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Serafina

Grupo leva arte para a praia e celebra desorganização carioca

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Desde o Réveillon, foi fincada nas areias da praia do Arpoador a bandeira de um novo território: "Rio: Cidade Estado de Espírito". "Sem de Janeiro, que é para o resto", brinca Marcus Wagner, um dos idealizadores do delírio, com o artista plástico Ernesto Neto e o galerista Marcio Botner.

A fundação teve origem há 14 anos, quando essa turma resolveu pegar praia no Posto 9 e assar carne às sextas. O encontro foi virando uma instituição e por que não fazê-lo no dia 31 de dezembro? O churrasco se tornaria a festa mais divertida de toda a orla Ipanema-Leblon. A notícia correu e o "Réveillon do Neto" inchou. Em 2005, a prefeitura decidiu fazer uma festa no mesmo local. Resultado: eles migraram para a faixa estreita de areia do Arpoador, e todo mundo foi atrás.

O batismo do território simbólico veio de uma crônica de Vinicius de Moraes, em que o poeta escreve: "Ser carioca, mais que ter nascido no Rio, é ter aderido à cidade e só se sentir completamente em casa em meio à sua adorável desorganização". É este olhar generoso, atento ao valor do caos, que os cidadãos da "Cidade Estado de Espírito" compartilham.

Adriana Komura
Grupo leva arte para a praia e celebra desorganização carioca
Grupo leva arte para a praia e celebra desorganização carioca

Os habitantes do sítio poético têm passaporte, moeda própria –chamada tupi, cujas notas, que homenageiam artistas como Lygia Pape, são vendidas para colecionadores como forma de viabilizar os encontros artísticos– e brasão com golfinhos (animais que só nadam em águas limpas).

Para esses cariocas, a praia não deve ser pensada apenas como lugar de esporte e lazer, mas também de cultura. Daí nasceu o Alalaô, evento congregatório-celebrativo, que, em suas três edições, levou artistas como Ronald Duarte a fazer performances nas areias. A festa deu tão certo que singrou o Atlântico, desembarcando em Miami durante a última edição da feira Art Basel.

"A festa é o nosso manifesto", defende o primeiro-ministro do novo território. "O Marcus Wagner é um antropólogo em ação. Conhece e pensa a cidade como poucas pessoas", diz o ensaísta Francisco Bosco. "E o Neto é um artista pensador, para quem o Brasil não pode e nem deve ser uma Europa de segunda classe. Eles têm um modelo de cidade muito mais interessante do que o proposto pela prefeitura no choque de ordem. É o Rio deles que o mundo deseja, mas o governo insiste em coibir".

Em pauta nas areias da "Cidade Estado de Espírito" está a discussão sobre os royalties do petróleo. Mas, para esses cariocas, o foco é o impacto ambiental.

"O Rio tem uma natureza que não existe em lugar nenhum do mundo. É o cartão-postal do Brasil. Com uma tecnologia tão experimental de perfuração no pré-sal, a possibilidade de desastres ecológicos não é remota. Nós pensamos que a contrapartida do petróleo deveria ser o desenvolvimento do Rio de Janeiro como um modelo em uso de energia limpa para o mundo", diz Neto. Outros cariocas, de fato ou de espírito, esperam que a prefeitura lhes dê ouvidos.

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