Descrição de chapéu The New York Times tiktok

Jovens da geração Z postam currículo em forma de vídeo nas redes sociais

Empresas americanas já buscam candidatos no TikTok, que criou uma hashtag para reunir posts com perfis de profissionais

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Taylor Lorenz
The New York Times

“Chamando todos os recrutadores!”, gritou a universitária Makena Yee, 21, para a câmera, em um recente vídeo para o TikTok. “Vejam só as razões para me contratar."

Ela foi adiante, descrevendo suas qualificações. “Tenho determinação e confiança. Gosto de me manter organizada. Sou versátil e trabalho bem em equipe”, ela disse, enquanto imagens de empresas para as quais trabalhou passavam pela tela verde que ela usava como fundo.

O vídeo de 60 segundos não demorou a ser visualizado 182 mil vezes e atraiu centenas de comentários. Outros usuários o direcionaram a potenciais empregadores. “Alguém contrate essa mulherrrr”, implorou um deles. Yee disse ter recebido mais de 15 indicações de emprego —ela planeja escolher um deles depois de um estágio nas férias de verão.

Na busca dos jovens por um emprego, currículos sucintos de uma página estão se tornando tão obsoletos quanto uma máquina de fax. E isso pode ser acelerado por um aplicativo mais conhecido por vídeos virais de dança e de dublagem de música: o TikTok.

Cada vez mais universitários e formandos recentes usam a rede social para desenvolver contatos profissionais e procurar trabalho, e a companhia introduziu um programa que permite que pessoas se candidatem diretamente a vagas.

Os empregadores, que enfrentam escassez de mão de obra nos Estados Unidos, estão interessados. Chipotle, Target, Alo Yoga, Sweetgreen e mais de três dúzias de outras empresas começaram a recorrer ao TikTok para contratar pessoal.

Ilustração de dois celulares frente a frente com uma mão saindo de cada um deles e apertando a outra, em expressão de negócio fechado
The New York Times/George Wylesol

O currículo de TikTok é essencial para esses esforços. Os candidatos a empregos submetem vídeos com o hashtag #TikTokResumes ou vão ao site TikTokresumes.com para mostrar suas qualificações, mais ou menos como alguns processos de seleção do passado pediam que candidatos escrevessem uma redação.

Os vídeos incluem informações de contato e, se os candidatos desejarem, um link para um perfil de LinkedIn. Os empregadores revisam os vídeos, que devem ser acessíveis para todos os visitantes, e marcam entrevistas com os profissionais que lhes pareçam mais interessantes.

Os currículos são um esforço para ajudar os jovens a conseguir um trabalho bem pago, afirmou em um comunicado Kayla Dixon, gerente de marketing do TikTok que desenvolveu o programa.

O projeto é parte daquilo que o TikTok chama de careertok, a área do serviço em que as pessoas trocam informações sobre busca de emprego, preparação de currículos e oportunidades de trabalho. Vídeos com o hashtag #edutokcareer foram vistos mais de 1,2 bilhão de vezes desde que o aplicativo foi lançado nos Estados Unidos em 2018.

Mas os currículos em vídeo também despertaram preocupações. O formato elimina uma camada de anonimato, permitindo que empregadores descartem candidatos com base em sua aparência ou forma de agir.

Boa parte do networking que acontece no TikTok também depende de conquistar grande número de acessos, o que pode ser difícil para quem não é habilidoso na criação de conteúdo ou encontra dificuldades para obter distribuição igual no feed da rede social.

O TikTok não é a primeira plataforma de mídia social que companhias buscaram transformar em alavanca para recrutamento. O LinkedIn, site de netwoking profissional controlado pela Microsoft, é muito usado por recrutadores e candidatos a emprego. Em 2015, a Taco Bell anunciou oportunidades de estágio no Snapchat e, em 2017, o McDonald’s permitiu que pessoas se candidatassem a empregos por meio de um recurso do Snapchat chamado “Snaplications”. No mesmo ano, o Facebook começou a permitir que companhias anunciassem vagas de emprego em suas páginas e que se comunicassem com candidatos por meio do Facebook Messenger.

O TikTok agora está levando tudo isso ainda além, com um recurso para recrutamento via vídeo, em lugar de um link para uma página mais convencional de candidatura a emprego.

Ainda que o serviço de currículos do TikTok esteja aberto a pessoas de todas as idades, os vídeos mais vistos entre os submetidos com o hashtag #TikTokResumes são os de pessoas da geração Z, a maioria das quais ainda universitárias. O aplicativo disse que 800 pessoas submeteram currículos por meio do hashtag na semana passada.

“Contratar pessoas ou identificar candidatos por vídeo parece uma evolução natural de nossa posição atual como sociedade”, disse Karyn Spencer, vice-presidente mundial de marketing da Whalar, uma companhia de influenciadores que recentemente usou o TikTok para contratar um empregado.

