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Novo modelo de venda permite que um apartamento tenha vários donos

Um apartamento e 26 donos. Esse é o plano da incorporadora BKO para 20 dos 76 imóveis do empreendimento Citizen Paulista, que está em obras na Consolação, região central de São Paulo.

O edifício foi pensado para um público que não quer se prender a apenas um imóvel –ou então quer investir e não tem dinheiro para comprar um apartamento sozinho.

Em um esquema de cotas, a mesma unidade poderá ter até 26 donos, que terão de se revezar na utilização do espaço. A cota mínima custa R$ 50 mil e dá direito a duas semanas de uso por ano.

A inspiração para o empreendimento veio de um modelo semelhante usado há tempos na hotelaria. No timeshare, o viajante pode comprar uma fração de um hotel (ou de uma rede) e ter direito a se hospedar no local alguns dias por ano.

"Nosso público é quem quer um imóvel para estadias curtas, perto da avenida Paulista. Principalmente quem vem para a cidade a trabalho", afirma Clóvis Meloque, um dos sócios da Smartsharing, empresa responsável pela venda dos apartamentos.

As diárias podem ser usadas em datas consecutivas ou espaçadas, ou ainda ser trocadas por hospedagens em outras propriedades no Brasil e no mundo, por meio de uma parceria com uma empresa de timeshare.

"Estamos na era do compartilhamento, da sustentabilidade, da otimização de custos. Os modos de se locomover, de trabalhar e de morar estão passando por uma revolução. As pessoas não querem mais investir tanto em um único imóvel", diz Gustavo Marucio, que é diretor de engenharia da BKO.

A compra por cotas foi regularizada em dezembro do ano passado no Brasil, pela lei 13.777/2018.

A norma estabelece, entre outros pontos, que cada fração da propriedade deve dar direito a, no mínimo, sete dias de uso. As partes são consideradas bens individuais, e sua comercialização não depende da concordância dos outros donos do imóvel.

O novo modelo de compartilhamento já é visto pelo mercado como tendência, mas especialistas da área são mais cautelosos.

"Ainda não temos pesquisas que apontem isso", afirma Eliane Monetti, professora do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. De acordo com ela, as construtoras estão fazendo experiências com novos empreendimentos que vão ao encontro do Plano Diretor da cidade.

Já Danilo Igliori, economista-chefe do portal de imóveis Grupo Zap, atribui o fenômeno à crise econômica. "O mercado está fazendo testes para um novo tipo de consumidor que não tem dinheiro para comprar", afirma.

Além da multipropriedade, a onda da economia compartilhada já inspirou outros jeitos de morar, entre eles o coliving. O conceito inclui desde imóveis divididos por pessoas que não se conhecem até prédios com unidades pequenas e espaços de uso comum –como cozinha, lavanderia e coworking.

O modelo tem guiado os lançamentos da Vitacon, incorporadora que ficou conhecida por lançar os menores apartamentos de São Paulo.

"O brasileiro aceita compartilhar muitos espaços, mas não todos. O banheiro, por exemplo, é algo que não aceitamos dividir", afirma Alexandre Lafer Frankel, presidente-executivo da Vitacon.

A construtora deve lançar 14 empreendimentos até o fim do ano –todos no modelo coliving. Entre eles o VN Consolação, que fica na mesma região do Citizen Paulista.

O público-alvo é formado principalmente por pessoas entre 30 e 45 anos. Mas o formato também está conquistando outra parcela da população que valoriza a convivência: as pessoas mais velhas.

Nos últimos sete anos, o percentual de clientes da Vitacon com mais de 60 anos passou de 1% para 15%.

Segundo Frankel, são moradores que não veem mais sentido em viver sozinhos em imóveis grandes e valorizam a companhia dos vizinhos.

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