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novos jeitos de morar

Edifício de Artacho Jurado foi um dos primeiros a levar lazer para os prédios

As paredes do salão infantil são decoradas com imagens de "Alice no País das Maravilhas". O bar funciona até hoje, para moradores, com móveis dos anos 1950 (como o toca-discos com pés-palito). Há uma sala de música, e o piano até hoje abriga recitais íntimos para moradores e convidados.

Com muitas opções de lazer, o edifício Bretagne, desde sua inauguração, em outubro de 1958, chamou atenção em Higienópolis (centro de São Paulo). Sua piscina ondulada parece ter saído de um musical da nadadora Esther Williams (1921-2013), o salão de festas rosa e azul é sustentado por colunas sinuosas, revestidas com pedra canjiquinha (e até as luminárias foram feitas com o mesmo formato dos pilares).

No 19º andar, uma marquise sinuosa, colorida e perfurada, protege um jardim de inverno, com vista para o bairro de Higienópolis.

Comparar o Bretagne com os atuais condomínios-clube provoca certa depressão.

Os atuais se destacam por muros altíssimos, andares de garagem na superfície, mil catracas e grades. Dos salões de festas às academias de ginástica, são pequenos, com materiais baratos e rapidamente deixam de ser usados pelos moradores com um critério um pouco mais exigente. Viram clubes cujos sócios não querem frequentar.

É o oposto da proposta do Bretagne, que teve seu anúncio de lançamento publicado nos jornais em dezembro de 1950. Naquela época, os clubes sociais eram o ponto de encontro da elite –de casamentos a noivados, de aulas de piano aos esportes com status, tudo acontecia em suas sedes exclusivas.

Sedes cada vez mais caprichadas. Em 1948, Gregori Warchavchik (1896-1972) venceu o concurso para projetar a nova sede do Paulistano. Pouco depois, ele também participaria da Hebraica e do Pinheiros. Novos ricos, como o próprio Artacho Jurado (1907-1983), recebiam rotineiramente bola preta da elite quatrocentona.

Filho de imigrantes espanhóis, que estudou só até os dez anos de idade, Artacho Jurado começou a carreira fazendo letreiros em neon para a publicidade e estandes de feiras industriais, até virar incorporador.

ÁREAS COMUNS

Seus primeiros projetos, para a classe média baixa, variavam de pequenas casas a prédios com espaços para lojas no térreo. No centro, fez arranha-céus como Viadutos, Planalto e Louvre, onde oferecia apartamentos de diversos tamanhos (compactos, em sua maioria), com salões de festas e espaços para letreiros luminosos, que poderiam ser alugados e baratear os custos.

Em seus projetos de maior luxo, em Higienópolis, Artacho levou o clube que era negado para gente sem sobrenome tradicional para dentro de casa. Tanto o Bretagne quanto o Parque das Hortênsias, na avenida Angélica, possuem piscinas, salões de festas e bancos sob as árvores dos jardins.

Mesmo as unidades menores, com 70 e 80 metros quadrados, tinham acesso a essa infraestrutura lúdica.

Os tempos eram outros: ambos condomínios foram inaugurados sem grades. Era comum que as crianças que estudavam nos colégios vizinhos Rio Branco e Sion brincassem nos jardins com as crianças que ali moravam, sem distinção. Até hoje, um dos prédios do construtor no bairro, o Piauí, tem rampas abertas onde as crianças adoram correr.

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