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Serafina

Famosa pelo humor, Marisa Orth encara personagem triste em novela

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Marisa Orth está só de calcinha e sandália de salto alto, dentro de um carrinho de supermercado, ignorando uma dor lombar e cercada por pessoas que conheceu duas horas antes. A atriz de 52 anos tapa as vergonhas com frangos de borracha enquanto posa para a foto deste perfil e pergunta: "E a legenda vai ser o quê? 'Eu e minhas irmãs', ou 'Ela sempre preferiu homens mais novos?'".

Marisa Orth tem 17 anos e está no seu primeiro curso de atuação. Ao fazer um exercício de improviso, forçando sotaque caipira, ouve do professor que leva jeito para fazer rir. Não soou como elogio. "Eu botei o dedo na cara dele e falei 'Você entende o que de teatro?'."

Felipe Hellmeister
Marisa Orth posa para a Serifna de junho/2016
A atriz Marisa Orth que interpretará a personagem Francesca no remake de "Sassaricando"

Os 35 anos que separam essas duas cenas são a vida profissional de uma atriz que nasceu para ser dramática, aprendeu no meio do caminho a abraçar a comicidade, e agora voltará ao olho público num papel profundo e sentido.

Inculcada no inconsciente nacional com o papel da socialite de classe média e intelecto pequeno Magda, de "Sai de Baixo" (1996-2002), ela será uma das atrizes principais de "Haja Coração", novela das sete inspirada em "Sassaricando", de 1987. No folhetim, que estreia em 30 de maio, interpretará Francesca, mãe de uma prole de quatro pessoas, inclusive da heroína Tancinha.

Nos últimos anos, conta, tinha um acordo de damas com a Globo. Preferia não ser escalada para novelas e ficar na chamada "linha de shows" do canal. Foram seis anos de "Sai de Baixo", mais três de "Tomá Lá Dá Cá", mais um período em "TV Pirata" antes desses dois.

"É uma empresa bem justa. Eles sabem que me casei em São Paulo, que tive filho aqui." Mas agora é o momento de voltar à teledramaturgia. "Meu filho está com 17 anos, praticamente implorando para eu fazer uma novela." Começou a gravar no fim de fevereiro, num ritmo que classifica como "brutalidade, esquema de fábrica".

Mas está disposta a aguentar o tranco de meses."Eu acho novela um negócio chique, mesmo com a moda das séries."

Diz que está aprendendo muito com sua filha cênica, Mariana Ximenes, 35, que já fez 14 telenovelas, contra cinco dela própria. "Ela é um furacão." Afirma que a experiência a "amplia como atriz". O repórter questiona se já não tinha saído ampla da Escola de Artes Dramáticas da USP, onde se formou. A artista replica com voz de afrontada e a mão no peito: "Arrombada é sua mãe, eu não admito!". As gargalhadas são ouvidas do lado de fora do estúdio.

Felipe Hellmeister
Marisa Orth posa para a Serifna de junho/2016
"Eu acho novela um negócio chique, mesmo com a moda das séries."

É duro manter a cara centrada na presença de Marisa, que parece transcender seu 1,76 m de altura. Não que ela esteja imune ao elã de outros humoristas. Sua personagem teve de protagonizar uma cena de ira e despeito contra o clã do mal (e cômico) da novela. Fez cara de indignada e se postou à frente do time formado por Grace Gianoukas, Tatá Werneck, Claudia Jimenez e Marcelo Médici. Todos cômicos. "Segurei forte."

GRAÇA DE GRAÇA

Demorou para ela reconhecer a graça como trunfo. "Achava que aquilo que me era muito natural não valia nada. A gente recusa um pouco o que tem facilidade."

Miguel Falabella a ajudou a sair do armário como comediante. Estavam em turnê com a comédia "Algemas do Ódio" no fim da década de 1990 quando ela teve uma crise sobre fazer humor no palco.

Ele deu um chacoalhão nela e perguntou: "Você quer que a gente instale umas canaletas no palco e façamos nevar quando você entra em cena, para se sentir num filme do Bergman?" Ela é grata pela intervenção. "Se eu tiver uma biografia ela pode chamar 'Canaletas'." A parceria dos dois resiste até hoje. Em maio terminaram de fazer "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos", musical baseado na obra do cineasta espanhol Pedro Almodóvar.

Além do amigo, aprendeu com um camafeu dos palcos a se deixar fazer rir. Bibi Ferreira uma vez disse que alguém com tanto tino para a comédia haveria de nadar de braçada na tragédia. "É isso. Eu sou de uma geração que não separava a comédia e a tragédia", diz ela, que coloca no mesmo grupo amigas como Débora Bloch e Andréa Beltrão. "A gente é feia-bonita. Dá pra fazer umas deusas, mas dá pra fazer uns monstros."

