Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

Gabriel Mascaro leva o pop ao Nordeste e vice-versa em novo filme

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Gabriel Mascaro quer despir o Nordeste nas telas. Isso não significa desnudar o ator Juliano Cazarré —o que o diretor de fato faz em "Boi Neon". No filme, o pernambucano de 32 anos quer despir o Nordeste de seus chavões desgastados: o chão rachado, o retirante esquálido, o cabra macho.

"O cinema novo e a literatura regionalista criaram um Nordeste mítico, lar de povo puro, trabalhador, honesto", diz Mascaro. "Mas, quando eu viajava pela região, via coisas cosmopolitas, referências da cultura pop internacional."

Hélia Scheppa
Premiado em Veneza, cineasta pernambucano Gabriel Mascaro mostra o nordeste sem clichês regionalistas #serafina92
Premiado em Veneza, cineasta pernambucano Gabriel Mascaro mostra o Nordeste sem clichês

E arremata: "O grande símbolo masculino dessa nova geração não é nenhum machão. É o Wesley Safadão".

O cineasta se refere ao forrozeiro cearense de longas madeixas —alisadas com chapinha como as de alguns dos caubóis que perambulam em torno das vaquejadas de "Boi Neon", filme sobre um vaqueiro (Cazarré) com sonhos de ser estilista. O longa deve entrar em cartaz em janeiro.

"A vaquejada era o laboratório para atualizar esse imaginário todo", conta o diretor, premiado nos festivais de cinema de Veneza e do Rio por esse seu segundo filme de ficção.

Gabriel Mascaro teve seu insight como cineasta quando era aluno de rádio e TV na Universidade Federal de Pernambuco e estagiava no set do filme "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005), do conterrâneo Marcelo Gomes.

A missão do estagiário? Recrutar figurantes no sertão. Um deles, um velho de mãos nodosas, escalado apenas para servir bode e cachaça aos personagens de João Miguel e Peter Ketnath, tomou a liberdade de improvisar umas falas, como "nosso Brasil é bom demais".

"Foi um momento especial", lembra. "A câmera saiu do planejado e foi enquadrar aquele figurante que eu tinha achado. O cinema estava ali, mas era a vida que transbordava."

Mascaro também transborda para além do cinema e espraia às artes visuais: expôs na última Bienal de São Paulo a vídeo-instalação "Não É Sobre Sapatos", que reúne imagens feitas por policiais militares dos protestos de 2013.

No mais recente projeto, a série fotográfica "Desamar", enfileira retratos de casais decepados —ou melhor, fotos em que o rosto de um dos pares foi recortado pelo outro, desiludido.

"Quando penso em algum tema, a ideia não vem filiada a algum formato específico: cinema ou artes visuais. Tento me expressar em diversos suportes."

Veja o teaser de "Boi Neon"

Teaser de Boi Neon

Formatos variados, mas que seguem uma mesma tendência: recolher material produzido por outras pessoas.

No seu documentário "Doméstica" (2012), os outros eram adolescentes a quem Mascaro pediu que filmassem os próprios cotidianos com suas empregadas.

"Meu papel de artista é mais de recontextualizar, ressignificar o olhar", diz.

O artista Mascaro dá as caras em seu primeiro longa de ficção, "Ventos de Agosto" (2014), vivendo um inusitado pesquisador de ventos alísios que chega sem mais nem menos a um empobrecido lugarejo alagoano.

De "Ventos de Agosto", "Boi Neon" repete a investigação quase naturalista dos corpos dos personagens —corpos que suam, que se banham, que urinam em cena. Corpos que, quando transam, transam demoradamente, profanando a ideia de que o cinema tenha de se ater apenas ao que acrescenta à narrativa.

"Em sua trajetória, os filmes deixaram de registrar esses atos do cotidiano, ficaram presos à ideia de que não podem perder tempo", diz Mascaro. "O sexo, como a urina, é igual às outras coisas todas que fazem os personagens: lavar o caminhão, limpar o rabo do boi."

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página