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Moradores de Santo André, no ABC paulista, criam 'bibliotecas vivas' em casa

Em vez da biblioteca convencional, um espaço de leitura colorido e com acervo voltado aos interesses dos moradores da vizinhança. Essa é a proposta da biblioteca viva, implantada em abril passado nos imóveis de dois moradores de Santo André.

No bairro da Cata Preta fica a Semear. Mais especificamente dentro da Escolinha da Jô, a casa da professora Joelma Gonçalves Laureana, 47, que transformou o espaço em ponto de reforço escolar gratuito há dois anos. Ali, ela recebe 84 crianças do bairro com problemas de aprendizado.

Viúva e mãe de dois filhos, Laureana nasceu em Diadema, teve pouco contato com a leitura na infância e trabalhou como vendedora por muitos anos. Aos 42, entrou para a faculdade de pedagogia. "O primeiro livro grosso, com 200 páginas, que li foi na universidade. Fiquei maravilhada", conta.

Escolhida pela prefeitura para sediar uma biblioteca viva, Laureana recebeu cursos de formação, como o de mediadora de leitura.

Alberto Rocha/Folhapress
A professora Joelma Laureana, fundadora da Biblioteca Viva Semear, em Santo André
A professora Joelma Laureana, fundadora da Biblioteca Viva Semear, em Santo André

A Secretaria de Cultura da cidade cedeu também carteiras usadas para montar a sala de aula, caixotes para fazer estantes e pneus que se transforam em pufes. Os moradores do bairro ajudaram na pintura das paredes e na confecção dos objetos.

Instituições da cidade doam os alimentos para servir café da manhã e almoço para as crianças. "São dez,
quilos de carne e 16 litros de leite todos os dias, sem contar os acompanhamentos", conta Laureana, que tem ajuda de mais uma professora e duas cozinheiras, todas voluntárias.

"Quando o acervo de livros chegou em casa, as crianças ficaram uma semana observando de longe, até que pegaram os livros nas mãos para ver as capas", conta a pedagoga.

Em 15 dias, retiraram 60 livros –apenas duas obras retornaram. "Mas não tem problema. Já contávamos com isso e não é obrigatório trazer de volta."

Alberto Rocha/Folhapress
Gian Oliveira na biblioteca que abriu em sua loja
Gian Oliveira na biblioteca que abriu em sua loja

Todos os meses o acervo da biblioteca se renova. Os preferidos são os gibis e livros de futebol, de biologia e de direito.

Na Vila Sacadura Cabral, a biblioteca viva funciona dentro da loja de consertos de celulares e eletrônicos de Gian Nunes Oliveira, 39, que nasceu no bairro e sempre se envolveu em projetos sociais locais.

A ideia surgiu depois que uma estudante de pedagogia procurou Oliveira com a proposta de um programa de brincadeiras educacionais para as crianças. O comerciante ofereceu a loja como ponto de encontro.

Poucos meses depois, ele montou a biblioteca em um espaço de dez metros quadrados dentro da loja, com o apoio da prefeitura.

"Temos um acervo de 200 livros. Alguns estão encaixotados pela falta de espaço. Temos muitos livros só de figuras, gibis, e publicações sobre medicamentos e saúde", afirma Oliveira.

Desde a inauguração, apenas dez livros foram retirados, mas o comerciante não desanima. "Isso é apenas o começo. Agora a comunidade tem uma biblioteca."

"O objetivo é fazer com que esses espaços façam parte da vida das pessoas, trazendo informações que elas necessitem em formatos variados", diz o gerente de bibliotecas da Secretaria de Cultura de Santo André, Vitor Hugo, que organiza o projeto junto à SP Leituras (Associação Paulista de Bibliotecas e Leitura).

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