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Serafina

Hugo Carvana lança filme inspirado na época em que morou com Miele e Daniel Filho

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O charuto de Hugo Carvana já está pela metade às 11h daquela manhã de quarta-feira. Antes de começar a falar, ele fecha a janela para reduzir o barulho das marteladas de uma obra perto de sua produtora de cinema, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Hugo Carvana dirigiu oito comédias em 40 anos; confira fotos

Pede ainda para a secretária encostar a porta de sua sala, um espaço exíguo que parecia ter nove metros quadrados. Em segundos, o lugar está infestado pela fumaça do tabaco da marca Alonso Menendez, o preferido de Carvana.

"Não planejo filmes. Eles entram na minha cabeça", diz, ao introduzir a conversa. "Quando terminei meu último trabalho, 'Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo' (2011), comecei a buscar uma nova história. Aí, veio a ideia de fazer a continuação de 'Casa da Mãe Joana', que tinha sido um projeto bem-sucedido."

Aos 76 anos, Carvana concluiu seu nono longa como diretor, a comédia "Casa da Mãe Joana 2" (confira trailer do filme abaixo), com estreia prevista para o dia 6 de setembro. Também assumiu a produção do longa e é responsável pelo argumento do roteiro.

Na trama, a convivência entre os personagens centrais, Montanha (Antonio Pedro), Juca (José Wilker) e PR (Paulo Betti), remete ao tempo em que ele dividiu um apartamento no Leblon com Daniel Filho, Luís Carlos Miele e Roberto Maia no fim dos anos 1950. A não ser por Daniel, todos os moradores atuam no filme. "Esse apartamento foi uma história de vida, de boemia. Quatro amigos morando juntos, todos sem grana, mas com uma vida sexual intensa. Os hormônios fervilhavam", lembra, aos risos.

O diretor descarta outra continuação da série. "Já seria falta de assunto", explica ele, que é crítico em relação às comédias recentes do cinema brasileiro. "Apelam para a piada vocal, a anedota. Não há história, apenas esquetes de humor", provoca, sem citar exemplos.

Sua carreira no cinema começou na época em que morava no tal apartamento, no Leblon. O primeiro filme como ator foi "Trabalhou Bem, Genival", de 1955. Desde lá, atuou em 91 longas. No cargo de produtor, chegou a ir duas vezes à falência antes de atrair 525 mil espectadores em "Casa da Mãe Joana", de 2008, seu maior sucesso de bilheteria.

Enquanto conta a história, decide mudar para outra sala, mais ampla. Segue segurando o charuto, agora apagado, com a mão esquerda.

Na parede da sala, uma foto em preto e branco mostra ele de chapéu de palha e uma camisa de bolinhas, registro do filme "Se Segura, Malandro!", de 1978.

Foi sua segunda experiência na direção. Cinco anos antes, ele estreava com "Vai Trabalhar Vagabundo". "Fiz um filme de humor na época mais dramática que o Brasil já viveu", diz, referindo-se ao momento mais tenso da ditadura militar, os chamados anos de chumbo.

"Todo mundo estava sendo preso, e o personagem principal começava o filme saindo da prisão", orgulha-se o cineasta. "Sempre fiz comédia. Agora, está na moda fazer comédia. Quando esse modismo acabar, eu vou continuar."

VAI TRABALHAR, VAGABUNDO

A boa bilheteria de "Vai Trabalhar Vagabundo" quitou as dívidas acumuladas na primeira experiência de Carvana como produtor executivo, em 1971. Recorreu a um financiamento para bancar os custos de "O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil", do diretor Antônio Calmon, um fracasso de público.

"Minha mulher entrou em trabalho de parto, e eu não tinha dinheiro para pagar o táxi até a maternidade. Falei para o motorista: 'Meu filho vai nascer e eu não tenho um puto para te pagar'. Mesmo assim, o taxista me ajudou", lembra. Maria Clara, a segunda de quatro filhos, nasceu em março de 1971.

Se "Vai Trabalhar Vagabundo" foi responsável pela recuperação financeira de Carvana, a sequência, "Vai Trabalhar Vagabundo 2 - A Volta", foi o motivo de sua segunda falência. O diretor contava com recursos da Embrafilme para fechar a conta quando, segundo ele, mudanças na estatal fizeram o empréstimo ser suspenso. "Não tinha um puto de novo. Eu devia a 67 credores, de R$ 1.000 a R$ 200 mil."

A mulher, Martha Carvana, o aconselhava a deixar as dívidas coladas na parede. Seria uma forma de lembrá-lo de nunca mais produzir filmes.

A própria Martha não levou a sério o comentário. Hoje, ela é sócia do marido na produtora MAC Comunicação. Eles são casados há 45 anos e pais de Pedro, Maria Clara, Julio e Rita. Todos, aliás, trabalham com produção de filmes. O único funcionário fixo na empresa da família é Júlio. Os outros colaboram com os filmes do pai.

Na produtora de Carvana, outra parede é decorada com uma pintura da atriz Juliana Paes caracterizada como Monalisa. A peça é parte do acervo de "Casa 2". Juliana também está no elenco, que teve parte das cenas filmadas em um casarão no Alto da Boa Vista.

Desde 2008, o diretor enfrenta o mal de Parkinson, doença neurológica. Tem certa dificuldade para caminhar ou subir escadas, mas segue com o mesmo entusiasmo no set.

"Ele se divertia com as cenas. Entende o ator. E fica feliz por estar ali dirigindo", diz Paulo Betti. Enquanto prepara o lançamento de seu novo filme, Carvana já está com o roteiro da próxima produção na mão. Não revela detalhes, mas diz que seu público já sabe o que esperar.

"Encontrei um caminho para meus filmes, que preservam a mesma essência. Não choro pelo fracasso, nem fico eufórico com o sucesso. Só quero continuar trabalhando."

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