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retomada do mercado

Análise: Incerteza política atrasa crescimento do mercado de imóveis

A depressão passou. A dúvida é saber quando começa a animação no mercado de imóveis. Há recuperação, mas as vendas e o crédito para a compra de residências saem devagar do buraco em que caíram entre 2015 e 2018.

Embora não existam motivos para um "boom", em tese há alguns fundamentos para esperar uma melhora do mercado, um progresso sobre bases muito deprimidas.

No último ano, o dinheiro novo emprestado pelos bancos para a compra de residências chegou a R$ 90 bilhões (concessões de crédito acumuladas em 12 meses), valor que tem crescido desde dezembro. Em fevereiro, o volume de novos empréstimos estava crescendo a mais de 5% ao ano. No entanto, o total de concessões chegara a R$ 174 bilhões por ano, em 2014, quando a crise começou.

Quais os motivos para acreditar de modo realista em uma recuperação?

A taxa média de juros de financiamento é a mais baixa pelo menos desde 2013. Os preços pararam de cair, mas estão em patamares baixos. Os maiores bancos estão interessados no crédito imobiliário. O rendimento médio, mesmo crescendo de modo lento, não cai mais. As empresas se animaram e aumentaram os lançamentos; as vendas melhoraram, embora não na mesma medida.

Há motivos para pensar que esse copo meio vazio pode ficar meio cheio. Há também furos no copo, que podem esvaziar otimismos: riscos políticos, incertezas econômicas, desemprego em nível assustador, falta de recursos públicos.

Como é óbvio para quem compra ou vende, a incerteza quanto à recuperação econômica e à estabilidade da renda são ainda um problema. A economia ensaiou uma recuperação um pouco mais do que medíocre em 2017 e em 2018, tentativas em parte frustradas por tumultos políticos.

A eleição de um novo presidente e a perspectiva de conserto da economia poderiam sustentar o otimismo dos consumidores e empresários. Mas o efeito das turbulências causadas pela greve dos caminhoneiros e pela campanha eleitoral ainda prejudicam a retomada econômica.

A frustração das expectativas, a persistência do desemprego e da falta de bons empregos, por sua vez, afetam a confiança do consumidor, que voltou a diminuir neste início do ano. Mesmo quem tem trabalho fica ressabiado, ainda mais porque o tumulto político deste início do ano causa mais desconfiança sobre o conserto da economia.

A economia lerda também afeta a arrecadação de um governo já endividado. Com previsão reduzida de receita e com déficits a cobrir, há cortes de investimentos, entre eles os gastos com o Minha Casa Minha Vida. A lenta criação de empregos limita a receita do FGTS, que banca negócios desse tipo de imóvel.

É um problema que afeta dois terços do mercado de imóveis residenciais. O orçamento do Minha Casa Minha Vida para este ano é um dos menores em uma década do programa. A política subsidia imóveis para famílias com renda de até R$ 9.000, a vasta maioria do país. Chegou a contar com R$ 17 bilhões por ano, em 2014. Não deve ter mais do que R$ 4 bilhões neste 2019.

No resumo da ópera, o crédito para financiamento de residências cresce, sinal de que tanto bancos quanto consumidores estão mais otimistas. No entanto, o peso da incerteza dificulta uma recuperação mais animada, que depende de consertos na economia, reformas entre eles.

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