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O que não te contam sobre cozinha americana

Cozinhas integradas à área social, quem não sabe, permitem melhor aproveitamento do espaço, sobretudo em casas ou apartamentos pequenos. São onipresentes nos novos projetos, mas nem todo mundo se adapta a elas.

"Antes de comprar nosso apartamento, a gente visitou o decorado da construtora e achou a cozinha aberta uma maravilha. Mas, no dia a dia, foi bem diferente", afirma o empresário Flávio Santos, 39.

Ele e o marido, o professor Douglas Silva, 38, moraram durante dois anos no imóvel, com 162 metros quadrados. Hoje, o casal vive em outro apartamento, que tem a cozinha separada da sala, em Guarulhos, na Grande São Paulo.

A falta de divisórias influenciou na escolha da casa nova. "Cozinha fechada é muito melhor", diz Flávio.

O que mais desagradava o casal era o cheiro de comida que se espalhava pela sala, mesmo com a coifa ligada —aparelho instalado sobre o fogão que sugava a fumaça e a jogava para o ambiente externo.

No verão, outro problema era o calor do forno, que deixava a sala mais quente. Ficar no sofá assistindo a louça suja na pia também incomodava.

Para a turismóloga Beatriz Benador, 30, o único problema de ter uma cozinha integrada é o odor no preparo de alguns alimentos. Ela mora em um apartamento de 47 metros quadrados, todo aberto, no centro da capital.

"Dia desses, uma amiga dormiu em casa. Fui fritar um bife pela manhã, ela até acordou com o cheiro", conta.

Uma coifa ajuda, porque suga, além da fumaça, a gordura e boa parte dos odores. Mas, no caso do bife, não tem jeito.

"Isso me incomoda, mas as vantagens da cozinha aberta são muito maiores. Adoro receber visitas e, assim, não fico isolada enquanto cozinho."

Antes de derrubar ou subir paredes, é importante saber o que se espera da cozinha, diz Marcos Costa, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). "Isso implica ter uma visão do modo de vida e, portanto, fazer uma opção que é cultural."

Ele explica que, ao longo da história, a cozinha ganhou destaque. Durante a época colonial, o fogão ficava fora da casa. Depois, o espaço foi integrado à residência, mas ainda permanecia isolado, sobretudo nos lares mais ricos, como forma de demarcar a separação entre quem cozinhava e quem era o dono da casa.

Hoje, o anfitrião é quem cozinha, o que convida a uma integração maior entre os ambientes. Mas precisa fazer sentido no dia a dia de quem vive ali.

Uma combinação de variáveis deve ser levada em conta. O morador prepara refeições todo dia? Faz muita fritura? Gosta de cozinhar para a família ou amigos? Tem filhos pequenos (e, assim, mais desordem na cozinha)? Incomoda-se com a louça na pia ou com cheiro de comida? Pode investir em um sistema de exaustão eficiente?

Para quem ainda ficar na dúvida, existe o caminho do meio: instalar uma porta de correr que separe os ambientes quando necessário. Se o problema for só o odor, a divisória pode ser de vidro. Se a bagunça também atrapalhar, uma boa opção é o MDF.

Karime Xavier/Folhapress
Estela Stolar e Joelmir Baumgratz, em seu apartamento na zona sul de SP
Estela Stolar e Joelmir Baumgratz, em seu apartamento na zona sul de SP

Outras soluções podem ajudar a minimizar a desordem na área da pia, como uma cuba mais profunda, um escorredor embutido no armário e uma máquina de lavar louça.

Mas a grande protagonista da cozinha aberta é a coifa. Para quem prepara refeições todos os dias, ter um aparelho potente é essencial. Porém, isso não garante que odores não vão se espalhar, alerta a arquiteta Karen Pisacane. "A maior proteção é contra a fumaça e a gordura."

Para operar de forma mais eficiente, a coifa tem de estar ligada por um duto a uma saída externa. Se não, ela vai funcionar como um depurador, que só filtra o ar e o devolve ao ambiente. "A performance é muito diferente", diz a arquiteta Patricia Martinez.

Em geral, os novos apartamentos já têm uma saída específica para essa finalidade. Se não houver, é possível fazer adaptações em janelas e varandas —mas, antes, é preciso consultar o condomínio, porque isso envolve modificações na fachada do prédio.

A coifa precisa ter a mesma largura do fogão e ficar a cerca de 70 centímetros dele (verifique as especificações do fabricante). Versões encostadas à parede tendem a ser mais eficientes do que as instaladas acima de ilhas, expostas a correntes de ar.

Na hora de usar o aparelho, as janelas devem estar fechadas, para não atrapalhar a sucção. É recomendado deixar o aparelho ligado cinco minutos antes de começar a cozinhar e dez minutos depois de terminar. Também é importante limpá-lo semanalmente.

Existem modelos a partir de R$ 600, mas os mais potentes não saem por menos de R$ 5.000. De acordo com Patricia, o ideal é que a vazão do equipamento seja de pelo menos 1.200 m³/hora.

Mas nem sempre vale a pena fazer um investimento tão alto. Para a arte-educadora Estela Stolar, 33, o depurador cumpre o seu papel, principalmente em razão da boa ventilação que tem seu apartamento de 56 metros quadrados na zona sul de São Paulo.

Ela e o marido, o engenheiro Joelmir Baumgratz, 37, escolheram esse imóvel justamente porque a planta permitia unificar os cômodos.

Os dois adoram cozinhar e receber os amigos. Para eles, nem o cheiro nem a bagunça são um problema. "É um estilo de vida. Não é para todo mundo, como nada é", diz Estela.

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