As faculdades de administração estão ouvindo cada vez mais as demandas do mercado de trabalho, que busca profissionais independentes e capazes de circular por diversos setores.
Além de aumentar a matriz curricular, com disciplinas em outras áreas –como comércio exterior–, as instituições passaram a oferecer experiências práticas, com módulos em empresas parceiras.
Por trás dessa mudança está a necessidade de uma formação cultural ampla, que permita que o profissional atue em várias frentes, desde mercado financeiro até marketing, segundo Luiz Artur Brito, diretor da escola de administração da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Bruno Santos/Folhapress | ||
Felipe Romero, 21, que fez a matéria de resolução de problemas durante seu curso no Insper |
"O empregador não quer mais saber no que a pessoa se formou, mas se ela vai dar conta do recado. Hoje vemos, por exemplo, muitos engenheiros no mercado financeiro. É preciso ser versátil", diz Silvio Passarelli, diretor da escola de administração da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).
Para Raphael Falcão, diretor da consultoria de recursos humanos Hays, quanto maior for a bagagem do profissional, mais versátil ele será –e isso, diz ele, ajuda a crescer rápido na carreira.
ESCOLA
A partir de 2018, a Faap vai permitir que alunos dos cursos de administração, economia, direito e relações internacionais possam circular pelas quatro faculdades.
Já a FGV tem disciplinas práticas em sustentabilidade e liderança empreendedora. Nesta última, não há matérias nem professores. Os alunos recebem desafios e têm ajuda de "líderes de equipe" para solucioná-los.
O programa foi inspirado na escola de design e negócios dinamarquesa Kaospilot, que tem essa estrutura.
A estudante Isadora Pollo, 22, encontrou uma forma de ganhar confiança antes de disputar sua primeira vaga.
"Não me sentia pronta para entrar no mercado e não sabia bem o que queria, então ganhei prática em um ambiente mais seguro", diz.
MUNDO REAL
Mas há a possibilidade de experimentar o mercado fora da faculdade. No Insper, a disciplina de resolução de problemas é cursada em organizações como Ambev, Coca-Cola e Bauducco.
Os alunos recebem um problema da empresa para solucionar e têm um consultor de negócios como orientador.
Para Felipe Romero, 21, que conclui a disciplina no fim deste ano, se relacionar com profissionais experientes e ver na prática o que aprendeu em sala de aula foi a melhor parte do curso.
"Quando tínhamos conflitos, me lembrava das aulas de gestão de pessoas e aplicava aquilo à situação. Aprimorei a parte comportamental", afirma o estudante.
Essas competências socioemocionais, como liderar, delegar tarefas e ouvir os colegas são lacunas na formação desses jovens, para Denise Paludetto. diretora de RH da consultoria Falconi. Segundo ela, quem não se esforçar para melhorá-las pode ter problemas quando chegar a um cargo de gestão.
"Sem essas habilidades não se forma um líder que consiga acumular influência e respeito perante sua equipe", afirma.