Stefani.

Colecionador de parcerias com estilistas renomados, como Azzedine Alaïa e Diane von Furstenberg, uma das colaborações mais emblemáticas de sua carreira foi, ironicamente, a que firmou com Yves Saint Laurent. Em 2002, o costureiro francês morto em 2008 pediu pessoalmente que Louboutin criasse um sapato para a última coleção de alta-costura que assinou em vida.

"O senhor Saint Laurent foi o maior estilista da França, talvez até do mundo, e não olhava para o trabalho dos outros. Ele não colocaria um solado vermelho num de seus sapatos sem a minha permissão. Faria uma consulta antes, como fez naquela época, por ter respeito ao design e à inovação", diz.

VERMELHO DE RAIVA

Não é de hoje que Louboutin protege com mãos de ferro o seu legado. Em 2010, ele lançou na internet o projeto "Stop Fake Louboutin", espécie de polícia virtual que fareja sites que vendem falsificações dos seus sapatos. Por meio de uma rede internacional de contatos, o designer rastreou dezenas de endereços ilegais que comercializavam peças que levavam o seu nome e promoveu ações no mundo inteiro para destruí-las. Ao todo, foram encontrados mais de 8.000 pares de calçados "fakes".

"O combate à pirataria é um assunto atual e que deve ser discutido com seriedade. Além de causar danos ao criador, essa prática colabora com a exploração infantil. Nesse mercado, muitas crianças são submetidas ao trabalho escravo", afirma o designer.

Apesar de admitir que, "quando se é um líder, é inevitável que as pessoas se inspirem no seu trabalho", se o papo é cópia, Christian afia. "Odeio. É muito doloroso ver solados vermelhos e meus modelos copiados por outras grifes."

"Se você está disposto a ter uma marca, por que não ser criativo ou procurar outra coisa para fazer?", desafia.

FUTURO

Debruçado sobre croquis, esboços e recortes de revistas, Louboutin tenta não pensar muito sobre o futuro. Os próximos passos de sua grife estão bem-amarrados, e não são pouco ambiciosos. Planeja o lançamento de um livro comemorativo dos 20 anos da marca, e a próxima coleção de sua linha de calçados masculinos. Mas não adivinha o que está por vir.
"Me desculpe. Sou supersticioso, não quero falar sobre minhas expectativas para as próximas duas décadas enquanto as duas primeiras não estiverem completas. Gosto de estar cercado de energias positivas", explica-se. Daí a cor vermelha como marca registrada de seus solados. "Vermelho é a cor do amor, da paixão. Não tem significado negativo em nenhuma cultura", reflete.

Embora reconheça a existência de bons designers de sapatos em atividade, Christian Louboutin não aponta nomes de talento. "Não sou de olhar o trabalho dos outros. Você perguntou à pessoa errada." Não vai ser fácil assim fazê-lo descer do salto.

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