O maior atrativo dos pequenos apartamentos de alto padrão de São Paulo está do lado de fora: a localização.
"As pessoas estão trocando metros quadrados por locais melhores. Nos últimos anos, o apartamento pequeno deixou de ser o destino de quem não tem dinheiro para se tornar uma escolha consciente", diz o professor da Faculdade de Arquitetura da USP Renato Cymbalista.
Joel Silva/Folhapress | ||
Bruno Tardelli em seu apartamento de um dormitório no Alto de Pinheiros |
Estar perto do trabalho, de bons serviços ou de muitas opções de lazer guia a compra de quem está disposto a pagar mais de R$ 1 milhão por um imóvel de um dormitório.
Exemplo é o MFerraz 415, da incorporadora Upcon no Itaim Bibi (zona sul): o empreendimento tem o metro quadrado mais caro entre os lançamentos dos últimos 36 meses no mercado paulistano, segundo a Geoimovel.
Cada um dos 49 m² do apartamento vale R$ 31.523, em média. É a bagatela de mais de R$ 1,5 milhão por um imóvel de um quarto na região da avenida Faria Lima.
"Um carro super esportivo geralmente é compacto e muito luxuoso", compara Guilherme Benevides, presidente da Upcon. "O tamanho não está ligado ao luxo."
ARREDORES
No Downtown São Luís, prédio da incorporadora Setin localizado na rua da Consolação, o preço de cada um dos 18 m² chega a R$ 19.136.
"Uma vez me perguntaram como eu fazia para vender um apartamento de 18 m². Apontei para o outro lado da rua. Ali você tem o melhor sanduíche de São Paulo, ali, um painel do Portinari, ali, a biblioteca Mário de Andrade. É uma visão diferente da do mercado imobiliário tradicional", diz Antonio Setin, presidente da incorporadora especialista em microapartamentos.
Foi de olho nos arredores que o dentista Bruno Tardelli, 26, se mudou há pouco mais de um ano para um apartamento de 74 m² e um quarto no bairro do Alto de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista.
Seu prédio tem piscina, academia, salão de festas, churrasqueira e forno de pizza. Mas o que contou mesmo na escolha foi o fato de o imóvel estar localizado a poucos quarteirões do trabalho.
Ajudou ainda o custo menor com manutenção, condomínio e IPTU.
"Como moro sozinho, não queria um apartamento com uma metragem maior que essa", afirma o dentista.
O professor Cymbalista corrobora. "O encarecimento do trabalho doméstico passou a ser uma determinante importante. As pessoas começaram a colocar na ponta do lápis o custo de ter uma empregada para manter um apartamento de 200 m²."
Se o espaço é diminuto, a lista de mimos desses apartamentos é digna dos maiores empreendimentos da cidade: fechadura digital, gerador privativo para os apartamentos, tratamento acústico no piso e até um painel artístico encomendado a um coletivo francês de grafiteiros.