Como sustentabilidade deixou de ser vanguarda, estrelas e novatos desta edição da Casacor se reinventam e investem em criatividade e arrojo ecológicos.
O arquiteto Gustavo Neves queria trabalhar com o quarto pilar da sustentabilidade, ainda não oficializado: o cultural (os demais são o financeiro, o social e o ambiental).
Intitulado "Casa Sume", o espaço usa materiais 100% reutilizáveis na decoração, da piaçaba na fachada ao tapete criado a partir de 150 amostras de pele gastas. Na construção, destaque para o superadobe, empilhamento de sacos de terra aplicado na varanda.
Além de ser econômica, por empregar material abundante na natureza, a técnica produz habitações termicamente estáveis, com isolamento acústico adequado e resistentes a inundações ou movimentos do solo.
"Valorizando a cultura local, gastamos menos com transporte e não geramos poluição", afirma Neves, que apostou também na tecnologia. Patrocinada por uma fabricante de eletroeletrônicos, sua moradia inteligente foi equipada para gerar economia de água e luz.
Com a proposta de levar a "habitação essencial" ao Jockey, Marília Pellegrini criou uma casa-contêiner de 60 metros quadrados e acabamentos de alto padrão. "Cada pedaço do espaço mostra como você poderia sobreviver sem consumo externo." A construção, totalmente seca, não envolveu um tijolo, uma estrutura metálica ou uma gota de água. "Não existe forma mais sustentável de fazer casas do que com contêineres", diz.
Já o escritório carioca InTown, de Hugo Schwartz e Alexandre Gedeon, reeditou um espaço prestigiado de outros eventos, desta vez num único andar: o loft de oito "peças" desmontáveis.
"Você não precisa abrir nada no solo, tudo fica apoiado", conta Schwartz. "É uma casa que pode ir para qualquer lugar. Está na montanha e enjoou? Pode levá-la para a praia."
O loft móvel permite instalação de painéis solares e traz uma claraboia no teto e cobogós, que favorecem a ventilação e a iluminação naturais.
Outro representante do Rio nesta edição paulistana da Casacor, Duda Porto seguiu pelo mesmo caminho e projetou o ambiente "Lite", síntese do que entende ser necessário à habitação. Sua casa de 190 metros quadrados é flexível, sustentável e, como ele define, nômade. Energia solar, captação de água da chuva e ventilação cruzada para diminuir o uso de ventiladores e ar condicionado estão lá.
Construída em apenas 40 dias, ela se adapta à fase da vida do dono. "Você pode fazer mais um quarto no futuro, se quiser, ou comprar um terreno na mata e mudar para lá. Porque o ser humano é cambiante", resume o arquiteto.