Em sua peça de formatura, "Criança Enterrada", por exemplo, era uma matriarca septuagenária -tinha 22 anos. Foi quando Denise Fraga, 51, a viu pela primeira vez. "Ela é uma puta atriz dramática. E, quando faz humor, faz com uma lágrima no olhar. É o tipo de pessoa que deveriam cobrar ingresso só para conversar", diz Denise.

Como uma representante paulistana no Projac, estava acostumada a amainar os is que insere em fonemas anasalados ("apartameinto", "fazeindo"). Mas pôde relaxar a língua com a nova personagem, vinda da Itália e que aprendeu português no centro de São Paulo.

Durante toda a gravação, ficará no Rio, cidade que aprendeu a amar. Hoje tem uma família carioca, que empresta do designer Gringo Cardia, 59, amigo há três décadas. É ele que a hospeda, em Copacabana, quando ela está no Rio. "Ela é hilária e muito dramática. Coisas pequenas viram uma tempestade, mas é muito leve porque não guarda rancor", diz Gringo.

Juntos, os dois fundaram em 1999 a escola Spectaculu, que ensina maquiagem, cenografia e outros ofícios do palco para jovens de baixa renda. Já tiveram 5.000 alunos. "Um dos maquiadores da novela se formou lá", conta.

O folhetim, entretanto, não pausou suas carreiras paralelas. Em 31 de julho, fará um show de "Romance", com repertório de músicas cômico-dramáticas, no auditório Ibirapuera. Planeja também a volta do Luni, banda que a tornou famosa na noite paulistana, antes de se consagrar como atriz. A longuíssimo prazo planeja montar "Fica Comigo Esta Noite", com que estreou no teatro profissional, aos 25. Refez a peça em 2007, quando estava com 43 anos. E promete completar o tríptico quando chegar aos 60.

É só não pedir que ela veja seus trabalhos. "Sou muito autocrítica, tenho certeza de que os outros gostam mais de mim do que eu." A maturidade só deu mais condescendência com o que fez dez anos atrás. "Eu ainda não entendo por que gostam de mim." Mas agradece. "Tem uma coisa de voz de Deus na jogada. Eu não fui criada para ser pop, tive uma criação elitista. Então ter alcançado o povo brasileiro foi uma honra."

Já ter virado símbolo sexual foi um enigma. "Acho 'bonus track', um mérito, um triunfo." A academia, o pilates e a fisioterapia existem na sua vida por conta do índice DPC, brinca. "É o índice Dá Pra Comer?". E como anda a cotação dela? "Sempre subindo, amor!".

Além do índice de galhofa, há também uma preocupação trabalhista por trás da forma. "Obviamente gente mais bonita tende a pegar mais trabalho. Mesmo a atriz mais velha, se estiver mais magra, vai pegar mais trabalho. A gente tem que ter um compromisso com a magreza, com a saúde. Você tem que estar com um corpo 'wearable'." E saudável.

Há cinco anos aboliu o cigarro, por causa de uma personagem fúnebre.

Ia interpretar Mortícia no musical da Família Addams e precisava ter fôlego pleno para cantar e dançar. "Foi muito difícil. Aconselho quem pensa em começar a nem ousar". Tomou dois meses de remédios, acompanhada por um pneumologista e um psiquiatra, e colou adesivos de nicotina na pele.

Felipe Hellmeister
Marisa Orth posa para a Serifna de junho/2016
"Sou muito autocrítica, tenho certeza de que os outros gostam mais de mim do que eu."

CALA BOCA NÃO MORREU

Marisa Orth precisou bolar um disfarce para ver o show de Elza Soares na Virada Cultural paulistana, que ocorreu de 21 a 22 de maio. Seu marido, o percussionista Da Lua, tocaria com Elza e ela queria ver. Caso não estivesse disfarçada com óculos escuro e boné, perigava ouvir uma saraivada de "Cala boca, Magda!" vindos de desconhecidos na rua. "Opa se ainda acontece. E muito!".

Mas ela não refuta a criatura de sucesso. "Ela me deu tanta coisa linda. Pode ser piegas mas já ouvi de mulheres fúteis que foram fazer cursos por causa dela."

Resolvidos quaisquer eventuais grilos com a personagem que a persegue ("Sai de Baixo" é reprisado até hoje pelo canal Viva), resta uma questão: "As pessoas acham que nossa vida é mais fácil". Não é, garante.

Formada em psicologia, ela vai ao psicólogo eventualmente ("Para fazer manutenção") e, quando a barra pesa, aceita a receita do profissional, que também é psiquiatra ("Mas prescreve bem menos remédio do que eu gostaria"). Ela se levanta e vai, séria, posar para as fotos, alimentando explosões de risos a cada 15 segundos. "No fim, fazer rir e chorar é balançar o diafragma do mesmo jeito."

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