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RH deve mediar ações de integração para evitar constrangimentos

Festas e ações de integração de funcionários são um desafio para as empresas. Departamentos de recursos humanos e os próprios profissionais devem ficar atentos para não exagerar na informalidade e acabar com uma lista de demissões e outras encrencas no dia seguinte.

A troca de comando na companhia de software Salesforce, noticiada pela Folha na última semana, pode servir de lição nesse sentido.

Durante a festa de fim de ano da empresa no Brasil, houve um concurso de fantasias, e um dos profissionais foi vestido de "Negão do WhatsApp", com uma prótese falsa de pênis. Em seguida, a matriz, em São Francisco (EUA), demitiu o funcionário, o diretor comercial e o presidente para o Brasil.

Uma saída para evitar esse tipo de situação é melhorar a avaliação de quais políticas —incluindo festas, confraternizações, palestras e treinamentos, por exemplo— são eficazes dentro de cada ambiente profissional e ajustá-las, explica Wilma Dal Col, diretora da consultoria de RH Right Management

Para Dal Col, além de buscar no mercado ideias "moderninhas" para ações de RH, falta avaliar casos que não deram certo e entender o que pode ter acontecido. "Aprender com equívocos das outras empresas diminuiria erros nessas políticas inovadoras."

REGRAS

Ao propor um evento ou ação que integre as equipes, é preciso colocar regras para que a situação não saia de controle, afirma Luiz Wever, presidente da consultoria Odgers Berndtson no Brasil.

"Dá pra ser algo simples, como propor um tema para as fantasias. Do contrário, alguém pode ser mais ousado e desagradar os gestores."

Há casos em que falta cuidado para integrar os valores das pessoas, da empresa, as culturas do país e da matriz e a exposição nas redes sociais, segundo Tania Casado, doutora em administração e professora da USP (Universidade de São Paulo).

É vital contar com a ajuda dos chefes, que podem ser uma ponte entre as expectativas do RH e o comportamento dos funcionários, de acordo com a diretora de transição de carreira da consultoria LHH, Irene Azevedoh. "Os gestores podem fazer um trabalho de mentoria, indicando o objetivo do RH."

A solução, segundo Wever, da Odgers Berndtson, não é abandonar a informalidade, já que ela é útil para melhorar o clima nas empresas. Mas deve haver cuidado para não afetar a marca da empresa e para que uma atitude não ofenda parte do grupo.

DA PORTA PARA DENTRO

Para não errar, o colaborador deve observar bem o contexto. A cultura corporativa, mais do que uma série de regras expostas na intranet da firma, são condutas convencionadas não só por escrito, segundo Dal Col.

"O ambiente e as relações também ajudam a indicar o que é esperado dos funcionários. Se as pessoas não fazem piadas ou são rígidas com horários, replica-se esse comportamento", afirma.

Se a empresa for multinacional, o cuidado deve ser redobrado. "Em organizações anglo-saxãs e orientais, é forte a ideia de que cada um é responsável pelos seus atos, então não se espera que alguém diga o que não pode ser feito", diz Carmen Migueles, doutora em sociologia e antropologia e docente da FGV (Fundação Getulio Vargas).

É preciso ter em mente que, mesmo em empresas informais, a pessoa é uma representante da organização. Isso se estende para eventos externos, festas de fim de ano e viagens corporativas.

"Ainda que o local seja diferente ou as relações sejam pessoais, não é um encontro de amigos", diz a coordenadora do MBA em gestão de RH da FGV, Denize Dutra.

E, de forma deliberada ou não, as pessoas estão de olho (e julgando) o comportamento dos outros. Por isso, se sentir confortável demais dentro da empresa pode gerar um problema no futuro.

"Toda pessoa tem uma marca pessoal e precisa cuidar dela", diz Carlos Eduardo Ribeiro Dias, sócio da consultoria de RH Hub Talent.

Colaborou ANA LUIZA TIEGHI

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SEM MEDIDA
Histórias constrangedoras de funcionários e empresas que pesaram a mão na informalidade

Henrique Assale/Folhapress

Declaração de amor

Em uma festa de final de ano, uma funcionária bebeu demais, subiu em uma das mesas do salão e se declarou para o chefe, que ficou constrangido. No dia seguinte, alegou que se tratava apenas de uma brincadeira. Mas não teve jeito: foi demitida

Henrique Assale/Folhapress

Lavando a égua

Uma empresa adotou como slogan de vendas a expressão "vamos lavar a égua", que significa aproveitar muito. Ao apresentar a estratégia aos colaboradores, levaram um cavalo para o auditório e pediram aos vendedores que lavassem o animal ali mesmo

Henrique Assale/Folhapress

Romance proibido

Uma companhia de aviação decidiu que não toleraria relacionamentos entre seus funcionários. A posição era defendida pelo presidente, mas tempos depois descobriu-se que ele tinha um caso com uma das profissionais. Logo depois, foi demitido

Henrique Assale/Folhapress

Sob fiança

Um executivo foi fazer um curso fora do país, pago pela empresa. Após as aulas, embriagou-se com os colegas, brigou com o segurança da porta de um bar e foi preso. A empresa precisou contratar um advogado para tirá-lo da cadeia

Henrique Assale/Folhapress

Perdendo a linha

Uma faculdade marcou a festa de fim de ano dos professores em uma boate. Lá, alguns exageraram na bebida e uma até tentou paquerar o diretor. O resultado? Depois do ocorrido, passaram a confraternizar em um jantar com hora para acabar

Henrique Assale/Folhapress

Cabeça fresca

Uma funcionária chegou atrasada a um seminário da empresa toda esbaforida. O consultor que falava no palco achou por bem chamá-la à frente de todos os outros colegas e a colocou embaixo de uma torneira para que "esfriasse a cabeça"

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