Por jovens talentos, empresas oferecem flexibilidade e ambiente informal

Mais do que pacote de bondades, benefícios são vistos como formas de motivar os funcionários

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Luciana Alvarez
Lisboa

Para atrair e reter jovens profissionais, empresas têm oferecido novos tipos de benefícios, entre eles horários flexíveis, dress code livre e ambiente informal com pouca hierarquia.

A tendência, que de certa forma borra as fronteiras entre trabalho e vida pessoal, ganhou força com companhias de tecnologia no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e acabou se espalhando por diversas áreas, em várias partes do mundo.

Saindo de um escritório de advocacia tradicional, Maylla Amorim, 28, buscava o equilíbrio da vida particular com a profissional quando se tornou assistente jurídica da Maple Bear, multinacional de educação que está na lista das dez melhores empresas com até cem funcionários do Brasil no ranking da consultoria Great Place to Work.

“Ainda estava na licença maternidade quando me chamaram para o processo seletivo. Eles foram muito abertos à possibilidade de eu fazer atendimentos de casa. Sempre que precisava, levava o computador da empresa e fazia homeoffice antes da pandemia tornar isso mais normal”, diz.

A assistente jurídica da Maple Bear Maylla Amorim, 28, com urso de pelúcia
A assistente jurídica da Maple Bear Maylla Amorim, 28, com urso de pelúcia - Arquivo pessoal

Amorim conta que muitos dos seus colegas advogados mal podem acreditar quando relata sua rotina e apoio que recebe. Na pandemia, a empresa aderiu a um serviço externo para melhorar a saúde mental dos funcionários, e ela passou a fazer sessões com uma psicóloga durante o horário de trabalho.

“Tenho a liberdade de falar: hoje não estou bem, não consigo produzir, e a empresa respeita meus processos”, afirma.

Mais do que um pacote de bondades, os benefícios são vistos como formas de motivar os funcionários, o que faz com que todos os lados saiam ganhando, defende Roberto Publio, diretor de gente, gestão e inovação da Maple Bear Latam.

O trabalho é monitorado não pela quantidade de horas, mas pelos resultados. “Investimos nos pilares da motivação intrínseca, como dar autonomia e senso de propósito. Queremos que as horas de trabalho sejam boas, que as pessoas estejam num estado de presença”, diz Publio.

Edvalter Holz, professor de liderança e gestão de pessoas do Insper, diz que, jovens ou experientes, todos buscam mais ou menos as mesmas coisas no trabalho. A diferença é que os mais novos têm expectativas mais imediatistas por causa da falta de experiência.

“O jovem ainda tem uma visão subjetiva da carreira. Quem é mais experiente já tem uma visão mais realista, sabe melhor o que é factível”, explica.

Pesquisas sobre motivação indicam que pouco tem mudado ao longo do tempo. Profissionais querem ser contratados e se manter em empresas cujas marcas são valorizadas no mercado, dependendo do conteúdo do seu trabalho, das possibilidades de crescimento na carreira, da compensação financeira e dos auxílios como previdência, seguros e plano de saúde.

“Os grandes fatores são clássicos, coisas que todo mundo já sabe. Mas, recentemente, se tem percebido também uma busca pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, formas de ajustar as demandas pessoais. Um segundo ponto novo é o respeito e a honestidade da liderança”, afirma.

O equilíbrio entre vida e trabalho, contudo, não significa que as pessoas querem passar suas horas de lazer dentro da empresa.

“Existe um estereótipo do que seria uma boa empresa para jovens, mas dados de trainees do Vale do Silício apontam altíssima rotatividade. Ter toda uma parafernália de jogos e diversão na empresa não adianta”, diz o professor do Insper.

A ideia de ter uma mesa de sinuca foi rejeitada pela maioria dos funcionários da startup Minha Quitandinha.

“Tivemos essa conversa em equipe e concordamos que não adianta ter um tobogã no escritório se não tiver um salário justo, se não formos respeitados nos processos de trabalho. O mais importante é ter abertura para falar com a gestão”, afirma Vitória de Meneses, 24, que há seis meses trabalha na área comercial da empresa.

Meneses diz que, além da abertura para falar com seus chefes sobre qualquer assunto profissional, não ser cobrada por cumprir uma carga horária fixa é outra grande vantagem da forma de trabalho atual. “Atendo meu público fora do horário comercial, então me ajusto para fazer outras coisas durante e funciona bem. Vou à academia de manhã”, cita.

Douglas Pena, sócio-fundador da Minha Quitandinha, diz que a forma de trabalho surgiu de forma natural. “Respeitamos a individualidade das pessoas que trabalham conosco, não vamos julgar pela vestimenta. Ao longo do tempo, o ambiente de trabalho se torna confortável e leve”, diz.

Daniel Abbud, diretor-executivo da 7Stars, uma holding de empresas de tecnologia com mais de 2 mil colaboradores, acredita que a cultura pouco hierarquizada é seu grande trunfo para atrair e manter jovens talentos.

“Essa geração não vai trabalhar num lugar onde não tenha voz: eles querem opinar”. afirma. Para ele, longe de ser um problema, é uma vantagem ter equipes com pessoas capazes de questionar e propor, independentemente do cargo que ocupem.

Nas suas empresas existe uma “turma” que trabalha de bermuda, mas isso não é realidade para todos.

“Um contato comercial, com interação com cliente, não pode aparecer para trabalhar de chinelo. A questão do dress code tem que ser contextualizada. O importante é estabelecer uma relação de confiança, para que ninguém se sinta controlado”, diz Abbud.

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