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Serafina

Peleteiro de Elvis e Janis Joplin mora em cidade do interior de Minas Gerais

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O músico Landau veste uma jaqueta de quase vinte quilos de franjas de couro cru e contas turquesa enquanto caminha ao redor da represa de Furnas, no município de Fama, sul de Minas Gerais. Ele não é o primeiro guitarrista a vestir a peça. Cinco décadas atrás, ela já passou pelas costas de Jimi Hendrix.

A história de como a peça foi parar ali é a história de Bill Morgan, um americano que completa 80 anos nos próximos meses e que foi o peleteiro predileto de Jimi, Elvis e Janis Joplin, quando as lendas da música estavam vivas. E de como a comunidade artística dessa cidade de 2.000 habitantes adotou o estilista, que será tema do seu primeiro museu.

Mas vale começar pelo começo. Bill conheceu o Brasil antes de ser estilista. Veio em 1964, para correr a São Silvestre. Era então um atleta, e chegou a ser aventado a representar os EUA na Olimpíada. Voltou em 1966, e passou um ano viajando o Brasil de São Leopoldo (RS) a Manaus (AM), e comprando artesanatos que despachava para um tio vender na Califórnia. Foi levado de volta aos EUA por causa de uma disenteria que não passava.

Chegou ao país a tempo do Verão do Amor, em 1967, carregando algumas peças de couro brasileiro. Sua namorada, na época, costurou vestidos de couro, que foram vendidos horas após serem colocados na vitrine de uma loja de roupas que os dois fundaram juntos, em San Francisco. Em meses, fazia só peças de couro

A North Beach Leathers chegou a ter 15 lojas ao redor do globo, e faturamento anual de US$ 25 milhões antes de ir à falência em 2002, por uma combinação de falta de planejamento com escolhas ruins, na opinião de Bill.

Depois de ir à falência, ele foi viver perto de um lago na Califórnia, onde vivia a pescar. Até que, em 2010, Bill se reencontrou com um amigo de juventude que havia se casado com uma brasileira. "Saí dos Estados Unidos parte por causa de dinheiro e parte porque cansei".

Voltou ao Brasil depois de quatro décadas separado do país. Morou com esse amigo em Itamonte, em Minas, e depois numa ilha na costa da Barra da Tijuca, no Rio. "Eu fazia roupas para acompanhante, mulher da vida. Não é um trabalho fácil, mas é divertido."

Coletivo Amapoa/Folhapress
O músico Landau, que usa nos seus shows as roupas de couro criadas pelo peleteiro de Elvis ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O músico Landau, que usa nos seus shows as roupas de couro criadas pelo peleteiro de Elvis.

Há um ano e pouco, buscou um lugar que tivesse um lago em que pudesse pescar. Encontrou Fama. Bill mora numa casa de dois cômodos no alto de um morro no centro da cidade. Além de uma vizinha evangélica que o ajuda com o trabalho doméstico, ele conta com a companhia de um cão.

Era conhecido na vizinhança como o velhinho simpático que distribuía linguiça para os cachorros de rua da cidade –hábito que ainda exercita três vezes por semana. Até que um dia conheceu no ônibus Fabricio Malfacini, dono do Hotel Náutico de Fama, o único da cidade. Impressionado com a história de Bill, Fabrício, um dos poucos moradores dali que falam inglês, convenceu Bill a expor o acervo que trazia em malas.

As cerca de 50 peças que ele guardava num quartinho foram transferidas para o salão de jogos do hotel. Grande parte do acervo está à venda. A reprodução de uma jaqueta preta usada por Janis, estilo colegial americano, com recortes de couro bege e vermelho, sai por R$ 800. Uma camisa de couro de manga longa custa R$ 500.

Fabricio conhecia Landau, e chamou o músico para ser modelo da marca. "Para mim é uma honra conviver com o Bill, e poder usar o trabalho dele", diz Landau, que lançou há um mês o álbum "Obra Interditada", com homenagens a Roberto Carlos, Nirvana e CPM22, entre outros. Nas turnês que fizer do trabalho, vestirá as criações do amigo.

Bill voltou aos EUA no ano passado. Foi fazer uma cirurgia na coluna, que ele afirma ter sido mal-sucedida. Há alguns meses o ex-maratonista anda com ajuda de uma bengala.

Bill fala de alguns dos maiores músicos do mundo como se falasse do vizinho. "Eles não eram grande coisa, eram só gente normal que entrava na minha loja." Quando o Rei foi visitar sua loja, gostou de uma jaqueta de franjas com uma estampa de arco-íris que o próprio Bill estava usando. Em outra ocasião, comprou oito ternos de couro em uma visita.

Da constelação dos anos 1960, a única pessoa que ele chamava de amiga era Janis Joplin. "A Janis queria que eu fosse com ela para o Brasil. Uma semana depois ela teve uma overdose. Eu às vezes acho que, se tivesse vindo com ela, ela ainda estaria viva"

Os colegas de Fama sonham em trazer Carlos Santana, amigo de Bill desde que o guitarrista estava no colegial. "Ainda vamos fazer um show dele com um desfile. Vai ser que nem antigamente", diz Bill.

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