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Serafina

Luiz Fernando Carvalho critica novelas tradicionais e cruza conto de fadas e HQ

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Vestindo uma jaqueta vermelha de soldado europeu do século 19, Luiz Fernando Carvalho, 53, caminha por Santa Fé. Diferentemente dos modernos estúdios da Globo, onde cenários de várias novelas concomitantes são montados e desmontados todos os dias, a cidade cenográfica em que o diretor conduz "Meu Pedacinho de Chão" não se desarma nunca.

Além disso, não tem pontos cegos, cada canto e cada ângulo pode ser aproveitado, entre as casas revestidas de lata, as árvores envoltas em crochê colorido, flores e plantas sintéticas. É um espaço aberto e disponível para o diretor improvisar e filmar como quiser.

"Se não pudesse ter um espaço assim, artesanal, quase mambembe, com possibilidades diferentes de desenvolvimento da criação artística, eu não sobreviveria ao Projac", diz o diretor. O acordo foi feito com o diretor-geral Carlos Henrique Schroder, que pediu que Luiz Fernando se fizesse mais presente na Globo. Há pouco mais de um ano, recebeu o espaço onde, além da cidade cenográfica, estão um galpão para a elaboração dos figurinos, sua ilha de edição e um espaço para ensaio de atores.

"Meu Pedacinho de Chão" marca o retorno dele às novelas, 12 anos após "Esperança" e renovando sua parceria com Benedito Ruy Barbosa, 83, com quem fez "Renascer" (1993) e "Rei do Gado" (1996). "Me interessei pelo texto também porque ele é muito significativo para o ano que o Brasil vive, com eventos como a Copa e a eleição." A trama, que conta a história de uma professora que volta a uma pequena cidade dominada por um coronel, foi originalmente exibida em 1971, pela TV Cultura, mas foi interrompida pela censura do regime militar.

"Algumas questões que ela levantava na época são atuais até hoje, como a fundiária, a da educação, a da saúde." Destinada a levar informação à população do interior, a trama explicava doenças e dava orientações. "É claro que é também um gesto político colocar isso no ar agora."

MONTEIRO LOBATO X ANIMÊ

Apesar de conduzir a tradicional novela das 18h da Globo, Luiz Fernando faz críticas ao velho formato. "Já não dá mais para exigir do telespectador um compromisso de horário e regularidade. A internet mudou o jeito de se consumir televisão. E mais, é preciso entender que as pessoas já não precisam da novela para saber que Israel e o Marrocos existem. Não adianta levar as produções até lá. O público quer ser atraído por outro tipo de coisa."

Luiz Fernando conversa com a Serafina em sua ilha de edição, decorada com pôsteres de filmes japoneses, e aponta para "A Viagem de Chihiro", como inspiração para a novela. "As pessoas fizeram comparações com o 'Sítio do Picapau Amarelo', mas estou mais para um universo como o do animê japonês do que para a sociedade estanque de Monteiro Lobato." Declara que não gosta de chamar "Meu Pedacinho de Chão" de novela, pela estrutura enxuta de apenas 20 personagens, e de narrativa, só cem capítulos.

"É feliz a coincidência da sensação de maturidade a que cheguei agora com o tema da infância, central na novela. Sinto-me mais à vontade para brincar de narrar, brincar de gravar, brincar de inventar uma novela, que nem mesmo chamo de novela, já que misturo gêneros, cruzando faroeste com a HQ, conto de fadas com opereta", resume.

Entre seus próximos projetos, está, justamente, uma adaptação de HQ. Trata-se de "Vira-Lata", revista idealizada por Drauzio Varella com quadrinhos de Paulo Garfunkel (texto) e Libero Malavoglia (desenhos) que fazia parte de um projeto de prevenção da Aids.

Ainda na lista de trabalhos vindouros está a adaptação do romance "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, a minissérie "A Aldeia", baseada em texto de Dostoiévski, para o qual está bancando o desenvolvimento de um software para dar feições de animais aos atores, e a adaptação de "Dois Irmãos", de Milton Hatoum.

"Talvez eu não passe de um sujeito realizando um sonho antigo, de ser regente de uma fanfarra de um coreto perdido em uma cidade qualquer."

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