Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

Artista francesa larga emprego na Chanel para inventar própria carreira

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Na primeira vez em que veio ao Brasil, em 2006, a artista francesa Nathalie Melot quebrou a cara. Literalmente. Jogava capoeira em Jericoacoara, no Ceará, quando levou uma joelhada no rosto, dada por um caolho chamado Pirata.

A capoeira, que conheceu exatamente no primeiro dia em que pisou no país, ela largou após ter quebrado também o pé, um ano depois. Mas do Brasil não conseguiu mais se esquivar.

Veio duas vezes em 2007, passou seis meses no Rio em 2008, voltou em 2009 e, no mesmo dia em que pegou o seu diploma em direção de arte, em Paris, tomou um Air France e desceu de vez para os trópicos, no inverno de 2010. Inverno daqui ou da França, "mademoiselle" Melot? "Do Brasil, ué, eu já sou daqui", expressa em bom português.

Nem sempre é fácil dizer de onde se é. A francesa, de 31 anos, começa a tratar desse tema de modo peculiar. "Sou 'made in Mauritânia', ainda que nunca tenha pisado lá", brinca. Era lá, no noroeste da África, que os pais, franceses, viviam até um mês antes do nascimento dela, em Paris. Mas foi na Guatemala, na América Central, para onde foi com um ano, que ela cresceu.

Antes de se radicar no Cosme Velho, o bairro de Machado de Assis, no Rio de Janeiro, Nathalie andou por um bocado de lugares, incluindo cinco anos em San Francisco, nos EUA, temporadas no México e muitas idas e vindas pela França.

Foi a MPB, nossa grande embaixatriz, que a fisgou. Tim Maia, Caetano Veloso, Marisa Monte e sobretudo os Novos Baianos, cuja canção "Mistério do Planeta" (1972) escutava como um mantra, a convidavam a conhecer o país.

Quase desistiu quando assistiu, em Paris, ao longa-metragem "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles. "Quanta brutalidade!", relembra. Mas bastou escutar outra vez, ou outra dúzia de vezes, "O Mistério do Planeta".

A trajetória profissional de Melot é multifacetada como suas nacionalidades, representadas no autorretrato feito especialmente para Serafina.

Nos EUA, ela chegou a ensaiar a vida de atleta, competindo como velocista nos 200 metros rasos e no salto em distância. Já na França, foi assistente trilíngue na marca francesa Agnès B., até que conseguiu um emprego na Chanel.

Na "maison" francesa, trabalhou em projetos de inovação, como o de uma embalagem para perfume que escurece conforme a luz ambiente ou o de uma bolsa feminina que, quando aberta, é iluminada para auxiliar a busca de batons.

Mas, após cinco anos na empresa de Coco Chanel, decidiu que era hora de se movimentar. Voltou à universidade, para estudar design gráfico e direção de arte, disciplinas nas quais se formou. E então o Brasil.

A arte de Nathalie Melot se desenvolve num circuito "off-Broadway". Não é afiliada a galerias, museus, grupos artísticos. Sua vitrine é a "rede mundial de computadores". Expõe seus retratos, filmes, ilustrações, performances, textos e mesmo trabalhos feitos por encomenda de clientes em sete redes sociais e, em especial, no site Nuambé.

NUVEM FLAMBADA

O nome de sua "galeria" virtual é um neologismo costurado por ela mesma. É uma contração de "nuage" (nuvem em francês) com "flambé" –técnica culinária de "aspergir alimento com bebida alcoólica que, em seguida, se queima" (obrigado, "Houaiss").

Nathalie explica que a ideia por trás das nuvens flambadas é representar "a união do sonho e da paixão, do elemento fluido do ar com a transformação do selvagem elemento fogo". Em outras palavras, nuambé é um "sonho transformador". Não à toa, suas obras lidam frequentemente com o conflito entre sonho e realidade.

Exemplo maior disso é o projeto "Dream On", que toma como divisa uma frase de Woody Allen, do filme "O Sonho de Cassandra" (2007): "It's funny how life has a life of its own" (É engraçado como a vida tem sua própria vida).

Nathalie Melot
Foto de Nathalie Melot da série "Dream On"
[BzaïE + SiGh³ + oups + Pet.il²} + {i.see + WtF + D.mens + alpha + MôA + FilAr} { sonho #5 Seja Bonito por Dentro}

Para tratar dessa autonomia e da dificuldade de tornar os sonhos reais, ela criou um livro virtual de receitas, sua "bíblia", com 46 ingredientes, apresentados graficamente como numa tabela periódica.

Os quatro elementos principais são "espinhos de realidade", "pétalas de ilusão", "gotas de esperança" e "sorte de origem incontrolável".

Para ilustrar aquilo que acredita que cada um pode fazer por sua conta, mesclou algumas dessas especiarias e executou sete sonhos, representados por fotografias. O sonho "Perpetuar Minhas Tradições" é expresso por retrato de uma cabeça de um nobre francês servida num prato. O sonho "Seja Bonito por Dentro" é uma fotografia de crânio humano pintado de maneira bem colorida, à moda mexicana. E assim por diante.

Enquanto sonha, ela mesma, com a possibilidade de trabalhar apenas com seus projetos pessoais, Melot vem fazendo arte sob encomenda para clientes como o Museu do Amanhã, o refrigerante Fanta e a marca infantil Fábula.

Na campanha que criou para esta última, realizou, contradizendo seu discurso, uma espécie de sonho. No filme "Confete", trabalhou com dois talentos da jovem música brasileira: Domenico Lancelloti, o compositor da trilha sonora, e o guitarrista Pedro Baby, que não só é filho dos Novos Baianos Pepeu Gomes e Baby "do Brasil" Consuelo como tem se apresentado com a mãe nos shows recentes em que ela voltou a cantar temas do antigo grupo. Incluindo "O Mistério do Planeta", o tema que Melot adotou como seu hino.

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página