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Serafina

Oscar 2014

Diretor americano retrata amor entre homem e celular em novo filme

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"Desde os homens das cavernas, temos medo de revelar quem somos. O filme é sobre intimidade, a necessidade que temos dela e quão difícil ela é." Spike Jonze reflete sobre seu novo longa, "Ela", que os críticos americanos já definem como sua prova de "maturidade" como cineasta.

Até há pouco, essa palavra não cairia bem ao autor de "Quero Ser John Malkovich" e "Adaptação". Sua fama começou com os tresloucados e modernésimos videoclipes que dirigiu: do musical de Björk, em "It's Oh So Quiet", à paródia policial em "Sabotage", dos Beastie Boys, além de "Praise You", do DJ Fatboy Slim, onde o próprio Jonze mostra, diante das câmeras, como todo mundo pode ser dançarino por um dia.

Nadav Kander
Spike Jonze é o diretor do longa "Her"
Spike Jonze é o diretor do longa "Her"

Casado por quatro anos com a também cineasta Sofia Coppola, ex-namorado da atriz Michelle Williams e da cantora Karen O (do Yeah Yeah Yeahs), além de parceiro de aventuras da banda de rock Arcade Fire (que fez a trilha sonora de "Ela"), Jonze é um caso raro de aura cool sem prazo de validade aparente.

Mas, aos 44 anos, ele já não lembra mais um skatista ou um hipster do Brooklyn, como no início de carreira. Com suéter e camisa de botões, arrumadinho até, ele explica seu novo filme, uma fábula futurista e romântica em que o solitário Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) se apaixona pelo sistema operacional de seu computador, que lhe organiza a agenda e lê os e-mails. O programa tem a voz de Scarlett Johansson, o que ajuda o espectador a acreditar nessa fantasia.

O diretor jura que teve essa ideia há mais de dez anos, "quando a Siri [o programa com voz do iPhone] sequer tinha sido inventada". Por coincidência, Scarlett também brilhou em "Encontros e Desencontros", de sua ex-mulher. "Os dois longas falam de solidão e isolamento, mas são obras bem diferentes."

Her

"'Ela' é um filme sobre relações, tão velhas quanto os humanos sobre a Terra", diz ele, em um quarto de hotel em Nova York, onde recebeu Serafina para uma conversa exclusiva.

O protagonista vive como escritor de aluguel para clientes tímidos. Um "ghost writer" de cartas românticas, que passa o dia no computador –mas que vende seu produto em papéis de carta coloridos e escritos à mão. O futurismo cool e a nostalgia pelo artesanal, tão comuns ao mundo de Spike Jonze, dominam o filme, que é um tanto frio para ser romântico.

"Ela" se passa em um futuro próximo, sem data definida. Um futuro onde humanos se apaixonam por máquinas, mas onde tudo que cerca os personagens é bonito, caloroso, acolhedor.

UTOPIA CHINESA

A arquiteta Liz Diller, do time de criadores do parque High Line, em Nova York, e do novo MIS, do Rio, colaborou com Jonze na concepção visual da Los Angeles futurista que aparece no filme.

"É um futuro utópico ou distópico?", perguntou Liz ao diretor. Jonze não tinha pensado nisso, mas, quando descreveu o que pensava da história, a arquiteta concluiu que era uma utopia.

A Los Angeles do filme é bem diferente da real: tem calçadões, muitos pedestres, poucos carros na rua e muitos, muitos prédios. Parte do filme foi rodada em Xangai, na China, e tanto os outdoors eletrônicos, com ideogramas do mandarim, como multidões de chineses nas ruas foram mantidos.

"Queria um lugar com muitas construções novas e a China tem uma dúzia de metrópoles assim."

Junto com seu designer de produção, K. K. Barrett, ele imaginou como serão os computadores, os celulares e a moda que virão -todos os personagens masculinos usam calça de cintura alta, quase todos têm bigode.

É um filme pessimista, sobre as relações conjugais e sobre os humanos que só se comunicam com seus brinquedos eletrônicos? Jonze não sabe. "Não há resposta simples. Tentei representar o mundo como o vejo, sem julgá-lo."

Os amigos que já viram o filme disseram a Jonze que "Ela" é "triste, romântico, esperançoso e otimista". "Não há uma interpretação única. Se você entrevistar dez pessoas diferentes no Brasil, elas terão visões diferentes. Você faria isso, por favor?", brinca ele.

Jonze tem boas impressões dos brasileiros. "Na primeira vez em que estive no Brasil, há dez anos, descobri na hora o quão inibido eu era, o quanto os americanos somos inseguros", ri. "Vocês não têm nenhum medo de passar ridículo, de se divertir sem culpa."

Jonze esteve no Rio para filmar um comercial com o jogador Ronaldo e já visitou São Paulo outras vezes para acompanhar o irmão, Sam Spiegel. Sam é DJ e tem um coletivo chamado N.A.S.A. (North America/South America), junto com o DJ brasileiro Zegon.

O diretor também é ligado em música. A colaboração com o Arcade Fire, iniciada ainda no primeiro disco do grupo, quando ele dirigia clipes e filmava shows, continua. "Compartilhamos referências musicais e visuais. O Win [Butler, vocalista] sempre fica aqui em casa quando visita Nova York."

Em tempos de escassez financeira para o cinema adulto, Jonze ainda não sabe o que vem pela frente. "Não faço muitos filmes, levo um bom tempo entre um e outro."
Deve continuar a trabalhar com Megan Ellison, 27, financiadora de "Ela". Filha do terceiro homem mais rico dos EUA, dono da companhia tecnológica Oracle, ela também produziu longas de Wong Kar-Wai e Kathryn Bigelow.

"Megan foi a primeira pessoa a ver o roteiro, quando só tinha 25 anos", diz. "Me anima ver em Hollywood alguém que ame cinema. Não é como um advogado ou um executivo que chega ao topo dos estúdios sem dar a mínima para os longas. Ela faz os filmes em que acredita. Isso é raro." O cyber-romântico achou uma mecenas à altura.

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