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novos jeitos de morar

Edifícios se tornam espaços de troca de serviços entre vizinhos

Moradores de São Paulo estão aproveitando o espaço dos condomínios para oferecer serviços a seus vizinhos.

A auxiliar de cozinha Letícia Leal, 24, já vendeu marmitas para a vizinhança do edifício em que mora, o Setin Downtown, na avenida Brigadeiro Luís Antônio.

"Muita gente que mora no prédio não tem tempo de cozinhar e acaba comendo fora. Além disso, não podemos ter fogão a gás nos apartamentos. Como tenho um cooktop e um forno elétricos, passei a vender marmitas."

As quentinhas custavam entre R$ 25 e R$ 30, e o cardápio incluía lasanha, bife à parmegiana e fraldinha com cogumelo. Em setembro, Leal recebeu uma proposta para trabalhar na cozinha do restaurante Maníoca.

Mesmo assim, ela não deixou a clientela de lado. "Hoje cozinho sob encomenda. O último pedido foi de uma feijoada para cinco pessoas."

Adriano Vizoni/Folhapress
A auxiliar de cozinha Letícia Leal, 24, em seu apartamento em São Paulo
A auxiliar de cozinha Letícia Leal, 24, em seu apartamento em São Paulo

Dois andares abaixo, outro vizinho de Leal também oferece seus serviços no prédio de 24 andares e 250 apartamentos. Quando ficou desempregado, em 2016, o supervisor financeiro Paulo Guerrero, 35, teve uma ideia à beira da piscina.

"Moradores reclamavam de ter que sair para comprar bebida. Como tinha duas geladeiras, enchi uma com cerveja e passei a vender. Na primeira noite teve uma festa em outro andar e metade do estoque foi embora", afirma.
Ele chegou a vender numa única noite cerca de 60 cervejas. O faturamento era de cerca de R$ 1.500 por mês.

"Foi com esse dinheiro que consegui pagar muitas contas durante a época de maior aperto", afirma.

Além de cerveja, ele começou a oferecer refrigerante, água de coco e energéticos.

Há três meses, Guerrero conseguiu um novo emprego, mas o serviço continua funcionando. "A maioria dos pedidos é feita no período noturno. Então ainda consigo atender meus vizinhos."

Leal e Guerrero se comunicam com os "clientes" por meio do grupo de WhatsApp criado pelos moradores. Esse é apenas um dos usos do aplicativo no edifício.

Adriano Vizoni/Folhapress
Paulo Guerrero, 35, no edifício em que mora, na avenida Brigadeiro Luís Antônio
Paulo Guerrero, 35, no edifício em que mora, na avenida Brigadeiro Luís Antônio

"Uma vez precisava de uma furadeira, mandei uma mensagem e logo apareceu alguém para me emprestar", afirma a analista de planejamento de compras Roberta Marcondes, 24, que também vive no Setin Downtown.
Ela já encontrou até uma personal trainer no grupo. "Uma moradora fez toda a sua clientela só com o pessoal do edifício. As aulas são na própria academia do condomínio. Se faltamos, ela vai até a nossa porta nos buscar."

PRIVACIDADE

Angélica Arbex, gerente de relacionamento da Lello, empresa especializada na administração de condomínios, vê como positiva essa atividade.

"Há exemplos em que os moradores oferecem carona para o trabalho ou até de pais que se revezam para levar as crianças que estudam na mesma escola. Mas, por questões de privacidade e segurança, é recomendável que somente moradores dos edifícios participem desses grupos e atividades", diz.

No Copan, os mais de 5.000 moradores se organizam em três grupos no Facebook, um deles com cerca de 1.400 membros. Neles, são oferecidos serviços que vão de troca e doação de móveis e eletrodomésticos a aulas de inglês.

"Nem os mascotes ficam de fora. Eu cuido de gatos e cachorros quando os donos precisam viajar", diz Maria de Los Angeles, 45, "cuidadora oficial" do edifício, que divulga seu serviço na rede social.

Por bicho, ela cobra entre R$ 60 e R$ 70 por hora e ainda cuida de plantas.

O negócio, criado em 2003, cresceu e hoje ela conta com a ajuda da sobrinha e de um amigo. "Com eles, consigo atender outros edifícios da redondeza", afirma.

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