“Estamos todos nos comunicando mais e mais por meio de vídeos e fotos, mas muitos dos currículos que nossas equipes de recrutamento recebem têm cara de 1985”, afirmou.

Kalli Roberts, 23, aluna da Universidade Brigham Young, em Utah (EUA), disse que o filme “Legalmente Loira”, de 2001, inspirou seu currículo no TikTok. Ela lembrou do famoso ensaio de candidatura em vídeo que a personagem principal do filme, Elle Woods, submete para buscar admissão à escola de direito da Universidade Harvard.

“Por favor aceite esse vídeo como minha candidatura formal em estilo Elle Woods”, escreveu Roberts na legenda de seu vídeo. O vídeo que ela subiu para o TikTok ganhou circulação viral, e ela conseguiu um estágio no departamento de negócios internacionais do TikTok.

“Eu não senti que minha personalidade ou a pessoa que sou de verdade eram capturadas em um currículo de papel”, disse Roberts. O TikTok permitiu que ela mostrasse competências, como edição de vídeo e capacidade para falar em público, que seriam apenas menções em um currículo escrito, ela disse, acrescentando que “outras dez empresas além do TikTok me disseram que estavam interessadas em mim”.

Muitos recrutadores estão em busca de material diferente das inscrições tradicionais de candidatos online ou em sites de networking como o LinkedIn, disse Sherveen Mashayekhi, fundador e presidente-executivo da Free Agency, uma startup cujo foco é a contratação de pessoal para o setor de tecnologia.

“Cartas de apresentação nem são lidas, e currículos não são preditivos, de modo que formatos alternativos são necessários”, ele disse. “Nos próximos cinco a dez anos, não estaremos mais limitados só a vídeos. Haverá outras formas de avaliação, como jogos, nos estágios iniciais dos processos seletivos."

Algumas companhias dizem que currículos no TikTok são uma maneira útil de avaliar candidatos cujas funções envolverão contato com o público. O Chipotle postou anúncios no aplicativo para mais de cem vagas, até agora, a fim de contratar pessoal para seus restaurantes, disse Tressie Lieberman, vice-presidente de marketing digital da companhia.

“Em nossos restaurantes, cozinhamos de verdade”, ela disse. “Por isso, ver o talento culinário das pessoas nos entusiasma, quer seja preparando um frango grelhado, mostrando habilidades de corte ou fazendo guacamole em casa. São coisas que elas podem levar ao restaurante."

A WWE (World Wrestling Entertainment), que organiza espetáculos de luta livre, também está usando o TikTok para recrutamento, disse Paul Levesque –mais conhecido pelo seu nome de lutador, Triple H–, que é vice-presidente de estratégia e desenvolvimento de talentos da companhia. Ele disse que os currículos em vídeo oferecem uma ideia melhor sobre a personalidade de um candidato, algo que é importante para a companhia.

“Para nós, a proposta é ligeiramente diferente do que seria para uma vaga regular de escritório, em termos de retrospecto do candidato”, ele disse. “Nós estamos à procura de carisma."

A plataforma de comércio eletrônico Shopify anunciou que estava começando a usar o TikTok para procurar engenheiros.

“Há muita gente inteligente, empreendedora e dotada de conhecimento técnico em toda parte”, disse Farhan Thawar, vice-presidente de engenharia da Shopify. “Nossa ideia é de que, se a pessoa não consegue explicar uma questão técnica a uma criança de cinco anos de idade, ela não sabe do que está falando. E por isso ter uma mídia como o TikTok é perfeito."

Outros empregadores questionam sobre confiar na disseminação viral para determinar o valor de um candidato. A Adore Me, uma empresa de lingerie, começou a testar recrutamento via TikTok em janeiro. Chloé Chanudet, sua vice-presidente de marketing, disse se preocupar com a questão da distribuição no feed.

“As mulheres ‘plus size’ ou não brancas têm probabilidade menor de terem seus vídeos distribuídos”, ela disse. “E nos preocupamos com o fato de os currículos do TikTok talvez enfrentarem os mesmos vieses de algoritmo."

O TikTok disse que “não modera conteúdo com base em tamanho, forma ou habilidade”.

Alguns membros da geração Z que estão em busca de emprego dizem que essas preocupações não os incomodam. Christian Medina, 24, que busca posição como gerente de produto e se formou na universidade no ano passado, disse que teve seis contatos de emprego desde que postou um vídeo no TikTok no ano passado em que anunciava estar buscando uma posição de gerência de produto.

“Encontrar emprego para um recém-formado é quase impossível, e o LinkedIn não foi o lugar mais útil para mim”, ele disse. “Com certeza continuarei a usar currículos no TikTok."

Tradução de Paulo Migliacci

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