Publicidade

perdizes e vila leopoldina

DEPOIMENTO

Mesmo com nova cracolândia e sem metrô, não troco Vila Leopoldina

Ir morar na Vila Leopoldina foi um destino escrito não nas estrelas, mas do lado da régua.

Eu trabalhava na Folha, na região central, e estudava na USP, na zona oeste. Minha mulher também estudava ali e trabalhava do lado do campus.

Dos 4 pontos chave da nossa rotina, 3 estavam no entorno da USP. Para minimizar os deslocamentos diários, era preciso achar um lugar que estivesse ali perto, mas na direção do centro. Estendi o mapa de São Paulo numa mesa, estiquei uma régua do centro à Cidade Universitária e comecei a procurar lugares próximos a ela.

Sabe-se lá por que motivo, chamou minha atenção um bairro do qual jamais tinha ouvido falar, um pouco mais distante da régua do que eu desejaria que fosse, sobre o qual havia pouquíssima informação na internet.

Mais estranho ainda, resolvi conhecê-lo. Encostei o carro ao lado de uma banca de jornal numa tarde qualquer e saí a caminhar sozinho. Era 2003. Eu mal sabia, mas além de um novo lar iria ganhar uma aula de urbanismo.

Fabio Braga/Folhapress
Prédios da Vila Leopoldina, na zona oeste de SP
Prédios da Vila Leopoldina, na zona oeste de SP

O que havia ali na época era um bairro de casinhas e galpões velhos. Gostei do clima da região e fui morar num dos quatro condomínios de torres que começavam a aflorar.

A transformação que se seguiu foi espantosa, seguramente das maiores na cidade nesse período. O melhor termômetro eram as visitas. Cada uma que chegava ao apartamento olhava do alto embasbacada para as novidades na rua Carlos Weber, a principal do bairro.

A velocidade foi tamanha que houve momentos em que eu mesmo me perdi. Aquele prédio já existia? Que vão construir ali? Cadê aquela pizzaria que entregava aqui?

Quero crer que a explosão de prédios ocorreu num ritmo um pouco menos danoso do que em outros bairros. As torres não são tão coladas umas às outras, e sobreviveram ao tsunami imobiliário muitas construções baixas, além de uma imponente unidade do Sesi, também famosa pelo time de vôlei.

A plantação de espigões levou a outra revolução, derivada da primeira: o nascimento de um grande número de lojas e prestadores de serviço, além de bares e restaurantes. Dá para sair à noite e passar por diferentes opções de lugares para comer antes de escolher um. Várias empresas da dita economia criativa, como produtoras de filmes, também optaram pelo bairro.

As ciclovias são bastante utilizadas nos finais de semana -e nos demais dias frequentadas por quem quer correr. Dois blocos de Carnaval do bairro encheram as ruas em fevereiro.

Como sói acontecer, nem tudo são flores. Uma nova Cracolândia ganhou corpo perto da Ceagesp. Há trem, mas não metrô. E com tanta gente nova, o trânsito piorou bastante. A despeito desses problemas, não trocaria a Vila Leopoldina por nenhum outro bairro da cidade.

Publicidade
Publicidade
Publicidade