Pandemia aumenta adesão a programas de bem-estar e apoio psicológico no trabalho

Em pesquisa com 277 empresas, 72,4% disseram que importância da saúde mental cresceu na era pós-Covid

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São Paulo

Já discutida antes desta pandemia, a questão da saúde mental no trabalho emergiu ainda mais com o distanciamento social e suas consequências, aumentando a necessidade da manutenção do bem-estar no ambiente profissional.

"A gente não está vivendo o home office, mas o trabalho remoto obrigatório. Isso faz com que as demandas, obrigações e estresses do trabalho convivam diretamente com as questões familiares, no mesmo ambiente", diz Paulo Cardoso, vice-presidente de soluções de saúde da consultoria de gestão de riscos Aon Brasil.

Ilustração de uma mulher na frente do computador com pequenos detalhes de atividades diversas em cima da cabeça dela, com expressão de sobrecarga
Oksana Stepova /Adobe Stock

De acordo com uma pesquisa conduzida pela empresa durante o segundo semestre de 2020, a pandemia fez crescer a importância do oferecimento de bem-estar para colaboradores para 72,4% das 277 empresas respondentes no Brasil.

O impacto já é sentido por empresas terceirizadas que oferecem serviços de apoio psicológico, como a Zenklub. Fundada em 2016 pelo médico português Rui Brandão após uma experiência familiar com síndrome de burnout (doença causada pelo esgotamento profissional), a companhia passou de 12 clientes corporativos para 214.

"Empresas precisam subsidiar a saúde mental dos colaboradores, mas os colaboradores também precisam se sentir engajados a usar os serviços", afirma Brandão.

A farmacêutica BMS (Bristol Myers Squibb) e a fabricante de materiais de construção LafargeHolcim, por exemplo, reforçaram com as equipes as iniciativas ligadas à saúde mental já disponíveis antes da Covid-19.

Na BMS, além de suporte psicológico e psiquiátrico direto por meio de atendimentos individuais, também há sessões de meditação toda semana e bloqueio das reuniões às sextas-feiras, na tentativa de tornar o expediente mais tranquilo. A companhia afirma que houve um aumento do número de funcionários que buscam programas de apoio psicológico.

O mesmo ocorreu na LafargeHolcim, que, assim como a BMS, contratou uma empresa terceirizada para oferecer serviços de psicologia e psiquiatria. Segundo Rachel Amancio, do RH da companhia, a grande mudança durante a pandemia foi a implementação de uma assistente virtual que monitora o humor dos colaboradores por meio de questionários quinzenais.

A demanda chegou também aos planos de saúde. Segundo Tereza Veloso, líder de iniciativas de saúde mental na SulAmérica, a empresa registrou, nos últimos cinco anos, um aumento de 112% nas consultas psiquiátricas e mais de 270% nas sessões de psicoterapia.

Em 2019, foi criado um programa específico para a saúde mental em empresas, o Única Mente, dentro do guarda-chuva de um programa de bem-estar existente desde 2002.

A ideia é desenvolver mecanismos para mapear dentro da empresa quais são as áreas de estresse e desgaste e promover palestras e orientações sobre saúde mental. Além disso, também faz parte do programa a capacitação de gestores, para que identifiquem e encaminhem casos de transtornos psíquicos para atendimento especializado.

Para Veloso, também é importante é identificar precocemente casos de burnout, depressão e ansiedade para evitar que as doenças cheguem ao ponto de afastar o funcionário do trabalho.

Ela afirma que quem mais adere aos programas de saúde mental são mulheres na faixa etária dos 26 aos 43 anos e que, hoje, as consultas de psicologia e psiquiatria são as mais procuradas do programa de telemedicina da seguradora.

A relação entre trabalho e saúde mental, porém, é mais complexa do que o oferecimento de suporte psicológico por empresas. Segundo a professora de psicologia do trabalho da PUC-SP Renata Paparelli, é necessário reconhecer que grande parte dos transtornos psíquicos é consequência do próprio trabalho –seja por insegurança, seja por excesso de atividades.

"O burnout, por definição, é causado pelo trabalho", diz Paparelli. "O próprio processo de trabalho, mesmo em tempos não pandêmicos, é fonte de sofrimento psíquico."

Segundo a professora, para chegar a um ambiente corporativo mais saudável é necessário fazer mais do que oferecer o suporte quando os problemas aparecem, mas adaptar o trabalho à vida –e não o contrário.

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