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Amantes da Mooca modernizam seu bairro sem abrir mão das tradições

Paulo Troya/Renan Teles/Folhapress
Família Barbulho em seu apartamento na Mooca
Família Barbulho em seu apartamento na Mooca

A Mooca é uma pátria dentro da zona leste de São Paulo. Tem bandeira, hino, time de futebol –o Juventus– e até sotaque próprio, influência da imigração italiana.

"O mooquense tem um jeito único de morar e de se relacionar. Aqui, todo mundo se conhece e se cumprimenta na rua", afirma o aposentado Euclydes Barbulho, 83.

Nascido e criado na região, ele é autor de dois livros sobre a história do bairro e um sobre a trajetória da família do pai, que veio da Itália para trabalhar na lavoura de café e, no começo do século 20, se estabeleceu na Mooca por causa das fábricas.

O batismo de Barbulho foi o primeiro ato religioso da Paróquia São Rafael, inaugurada em 1935 no largo homônimo. Lá, 23 anos mais tarde, ele se casou com Therezinha, também descendente de imigrantes italianos.

Os dois chegaram a morar por uma década no bairro vizinho da Vila Prudente, mas voltaram para a Mooca assim que tiveram a chance. "Nossas raízes estão aqui", diz a dona de casa, de 82 anos.

O casal vive no mesmo apartamento há 40 anos, na rua Juventus. Seus dois filhos também não quiseram se mudar da região e moram ali perto, a menos de 200 metros.

A Mooca é um dos bairros mais antigos da capital paulista –em agosto, completa 461 anos. Foi vila rural e se tornou polo industrial no fim do século 19.

A mão de obra foi a dos imigrantes, principalmente italianos, que chegavam até ali no trem vindo do porto de Santos. "O que explica esse amor do mooquense é que as pessoas se mantiveram no mesmo lugar, não houve dispersão", avalia o economista Pedro Perduca, 67, um dos fundadores da associação Amo a Mooca.

Da atividade industrial sobraram os galpões, que se tornaram grandes empreendimentos imobiliários ou acabaram abandonados –sobretudo no Baixo Mooca, área vizinha aos trilhos ferroviários.

É exatamente ali que está surgindo o que há de mais moderno no bairro. Há dois anos e meio, o empresário José Américo Crippa Filho, o Tatá, 46, desenvolve o projeto Distrito Mooca, que busca empreendedores para a região da rua Borges de Figueiredo.

Hoje, já há ali um estúdio de tatuagem, um restaurante, um hostel e um espaço para arte e eventos. Outros estabelecimentos serão inaugurados ainda neste ano.

"Não podemos ficar reféns dos Jardins para ter acesso a arte, gastronomia e lazer", afirma Tatá, que também é dono da hamburgueria de estilo americano Cadillac Burger, na rua Juventus.

A inspiração de Tatá foi Wynwood, antiga zona fabril degradada que se transformou em um dos bairros mais descolados de Miami. "A ideia é ocupar os imóveis com economia criativa, respeitando a história local. Com acesso fácil, é um novo distrito para gente de todos os lugares."

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