Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

'Cresci sem ver negros na TV', diz Gregory Porter, nova voz do jazz

Divulgação
Cantor de jazz americano Gregory Porter. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cantor de jazz americano Gregory Porter.
Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Gregory Porter tinha seis anos quando observou sua TV como quem busca um espelho. Crescendo em Sacramento, Califórnia, nos anos 1970, ele não se enxergava na tela chuviscada. Os homens transmitidos nos Estados Unidos eram todos brancos. Ele era negro.

Foi só quando fuçou a coleção de vinis de sua mãe que o jovem Porter se viu refletido em algo: nos discos velhos de Nat King Cole (1919-1965), ícone do jazz americano. Negro. "É difícil de explicar, mas não havia ninguém como eu. Ninguém se parecia comigo na TV", Porter contou à Serafina. "Quando vi essas imagens do Nat King, gravitei ao redor delas."

A experiência lhe marcou de tal maneira que Porter dedica seu quinto álbum àquele artista, regravando seus clássicos e adicionando algumas de suas próprias canções.

"Nat King Cole & Me" foi anunciado em setembro, em Londres, durante uma apresentação em uma igreja para algumas dezenas de escolhidos. Porter traz a turnê a São Paulo em 3 de outubro, no Cine Joia, e ao Rio no dia 7, no Vivo Rio.

Ele já não é mais o garoto de seis anos que, escondido, escutava os discos da mãe. Porter é uma das principais vozes do jazz contemporâneo, vencedor de dois prêmios Grammy com os álbuns "Liquid Spirit" (2014) e "Take Me to The Alley" (2017). Mas o racismo que permeou sua infância persiste nos EUA, como visto nas recentes passeatas de supremacia branca.

"Eu via Nat King Cole, aquela imagem de estilo, graça e beleza", disse Porter à plateia durante sua apresentação em Londres. "Era importante ver o reflexo de um artista extraordinário, um americano negro se apresentando. O país inteiro pensava, 'essa imagem de que os negros são um povo inferior não pode ser verdade. Olhe para a eloquência dele'."

No dia seguinte, em seu quarto de hotel, ele lamentou à Serafina: "Tínhamos a ideia de que o racismo estava resolvido, e espero que essas marchas não signifiquem que demos um passo atrás". Ele se referia às cenas de americanos carregando tochas nas ruas. "Ainda estou chocado com o que vimos e pela resposta do nosso presidente", diz, sobre a ausência de uma enfática condenação por parte do republicano Donald Trump.

Garoto encantado

A importância de Nat King Cole em sua infância está evidente no disco que ele lança em breve.

Em Londres, Porter pediu à plateia, sussurrando, antes de começar sua mágica: "Imaginem que estão em suas salas de estar colocando um vinil. Essa é a 'vibe'."

Sentado em um banquinho, discretamente esfregando o polegar contra o indicador, com a outra mão pousada em cima da coxa. Ele se vestia da maneira pela qual já é conhecido: com um chapéu de hipismo e cobrindo a cabeça uma balaclava, como a que corredores de Fórmula 1 vestem embaixo do capacete. É assim que Porter esconde as cicatrizes em seu rosto, sobre as quais pouco fala, e é também como cria sua própria estética -complementada em Londres por um blazer azul-marinho.

Ele estava acompanhado, naquela tarde, por uma orquestra de 60 músicos. A apresentação começou com "Mona Lisa" (1950), e teve seu pináculo na canção seguinte, "Nature Boy" (1948). "There waaaas a boy, a very strange enchanted boooy". "Havia um garoto, um garoto encantado bastante estranho". A música, uma das mais emblemáticas de Nat King Cole, ensinou Porter a escrever "de maneiras que eu nem sei", disse, emocionado com o fim da letra. "A maior coisa que você vai aprender é a simplesmente amar e a ser amado de volta."

Porter aprendeu outras coisas com o ídolo -por exemplo, a preferir as canções que contem uma história. É o caso de "Nature Boy", e também de "Miss Ottis Regrets" (1934), de Cole Porter, que ele incluiu na apresentação londrina, contando as desventuras de Miss Ottis que "lamenta não poder almoçar hoje". É o formato de sua música "When Love Was King", parte do novo álbum. "São músicas com mensagens que você carrega", disse. "Mensagens positivas que deixam um gosto no paladar."

Positivas, ainda que tristes. Há alguma melancolia em sua voz e em seu estilo de blues, soul. Nem mesmo a divertida e romântica "L.O.V.E" (1965), de Nat King Cole, que Porter cantou em Londres, parecia inteiramente feliz. Mas a música lhe é ao mesmo tempo terapêutica, outro de seus objetivos cumpridos com o jazz. Algo dentro da audiência se acalmava no show.

"Há nas canções esse poder de curar." Sabe disso por experiência própria. Foi com a música que Porter de alguma maneira superou a ausência paterna. Ele escreveu durante a infância uma peça musical em que o progenitor lhe entregava um pedido de desculpas pelo sumiço. "Eu tinha essa dor no peito e sabia que algo estava errado"

Porter tinha, àqueles anos, um substituto para o que lhe faltava: os discos de sua mãe. "Eu imaginava que Nat King Cole fosse meu pai." Seu próximo álbum, "Nat King Cole & Me", serve assim de presente ao antepassado por escolha.

VEJA O TRAILER DO ÁLBUM

Veja o trailer

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página