Ricardo Borges/Folhapress | ||
O empresário Brunno Galvão, 34, em seu apartamento em Jacarepaguá, no Rio |
Os apartamentos estão cada vez mais parecidos com escritórios de startups. Fachadas espelhadas, ambientes integrados e tecnológicos, com decoração descontraída, típicos dessas empresas inovadoras, ganham espaço em projetos residenciais.
Por fora, o edifício Selfie, em Belo Horizonte, parece um prédio comercial moderno: blocos horizontais se encaixam em um maior, na vertical.
"Isso dá uma ideia de conectividade, comum ao modelo de negócio das startups", afirma o arquiteto Cadu Rocha, da Dávila Arquitetura, que projetou o prédio.
Por dentro, a inspiração continua no pé-direito alto e no contraste de formas geométricas e cores. No hall de entrada, uma parede de cobogós parece mudar de cor por meio de luz indireta. Os tons vão do amarelo ao azul.
O empreendimento, entregue em 2018 pela construtora Caparaó, fica na Savassi, bairro nobre de Belo Horizonte (MG), vizinho da região conhecida como San Pedro Valley, que concentra cerca de 300 startups. O nome é uma alusão ao Vale do Silício, na Califórnia (EUA).
O condomínio mineiro também oferece locação de bicicletas e outros serviços que podem ser solicitados por um aplicativo. Os apartamentos custam de R$ 500 mil a R$ 1,3 milhão e têm áreas de 44 a 82 metros quadrados. Todas as unidades foram vendidas antes da entrega do prédio.
Em São Paulo, o coliving Projeto Kasa 99, na Vila Olímpia (zona sul da capital), atrai jovens em início de carreira e busca estimular a interação social para ampliar o networking dos moradores, de acordo com Cecília Maia, diretora da incorporadora Gamaro, responsável pelo projeto.
A decoração acompanha essa ideia. A sala multifuncional tem sofás e pufes. Nos imóveis, a mobília da cozinha é em tons de laranja e amarelo. O Kasa tem unidades com tamanho entre 23 e 44 metros quadrados e áreas comuns grandes, com espaços de coworking.
A popularização de projetos residenciais como o Selfie e o Kasa está associada à disseminação das startups no Brasil. Em 2012, havia 2.519 empresas cadastradas na Associação Brasileira de Startups. Hoje, são 10.239.
O público que puxa a tendência é de jovens adultos (com idades entre 25 e 40 anos) sem filhos, como o empresário Brunno Galvão, 34, que já esteve à frente de cinco startups. Workaholic, trabalha de 14 a 16 horas por dia. Para manter o ritmo, fez do apartamento, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio de Janeiro), uma extensão do escritório.
A sala ganhou parede em tom alaranjado e porta vermelha. O quarto tem partes roxas, cor que ele diz estimular sua criatividade.
Galvão também espalhou pelos ambientes bonecos de personagens em tamanho real, como Homem-Aranha e Kratos, do game "God of War". "O que faço é divertido, é difícil distinguir quando é trabalho e quando é lazer", diz.
De acordo com Priscilla Bencke, especialista em neurociência aplicada à arquitetura da Qualidade Corporativa, o estilo startup pode deixar o ambiente menos relaxante.
Cores quentes como o laranja e o vermelho geram estímulos de forma inconsciente. "Às vezes a pessoa não consegue descansar e não entende o motivo", afirma.
A especialista diz que elementos que remetem à natureza trazem conforto. Quem quiser espaços aconchegantes deve investir em tons esverdeados, terrosos ou bege. "É preciso aproveitar a luz natural, que produz no cérebro humano substâncias que dão sensação de prazer."