Estágios virtuais foram uma curva de aprendizado; agora o futuro é híbrido

Empregadores aplicam lições aprendidas com programas remotos para desenvolver o treinamento pós-pandemia

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Streisand Neto
Financial Times

Ninguém teve medo de se perder, quando meu estágio na CNN Internacional começou, em setembro de 2020. Eu estava sentado a uma mesa em meu quarto, e sabia onde ficava a geladeira. A experiência foi semelhante em meu segundo estágio, na Mercury LLC, em 2021, também completamente remoto.

Nos dois últimos anos, empregadores tiveram de encarar uma curva de aprendizado complicada, ao desenvolver programas remotos para estagiários e trainees. Agora uma segunda mudança está a caminho: aplica aquilo que foi aprendido na criação de estágios virtuais a fim de tirar o máximo do futuro híbrido.

"Pode ser difícil transmitir os valores da empresa de forma remota e virtual, se eles [os estagiários] se conectam e desconectam da rede diretamente e trabalham sozinhos", diz Cathy Baxter, diretora de engajamento de talentos no Reino Unido do grupo de serviços profissionais PwC.

Lições aprendidas no home office servem como base para trabalho no modelo híbrido - Credit Deagreez/Adobe Stock

Os empregadores tinham por objetivo fazer com que os estagiários se sentissem tão parte do time trabalhando em casa quanto se sentiriam no escritório. A PwC, por exemplo, organizou uma sessão com o astronauta britânico Tim Peake usando uma plataforma de realidade virtual na qual os participantes criavam avatares e interagiam uns com os outros. "Tentamos relacionar a experiência dele [no espaço] à maneira pela qual estávamos trabalhando virtualmente", diz Baxter. O evento, uma sessão de perguntas e respostas, foi organizado como forma de ajudar os estagiários a "se engajarem e se tornarem parte da equipe".

Eventos extraordinários como esse foram realizados em companhia das formas mais tradicionais de apoio aos jovens contratados da PwC. Entre elas está designar parceiros para os estagiários, e realizar sessões de orientação nas quais os estudantes possam considerar o que desejam realizar no programa e estabelecer objetivos, de acordo com Baxter.

Na Deloitte, os estágios nas férias de verão são em geral realizados em Londres ou em escritórios regionais. Durante o período virtual, os candidatos selecionavam um determinado escritório, mas não precisavam estar perto dele, o que ampliava a diversidade geográfica de candidatos. De acordo com Charlotte Winderam, encarregada de programas e operações de recrutamento e carreira da Deloitte, "mais de 96% dos estudantes disseram que a colocação virtual atendeu ou excedeu suas expectativas".

"Não creio que eu tenha me sentido excluída ou prejudicada", diz Rhiannon Francis Clarke, que concluiu o estágio virtual de verão que fez na Deloitte e conseguiu um posto como trainee de pós-graduação em 2022.

Quando meu estágio no Financial Times começou, na metade do ano passado, o programa era híbrido, e isso tinha diversas vantagens. Ir ao local de trabalho me ajudou a estabelecer relacionamentos profissionais e a participar de discussões e compartilhamento de ideias na área de trabalho (apesar do distanciamento físico entre as mesas).

As oportunidades incidentais de networking também eram importantes: embora o movimento no escritório não fosse grande, fiz contatos que iam além de minha equipe de trabalho direta. A informalidade também significava que abordar colegas ocupados era um ato menos intimidante. Com os escritórios começando a se encher de novo neste ano, e alguma normalidade retornando, esse benefício improvável da pandemia provavelmente desaparecerá para os estagiários.

Também há algo de importante em ir a um local de trabalho e conhecer pessoas novas. "Para mim foi refrescante poder sair de casa", diz Felicity Deaney, que concluiu um estágio híbrido de verão na agência de marketing Motive. "Em minha opinião, o aprendizado presencial é inestimável".

Um modelo híbrido está começando a se instalar como formato futuro de estágio.

O programa de estágios de verão do escritório de advocacia Pinsent Masons em 2022, por exemplo, provavelmente será híbrido, de acordo com Deborah McCormack, que comanda a área de desenvolvimento inicial de talentos na empresa. "Todos vamos trabalhar de maneira híbrida", ela aponta. "Não estaremos no escritório 100% [do tempo]".

A experiência dos empregadores no desenvolvimento de estágios virtuais vai orientar o futuro híbrido. Na Deloitte, por exemplo, Winderam diz que uma das lições cruciais foi "focar mais o apoio aos novos estagiários, com verificações de desempenho junto a colegas e orientadores de suas equipes".

No Pinsent Mansons, McCormack está estudando que tarefas funcionam melhor se feitas pessoalmente, e o que pode ser completado virtualmente. O programa de estágios de verão de 2022 consistirá "de coisas sociais no escritório, como uma espécie de visita de orientação guiada ao local de trabalho e algumas tarefas que poderão ser realizadas virtualmente".

Os empregadores precisam considerar cuidadosamente que trabalho remoto designar para os estagiários e que tarefas funcionam melhor quando realizadas no escritório, diz Lizzie Crowley, consultora sênior de desenvolvimento de capacitação no Chartered Institute of Personnel and Development, uma organização setorial britânica de profissionais de recursos humanos.

Como todos os aspectos do trabalho híbrido em 2022, fazer com que uma abordagem flexível funcione para os estagiários requererá trabalho duro e planejamento por parte dos empregadores. Eles terão, especialmente, de ajudar os jovens trabalhadores que estão diante de uma nova realidade, na qual, como aponta Crowley, "é difícil formar tipos mais profundos de conexões e laços sociais".

Tradução de Paulo Migliacci

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