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carreira executiva

'O bom gestor pensa no impacto de suas ações na sociedade', diz professor indiano

Foi a crise econômica de 2008 que despertou o interesse do indiano Umesh Mukhi, 31, para o papel das escolas de negócios na formação de líderes preocupados com sustentabilidade.

Segundo ele, as instituições tiveram uma parcela de culpa na recessão global à medida que formaram -e ainda formam- alunos direcionados a aumentar a produtividade das empresas de forma desenfreada, sem responsabilidade com o ambiente.

Nascido em Mumbai, Umesh se formou em engenharia eletrônica e de telecomunicações em 2009. Na França, fez mestrado e doutorado na Universidade de Nantes. Em 2017, casou-se com uma brasileira de Cuiabá, que conheceu dois anos antes durante um congresso de meditação na Itália.

KarimeXavier/Folhapress
O professor Umesh Mukhi, 31, na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo

Há um mês, ele mudou-se para São Paulo convidado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) para lecionar no curso de mestrado em gestão internacional e de graduação em administração de empresas.

Em entrevista na instituição, o professor falou sobre a importância da meditação para criar líderes sustentáveis.

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O que significa exercer uma liderança sustentável? Para mim, é mais do que ter responsabilidade social e ambiental. É passar por uma mudança pessoal e se perguntar: "Qual é minha visão de futuro? Qual é meu propósito para mudar alguma coisa? Quais são os impactos das minhas ações na vida das futuras gerações e das pessoas hoje?".

Como as empresas têm tratado essa questão?  Mesmo nas organizações que têm uma dimensão do que é sustentabilidade, ela é encarada como uma obrigação a ser preenchida. Todas as equipes da empresa precisam ter essa cultura de tomar decisões sustentáveis. Muitos chefes acham que sustentabilidade é separar o lixo. Se ele faz isso, mas não se comporta bem com o outro, não é sustentável.

Como você vê a ideia de que, para ser um bom chefe, é preciso trabalhar demais?  Essa guerra de quem fica mais tempo no escritório é uma doença. Estudos mostram que, para melhorar a produtividade, não é preciso ficar mais tempo no trabalho. É importante que o líder mude essa cultura das organizações. A razão desse comportamento tem a ver com pressão social, que faz o chefe querer mostrar para a equipe que trabalha duro, e também com insegurança. Se tenho consciência de que sou um funcionário honesto e dedicado, de que minha atenção é boa e de que não fico fofocando em vez de trabalhar, eu posso sair no meu horário e dar um bom exemplo.

O líder tem de ser um bom comunicador?  Ele precisa se comunicar bem, mas não é só isso. Em geral, as pessoas acham que um líder precisa ser carismático, mas não necessariamente. Tanto pessoas extrovertidas quanto introvertidas podem liderar, tudo depende do contexto. O mais importante é que o gestor tem que mergulhar nas situações e sentir os problemas das pessoas, porque só dessa maneira ele vai encontrar as soluções.

Quais são as características de um líder sustentável?  Sete são muito importantes: inocência, paz, criatividade, compaixão, coletividade, capacidade de perdoar e integrar todas essas qualidades.

Como assim inocência?  Significa que a pessoa não fica fascinada com qualquer coisa, com bens materiais. O líder com inocência combinada a profundidade tem intuição para seguir uma direção certa, sem se preocupar com o que é moda.

E por que as outras qualidades são importantes?  Se o líder não tem paz dentro dele, não consegue transmiti-la aos outros. Se não tem criatividade, não consegue achar soluções não ortodoxas. Se não tem coletividade, não vai seguir uma direção conjunta com a organização. Se não consegue perdoar e não tem humildade, nunca vai ouvir soluções que vêm dos outros.

Mas é possível ter tudo isso ao mesmo tempo?  Você não nasce um líder. Liderança é um processo de aprendizagem contínua. Claro que você vai nascer com valores e qualidades, mas vai ter que aprender outros. Há como desenvolver todas as características. E ioga e meditação ajudam muito nisso.

Como?A meditação tem efeito neurobiológico que ajuda a desenvolver todas essas caraterísticas dentro de nós. Isso é interessante para a cultura do ocidente, porque, na Índia, já faz 5.000 anos que esse conhecimento existe. Agora, a gente tem provas científicas disso. Qualquer pessoa que começa a meditar pode conseguir um nível de estabilidade e de segurança que abre uma nova dimensão para uma mudança pessoal, organizacional e social.

O que pensa sobre mindfulness, técnica usada para atingir a atenção plena, cada vez mais estimulada pelas empresas? É uma boa notícia que as organizações pelo menos estão mais sensíveis e integram ao lugar de trabalho essa forma de bem-estar. Mas é uma moda. O objetivo do mindfulness é bom, porque é um tipo de introspecção, mas é de curto prazo. [É uma técnica] para ter mais consciência do que se está sentindo, para onde direcionar as emoções. Não ajuda, porém, a chegar ao estado do sem pensamento, que é o estado da paz total. O mindfulness fica só no nível da consciência. Mas, para controlar a mente, é preciso ir além da mente.

Umesh Mukhi, 31
Especialista em liderança sustentável, o indiano é professor recém-contratado da FGV (Fundação Getulio Vargas) em São Paulo. Formou-se em engenharia eletrônica e de telecomunicações. Fez mestrado em negociações internacionais e doutorado em responsabilidade social nas escolas de negócios na França. Recebeu o título de embaixador do Club Unesco Sorbonne por sua contribuição intercultural entre a Índia e o resto do mundo

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