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Como comprar um imóvel

Amigos de escola se juntam e compram sete apartamentos no mesmo prédio

Nas assembleias do condomínio, eles formam a turma do fundão, à semelhança do que alguns faziam em sala de aula quando estavam no colégio. Os demais moradores do prédio, ao chegarem para as reuniões, já olham para trás com cara de "lá vêm eles de novo".

"A gente deve mesmo ser visto meio como uma espécie de família Buscapé por aqui", diz Maria Eduarda Rizek, 27, a Duda.

"Eles" são a turma de sete amigos que se conhecem desde pequenos e, à exceção de Duda, frequentaram a Escola Vera Cruz, na zona oeste da capital paulista.

E viraram a família Buscapé quando acharam por bem morar todos no mesmo prédio, inaugurado em agosto passado na rua Djalma Coelho, na Vila Madalena.

Alberto Rocha/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 28.01.18 1h O que vai bombar no Carnaval 2018 nas ruas. Denny Azevedo, 34, e Ricardo Don, 31, artistas, no Academicos do Baixo Augusta. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, COTIDIANO)
Em pé, da esq. para a dir., Pepo, Deco, Nonô e Truffi; sentados, Tomaz, Quinho e Duda, com a cadela Canjica no colo 

A história começou quando Pepo, Pedro Penteado, 28, viu o prédio que se erguia perto de sua casa e decidiu comprar um apartamento ali, em um financiamento de três décadas.

Pouco depois, a mãe de Pepo passava em frente ao edifício com a mãe de Marcos Carioba, 28, o Quinho, e contou à amiga a aquisição do filho.

Amigo de Pepo desde a 5ª série, Quinho decidiu entrar na barca e também comprou um. Duda, sua namorada há oito anos, que estudou na Escola da Vila e é amiga da turma desde aqueles tempos, comprou a unidade ao lado.

O casal fez dos dois imóveis um de 60 metros quadrados.

Aos poucos, foram chegando os demais, Tomaz, Nonô, Deco e Pedro Truffi.

Apesar de nem todos já estarem morando ali, os sete –mais alguns agregados– já desfrutam das áreas comuns do condomínio e se visitam com frequência.

Às vezes com frequência e liberdade excessivas, pode-se dizer. Como quando Pedro Truffi, numa sexta, às 23h30, tentou, em vão, tomar umas cervejas na casa de Pepo.

Tocou, tocou a campainha e nada. "Eu sabia que ele estava em casa. Dava até para ouvir ele roncando. Cara de pau, nem pra atender o amigo!"

"Aqui não tem como mentir. Os caras descobrem tudo", diz Pepo, resignado.

Ou como no dia da entrevista à Folha, quando Duda estava indignadíssima com Pedro Renault, 27, o Nonô. Vizinho de parede, ele havia reclamado com ela logo pela manhã pois sabia que na noite anterior o casal recebera visita e nem o chamara para a "festa".

"Eu até pensei em tocar a campainha, mas não toquei", disse Nonô, esperando da vizinha o reconhecimento por tamanha delicadeza.

Sarcástica, Duda retrucou: "Nossa, como você é gentil. Estou chocada!". A "festa" era a visita da mãe de Duda.

Tomaz Piovani, 27, mora em cima de Pepo. Fez-lhe uma proposta que, a princípio, Pepo julgou ser brincadeira. Mas é –ou era– a sério.

A ideia é abrir um buraco no teto do amigo, ou seja, no chão de sua casa, e instalar um cano, "tipo um pole dance", diz, para unir os apartamentos. Como existe na caverna do Batman.

"Qual é o problema? É só um buraco. Se alguém estiver precisando de algo é só passar pelo buraco", lamenta. Pepo nem dá ouvidos.

Mas volta a ressaltar que ali nada se faz às escondidas. "Não tem como chamar só um. Você chama um e vêm seis." E tudo acaba virando festa. Mas num apartamento de 30 metros quadrados, segundo ele, não é fácil.

"Ué, então é só você aceitar a proposta do Tomaz e fazer um duplex", diz André Roque, 28, o Deco. Pepo cala.

Para Duda, a cabeça dessa turma, essa intimidade é muito legal, porque todos são muito amigos e existe uma história antiga por trás disso tudo. Mas, ressalta, há o lado bom e o lado ruim.

Por isso ela já está redigindo o "Manual de Relacionamento e Sobrevivência" da turma.

"É sério. Tem de ter esse código de comportamento, senão um dia chego em casa e tem 17 homens deitados no tapete tomando cerveja. Eu estou preocupada mesmo."

Nonô já avisou que não respeitará o manual e que vai aparecer de cueca no apartamento do casal para tomar cerveja.

E Quinho, o namorado de Duda, lembra à ela que o quarto fica no "seu" apartamento, referindo-se à sua metade do que era o apartamento original. "É, mas a geladeira fica no meu", responde ela.

As idas do grupo à piscina causam rebuliço, porque nem todo mundo no prédio sabe que todos esses amigos são moradores. Fora que sempre tem um amigo de fora. "Fica todo mundo olhando, achando que são convidados de um ou dois moradores", diz Quinho.

Por conta disso, em uma assembleia, moradores tentaram impor o limite de dois convidados por condômino. Mas o "partido do fundão" conseguiu brecar a regra.

Como todos se conhecem desde pequenos, as mães também são amigas e brincam que no futuro irão se mudar para o prédio e fundar outra comunidade.

Duda tem outros planos. "Minha ideia é trazer minha sogra para cá e mudar para a casa dela". Nonô pergunta: "Você já combinou com ela?".

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