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Nova geração de mulheres busca uma conquista de cada vez, diz psicóloga

A nova geração de mulheres busca se organizar mais do que suas mães e avós: quer desenvolver o "eu" profissional antes de casar e ter filhos, segundo a psicóloga Cecília Russo Troiano, 53, diretora da empresa de gestão de marcas TroianoBranding e autora do livro "Garotas Equilibristas: o projeto de felicidade das mulheres que estão chegando ao mercado de trabalho".

Mas sem gastar energia demais em uma ponta ou outra, buscando o equilíbrio entre vida pessoal e carreira. A geração anterior, diz a psicóloga, dedicou tempo demais ao trabalho –uma forma de lutar por espaço em ambientes dominados por homens.

Para as jovens, não adianta só pagar bem: o emprego deve estar alinhado com seus propósitos e valores. Também buscam uma rotina mais flexível, seja por meio do home office ou do empreendedorismo.

Divulgação
Cecília Russo Troiano, diretora geral da TroianoBranding
Cecília Russo Troiano, diretora geral da TroianoBranding

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Folha - Você diz em seu livro que as jovens que entram no mercado de trabalho não querem abrir mão da vida pessoal por causa da profissão, nem o contrário. O que querem?
Cecília Russo - Um ponto de equilíbrio entre os dois. É uma geração que quer respirar. Qualquer um desses extremos representa caminhos limitantes, pouco oxigenados. Querem liberdade, fazer escolhas em vez de ser conduzidas.

A nova geração tem mais facilidade para equilibrar as duas coisas?
As jovens têm nisso uma motivação. Diferentemente da geração das suas mães, não querem exagerar no tempo dedicado ao trabalho. Não significa que queiram abrir mão das conquistas das últimas décadas ou da independência financeira. Ou da maternidade, que pode acontecer mais tarde. É como se não quisessem viver o mesmo desgaste que as mães viveram ao tocar tudo ao mesmo tempo, vida pessoal, profissional e maternidade. Não quer dizer que não queiram coisas parecidas, mas se organizam de um jeito próprio. Essa geração fortalece primeiro o "eu profissional" para depois criar o "eu casal" e, se tudo correr bem, o "eu mãe". Três momentos que antes se embolavam.

O que essa nova geração busca em um emprego?
Procura um trabalho que tenha propósito e reflita seus valores. As mães dessas jovens tiveram que lutar para provar que eram tão capazes quanto os homens. A nova geração já entra no mercado com o "eu posso" resolvido e pode ir além, pensando mais sobre qual caminho quer seguir.

A valorização do controle sobre suas vidas incentiva o empreendedorismo?
O significado de carreira vem mudando. Não tem mais aquele sentido definitivo e estanque. O empreendedorismo surge como o ideal de construir o universo dos negócios ao meu modo, ao meu tempo e ao meu ritmo. É uma geração que quer construir coisas do seu jeito.

A maternidade também está em construção?
Elas rejeitam o modelo de maternidade no qual criam os filhos sozinhas. Cobram um equilíbrio maior na distribuição de tarefas. Essas mudanças levam também as empresas a repensar os seus formatos.

De que forma?
Horários mais flexíveis, home office, licença-paternidade. Mas não acredito em políticas de gestão de pessoas só para mulheres, exceto em caso de amamentação. Têm que valer para ambos os sexos.

Segundo a socióloga americana Pamela Stone, citada em seu livro, as mulheres estão sendo forçadas a "jogar a toalha" de suas ambições profissionais e voltar para casa, como se houvesse um duto com vazamento que as empurrasse para fora do mercado. Concorda?
Em parte, sim. Muitas mulheres sentem-se pressionadas pelas cobranças, pelo horário, e acabam optando pela saída. Não é que tenham escolhido cuidar da família, apenas não tiveram outra opção.

A chefe de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, por sua vez, diz que as mulheres devem adotar uma postura "reta" e almejar nada menos que o topo para vencer numa esfera dominada por homens. Acredita ser o caminho?
Discordo. Acho que cada mulher tem que fazer a sua escolha e definir qual é o seu topo. Dizer que só há um caminho é o avesso da liberdade de escolha.

Qual o segredo para equilibrar carreira e vida pessoal?
Primeiro, refletir sobre qual é o caminho que se quer seguir para alcançar a felicidade. Em segundo lugar, se aproximar de pessoas que tenham o mesmo ideal, seja nos relacionamentos profissionais ou afetivos. E aceitar que perfeição não existe, o que ajuda a amenizar a pressão.

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Raio-X

Cecília Russo Troiano, 53

Carreira: Diretora geral da consultoria de gestão de marcas TroianoBranding

Formação: Psicóloga pela PUC-SP e mestre em estudos de gênero pela Georgia State University

Garotas Equilibristas: o projeto de felicidade das mulheres que estão chegando ao mercado de trabalho

Editora Pólen, 192 págs., R$ 38,71

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