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Mais que uma vaga, pessoa com deficiência quer chegar ao topo

Depois de preencher as vagas para pessoas com deficiência previstas por lei, o desafio das empresas é criar um plano de carreira para extrair o melhor desse profissional.

"Senão, o custo de tê-lo no quadro de funcionários se torna muito alto. Contratar só para fechar uma cota é uma forma burra de encarar a legislação", afirma o especialista em gestão de pessoas Joel Souza Dutra, professor da FIA (Fundação Instituto de Administração).

Muitas vezes, porém, é isso que acontece. Uma pesquisa nacional da i.Social, recrutadora especializada em profissionais com deficiência, aponta que 86% dos entrevistados, da área de recursos humanos, contratam apenas para cumprir a regra. A lei, de 1991, define o percentual de pessoas com deficiência que cada empresa deve ter no seu quadro (veja ao lado).

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 06-09-2016, 16h20: ACESSIBILIDADE. Retrato de Ana Alves, que tem um problema na mao e trabalha no RH da empresa farmaceutica Novartis. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, CARREIRAS) ***EXCLUSIVO FSP***
Ana Alves, 29, que trabalha no RH da farmacêutica Novartis

"Muitas vezes, o RH não faz uma boa triagem de perfil antes de contratar e leva em conta apenas a deficiência, se é um problema leve ou grave", diz a presidente da recrutadora, Andrea Schwartz. "Entre as vagas, calculo que 70% estão na base da pirâmide, embora tenhamos candidatos bem qualificados."

Ana Alves, 29, analista de recursos humanos da farmacêutica Novartis, afirma que já recebeu propostas de emprego em posições de entrada mesmo acumulando experiência desde 2008.

"Queriam que eu fosse assistente, o que não faz sentido, já que tenho experiência, sou formada e estudo inglês", afirma Alves, que tem baixa mobilidade na mão direita, causada por um acidente.

Ela é responsável por recrutar profissionais com deficiência para a farmacêutica e também ajudou a criar um programa que mapeia esses funcionários para promovê-los a cargos seniores.

Dutra afirma que há espaço para a criação de políticas de evolução para esses profissionais, que em geral são preteridos nos planos de carreira corporativos.

"As empresas devem ser pragmáticas e começar a aproveitar os profissionais que já estão incorporados a sua estrutura", diz.

Joel Silva/Folhapress
SAO PAULO, SP BRASIL- 06-09-2016 : Guilherme Bara, que é cego e tem um cargo de gestão na Basf, para caderno Carreiras e negocios ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***ESPECIAIS*** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
Guilherme Bara, 39, que é cego e tem um cargo de gestão na Basf

RESISTÊNCIA

Para Schwartz, as empresas ainda resistem à ideia de ter um profissional com deficiência em cargo sênior. "Há uma questão cultural, acham que ele não dará conta. Das vagas que recebo, 2% são para analistas experientes", diz.

É o que o administrador Guilherme Bara, 39, percebe na prática. Cego desde os 15 anos, Bara é gerente na Basf, multinacional do setor químico, e afirma que não conhece pessoas com deficiência em nível igual ao dele.

"Sou exceção em todos os ambientes que frequento. Sempre acontece de eu ir a uma reunião e fazerem uma apresentação com slides. Sei que é difícil para os outros também, porque não se pensa muito sobre o assunto."

Dutra recomenda que as empresas se esforcem em direcionar perfis e competências para a função adequada. "Com uma colocação bem feita, a empresa passa a ver que a deficiência não define o profissional e dá espaço para a evolução", diz.

Para Bara, a presença dos deficientes no mercado pode ser um catalisador para inclusão cada vez maior. "Tê-los dentro das empresas faz com que as pessoas vejam que trazemos uma contribuição importante", afirma.

*

QUEM CONTRATA
O que pensam os profissionais responsáveis pelo recrutamento de pessoas com deficiência*

FALTA DE PREPARO
Quase todos os profissionais de RH (94%) opinam que os gestores precisam de mais informação para lidar com pessoas com deficiência; 49% manifestaram resistência em contratá-las

PARA CUMPRIR TABELA
Boa parte dos profissionais de RH (86%) assume que contratam apenas para cumprir a lei e 60% opinam que as vagas poderiam ser mais adequadas aos perfis profissionais

DESAFIOS NA CONTRATAÇÃO
Entre os principais problemas no recrutamento e na seleção desses profissionais estão, segundo os entrevistados, a baixa qualificação dos candidatos e a falta de estrutura na empresa

PRECONCEITO NA EMPRESA
Sete em dez entrevistados acham que profissionais com deficiência enfrentam preconceito no trabalho; 32% dizem que essa é uma das principais barreiras para elas ficarem no mercado

Fonte: iSocial, recrutadora especializada, e Ministério do Trabalho
*Pesquisa realizada pelo iSocial, em junho de 2016, respondida por 1.459 profissionais da área de recursos humanos em todo o Brasil

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