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Projetos contemporâneos se rendem às antigas técnicas de bioconstrução

O termo bioconstrução já foi associado a casas rústicas, erguidas pelos proprietários com as próprias mãos. Hoje, o conceito se distanciou dessa ideia romântica.

Escritórios especializados em bioconstruções assinam projetos de linhas contemporâneas, que em nada lembram choupanas na floresta.

"Ainda pensam que bioconstruções parecem casas de hobbits. Não necessariamente", diz a arquiteta Patricia Campiol, 34, do escritório Baixo Impacto, com unidades em Florianópolis (SC) e Campinas, no interior de São Paulo.

Bruno Chimenti/Divulgação
SAO PAULO, SP, BRASIL, 28.01.18 1h O que vai bombar no Carnaval 2018 nas ruas. Denny Azevedo, 34, e Ricardo Don, 31, artistas, no Academicos do Baixo Augusta. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, COTIDIANO)
Imóvel erguido com materiais reaproveitados, do escritório Gera Brasil, em Piracaia (SP)

Os métodos de construção não são novidade. Processos antigos, como paredes feitas de terra, têm se mostrado soluções baratas e eficientes.

O pau a pique, muito usado no Brasil Colônia, e tijolos de adobe, moldados artesanalmente, agora aparecem em projetos ao lado de técnicas recentes, como o hiperadobe, em que o barro é ensacado, compactado e empilhado.

A lista de vantagens proporcionadas pela parede de terra é vasta, segundo especialistas.

"As paredes respiram e regulam a temperatura, dispensando ar-condicionado, e absorvem até 80% da umidade, o que evita o mofo", explica o bioconstrutor Marc van Lengen, 56, do Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura Tibá, em Bom Jardim (RJ).

A resistência da parede de terra é parecida com a de alvenaria, diz o arquiteto e urbanista Flávio Duarte, 36. Fundador do escritório Biohabitate, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), ele se baseia em estudos realizados em outros países, como Estados Unidos e Espanha, e em testes que ele conduz.

"Em laboratório, alcançamos resistência para executar paredes estruturais de terra ensacada em casas de até três pavimentos", afirma.

Os acabamentos também são naturais e produzidos a partir da terra. O reboco, por exemplo, pode ter aparência irregular, mais rústica, ou ser afinado com a adição de polvilho. "A parede fica lisa como uma cerâmica", diz a arquiteta Nilce Pinho, 49, do escritório paulistano Gera Brasil.

As tintas à base de terra já permitem novas cores. "Além dos tons terrosos, é possível produzir tinta natural branca a partir da terra argilosa tabatinga e usar colorizantes vegetais, como a beterraba."

Nilce está em fase final de construção da própria casa, em Piracaia, no interior de São Paulo. Ela e os sócios Karen Ueda, 45, e Antônio Carlos Vissotto Jr, 45, lançaram mão de uma série de técnicas sustentáveis. Pelo projeto, o trio acaba de receber o prêmio Saint-Gobain de Arquitetura Sustentável.

Um dos destaques é o telhado, com estrutura curva de bambu. As hastes foram envergadas e receberam tratamento de borato de sódio, que protege contra cupins.

Sobre o bambu, duas chapas de compensado OSB e uma camada de manta aluminizada servem de base para as telhas do tipo shingle, escolhidas em função da leveza. "A estrutura de bambu não tem apoio de alvenaria e não suportaria o peso das telhas cerâmicas."

Segundo Flávio Duarte, as bioconstruções deixaram de ser uma demanda de tribos alternativas. Ele conta que já ergueu casas ecológicas para todo tipo de gente, tanto em comunidades rurais quanto em condomínios de luxo.

Uma das dúvidas frequentes de sua clientela diz respeito ao custo: bioconstrução é mais cara ou mais barata?

Segundo Duarte, sai elas por elas: os materiais custam cerca de 30% menos, mas gasta-se mais com a mão de obra.

"Operários não estão acostumados com o serviço. É preciso contratar especialistas que gerenciem a obra e capacitem a equipe", diz.

A maior economia é percebida quando o imóvel está em uso. A casa de Nilce Pinho ganhou um biodigestor que trata o esgoto e transforma os resíduos em biogás para a cozinha. Ela também investiu em cisterna para captação de água de chuva, que será destinada aos dois banheiros.

"A descarga é responsável por 33% do consumo de água em uma residência, gasto que vamos eliminar."

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DO QUE É FEITA UMA CASA ECOLÓGICA

Paredes
São erguidas usando a técnica hiperadobe, na qual o barro é acondicionado em sacos de fibra sintética, que são compactados e empilhados. Depois de seca, a parede recebe reboco e tinta naturais

Janelas
Vidros temperados com película reduzem em até 78% o calor transmitido pelo sol, dispensando o ar-condicionado

Telhado
A estrutura sob as telhas é feita de bambu ou madeira de reflorestamento

Água
Cisternas de captação de chuva alimentam a descarga do banheiro, reduzindo a conta em mais de 30%

Energia elétrica
Painéis solares conectados à rede enviam o excedente de energia à companhia, transformando-o em créditos

Esgoto
Um biodigestor faz o tratamento do esgoto e gera biogás para cozinha. O equipamento deve ser limpo a cada cinco anos, e os rejeitos viram adubo

Paisagismo
Espécies nativas, que exigem menos manutenção, são complementadas com recursos reaproveitados –pátios e escadas podem ser revestidos com garrafas e sobras de madeira da obra

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