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Cabeça desocupada é oficina de criatividade, diz estudo

Quanto mais você ocupa o cérebro com informações variadas e listas de pendências, menos criativo consegue ser. A conclusão é de um estudo publicado neste ano pela Universidade Bar-Ilan, de Israel.

Neurocientistas constataram que pessoas sobrecarregadas têm menos energia para criar soluções diferentes daquelas com as quais já estão acostumadas.

Os pesquisadores dividiram os 135 participantes em dois grupos. Um decorou uma sequência de números curta e outro, uma longa. Em seguida, todos respondiam o que vinha à cabeça ao ouvir determinada palavra.

O primeiro grupo fez associações livres mais criativas, como ligar "branco" a "nuvem"; o segundo recorria a fórmulas convencionais (ligar "branco" a "preto"). "Vimos que as pessoas são mais criativas quando estão com a mente livre", diz uma das pesquisadoras, Shira Baror.

Fernando Moraes/Folhapress
O gerente de marketing Jorge Barros, 34, na empresa em que trabalha, em São Paulo
O gerente de marketing Jorge Barros, 34, na empresa em que trabalha, em São Paulo

Moral da história, segundo a neurocientista israelense: "É preciso poupar recursos do cérebro para investi-los na busca de soluções originais".

Concorda com ela Brigid Schulte, autora de "Overwhelmed: Work, Love, and Play When No One Has the Time" (Sobrecarregado: trabalho, amor e lazer quando ninguém tem tempo; ed. Bloomsbury; na Amazon, o e-book custa R$ 52,16 e a versão física, R$ 54,90).

Para essa escritora norte-americana, o homem está perto de esgotar as capacidades do cérebro. "Entramos em modo de sobrevivência e só pensamos em chegar ao fim do dia. Mas nosso cérebro é estruturado para que tenhamos as melhores ideias no chuveiro", diz.

Foi o que percebeu o gerente de marketing Jorge Barros: ele precisou reduzir a carga de estímulos para achar soluções mais originais para os clientes e passou a fazer pausas no trabalho, para que as ideias fluíssem.

"Uma vez eu preparava uma campanha e a coisa não andava. À noite, fazendo caminhada, surgiu a ideia. No dia seguinte, fiz em minutos o que não tinha conseguido fazer o dia anterior todo."

No lado oposto ao dos especialistas em gestão do tempo, a norte-americana Brigid Schulte diz ter "um relacionamento de amor e ódio" com listas de tarefas.

"Colocamos ali um número gigantesco de tarefas e nos sentimos mal quando não conseguimos executá-las. Eu tinha expectativas irreais quanto a isso."

A escritora afirma que as listas são "depósitos" de pendências, mas que é preciso priorizar no máximo cinco atividades por dia. "Escolha com cuidado, mas saiba que você não vai fazer tudo hoje."

Processamento de Dados

PLANO DE TRÍADE

Segundo o especialista em produtividade Christian Barbosa, planejar não é fazer listas para hoje, mas ter a capacidade de antecipar. "Sem isso, entramos em estado reativo, com excesso de adrenalina e de atividades."

Ele sugere o "planejamento de tríade", que leva em conta três dias, não um. "Se hoje é segunda e você tem um relatório para quinta, por que não fazê-lo com calma na terça? É preciso controlar as demandas, em vez de só reagir a elas. Sem lotar a agenda, fazemos isso melhor."

Especialista em estresse, a psicóloga Marilda Lipp critica a glamourização das multitarefas. "Quem faz várias coisas ao mesmo tempo acha que produz com mais qualidade, mas leva mais tempo do que se fizesse uma tarefa de cada vez", diz.

Pesquisa de 2010 da Universidade de Londres com 1.100 pessoas mostrou que exercer atividades simultâneas pode derrubar em até 15 pontos o QI (quociente de inteligência) de um profissional. "Além disso, ele tem a capacidade de priorização comprometida", diz a psicóloga.

Acontece que líderes empresariais adotam a cultura multitarefa, lembra Yukiko Takaishi, diretora da recrutadora Stato: "Os profissionais são vistos como mais ágeis, a chefia valoriza o fato de ser atendida com rapidez. Não há como escapar disso."

A chave, então, para alcançar algum equilíbrio entre demandas e boas ideias é a eleição de prioridades, de acordo com a psiquiatra Giuliana Cividanes, da Unifesp.

"Quando estamos sob estresse, o cérebro entra em modo automático para garantir a energia a ser usada para lidar com o que ele interpreta como perigo. Como ele não diferencia ameaças reais da pressão do dia a dia, você perde a capacidade criativa."

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