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São Paulo tem alguns dos poucos museus de veículos abertos à visitação

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 19-01-2017, 16h20: EXPOSICAO DE CARROS ANTIGOS. Espaco Box 54, na cidade de Aracariguama, interior paulista, um galpao com exposicao de carros antigos aberto ao publico. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, VEICULOS) ***EXCLUSIVO FSP***
Salão principal do acervo Box 54, em Araçariguama, interior de São Paulo

Uma fileira de clássicos americanos da década de 1960 tem seu reflexo projetado no chão. Do outro lado, alguns carros europeus e nacionais. Um cordão de isolamento os separa dos visitantes e, ao lado de cada um, uma placa descreve o modelo e resume sua história.

Quem fizer questão de conhecer todos os veículos expostos no Box 54, em Araçariguama (a 53 km de São Paulo), levará mais de duas horas -e terá assistido a uma aula de história automotiva.

O problema é que são poucas as coleções abertas à visitação. Segundo a FBVA (Federação Brasileira de Veículos Antigos), não há nenhum museu formalmente constituído no Brasil.

"Falta estímulo do poder público. Estamos trabalhando para sensibilizar governantes, já que até a Unesco reconhece que os automóveis antigos são patrimônio histórico e cultural da humanidade", diz Roberto Suga, presidente da entidade.

Inaugurado em 1969 para acomodar a coleção de veículos antigos do empresário Eduardo André Matarazzo, o museu que leva o nome do fundador foi reaberto para visitação no dia 17 de dezembro do ano passado, após três meses de reforma. Contudo, fechou as portas novamente no dia 20 de janeiro.

"Fechamos por não termos mais como arcar financeiramente com o museu", dizia o comunicado no site da entidade, que fica em Bebedouro (a 381 km de São Paulo).

Em 1984, o museu foi atingido por uma enchente que danificou boa parte do acervo. Em 2006, outro alagamento. Segundo os responsáveis, todo o prejuízo foi coberto pelos administradores.

"Me dei conta de que arcava sozinha com despesas de R$ 5.000 por mês para manter um museu que servia à cidade inteira. Nunca houve reconhecimento por isso", lamenta Patrícia Matarazzo, filha de Eduardo Matarazzo e mantenedora do museu.

O acervo de Bebedouro não é o único fechado. Em Caçapava (a 116 km de São Paulo), o Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas teve suas atividades suspensas em 2014. "Estamos fazendo adequações no prédio, que é muito antigo. Mas posso garantir que reabriremos ao público ainda neste ano", diz o curador, Marcelo Bellato.

Criado em 1963 por Roberto Lee, um dos pioneiros do antigomobilismo brasileiro, o museu chegou a ter 97 veículos. Entre eles, um Tucker Torpedo 1948 -foram produzidos apenas 51, nos EUA.

SÓ NO DISCURSO

Embora as coleções sejam particulares, mantenedores querem apoio do governo.

"Os prefeitos gostam de dizer que sua cidade tem uma coleção histórica de carros quando querem promover a cultura ou o turismo. Na hora de nos ajudar com recursos, somem", disse um colecionador de veículos que não quis se identificar.

Paulo Figueiredo, curador de um acervo composto por aproximadamente 200 carros e 175 motos, afirma que tentou colocá-los em exposição, mas não teve sucesso.

"Houve um projeto de levar toda a coleção para um espaço no Autódromo de Interlagos. O então prefeito, Gilberto Kassab, falou que viabilizaria o projeto. Depois, sumiu", diz o curador.

BRASÍLIA

O principal acervo de carros produzidos no Brasil tem futuro incerto. Localizado em Brasília, o Museu Nacional do Automóvel vive um imbróglio com o Ministério dos Transportes, que pediu de volta o prédio que outrora cedera para abrigar o acervo.

O espaço, que fica no Setor de Garagens Oficiais, foi fechado em 2012. A crise política e as trocas de ministros prejudicaram as negociações, mas a administração do acervo mantém a expectativa de um desfecho favorável.

"Há algumas esperanças: um convênio com o ministério para criação de um museu dos transportes no mesmo local, ou o governo federal nos ceder outro espaço. Também estamos em contato com o Ministério da Cultura para achar uma solução, que deve sair ainda neste ano", afirma o fundador do museu, Roberto Nasser.

Enquanto não há resolução para o impasse, modelos raros da indústria nacional permanecem guardados. Há criações únicas, como o Willys Capeta 1965. Ao todo, o museu de Brasília abriga 50 automóveis e uma biblioteca com cerca de 9.000 livros sobre o setor automotivo.

PATO BRANCO

Outro acervo que fechou no país foi o CP Collection, em Pato Branco (PR), criado pelo empresário Cláudio Petricoski, da Atlas Eletrodomésticos. A administração cobrava R$ 15 para exibir seus 230 carros. As visitas foram suspensas em outubro de 2016, sem previsão de reabertura.

Veja acervos de veículos e aeronaves em São Paulo

Museu dos Transportes Públicos Gaetano Ferolla (em funcionamento)

Mantido pela SPTrans, abriga apenas sete veículos, mas entre eles está o primeiro bonde a circular no Brasil (no Rio de Janeiro, em 1859) e o primeiro trólebus de fabricação nacional, produzido em 1960. Há também cerca de 1.500 fotos e objetos que contam a história do transporte paulista

Endereço: Av. Cruzeiro do Sul, 780 (zona norte, próximo à estação Armênia do Metrô)
Horário: De terça a domingo, das 9h às 17h. Visitas monitoradas devem ser agendas pelo telefone (11) 3315-8884
Preço: entrada gratuita

Museu do Automóvel de São Paulo (fechado)

Funcionou de 1999 a 2011, nos bairros do Ipiranga e do Campo Belo (zona sul). Recebia, em média, 100 pessoas por final de semana, que podiam ver de perto raridades como o Le Zebre 1909 que pertenceu à família de Alberto Santos Dumont, um dos poucos Ford 1937 de origem alemã e um Benz 1911 que, segundo os proprietários, é único no mundo. Fechou por falta de recursos para bancar despesas como aluguel e manutenção dos veículos

Box 54 (em funcionamento)

Na área de 14 mil m² (metade é coberta), 150 carros antigos estão disponíveis para venda ou exposição. Colecionadores também podem guardar seus automóveis lá, sob os cuidados de profissionais (preço sob consulta). Entre os destaques do acervo estão um Ford T 1911 e um raro
Dodge 1928

Endereço: Estrada Gregório Spina 341, Araçariguama (a 53 km de São Paulo)
Horário: Recebe visitas de segunda a quinta, das 8h às 18h. Nas sextas, fica aberto das 8 às 17h, e aos sábados, das 9h às 16h
Preço: R$ 20, e crianças de até dez anos não pagam. O estacionamento é gratuito

Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas Roberto Lee (fechado)

O acervo localizado na cidade de Caçapava (a 116 km de São Paulo) ficou sem atividades por anos. Houve diversas invasões nesse período, o que comprometeu o estado de muitos carros. Recentemente, o local chegou a ser reaberto, mas por um curto período. Segundo seu curador, Marcelo Bellat, o prédio passa por obras e pelo resgate de peças e novos exemplares para o acervo. Deve reabrir ainda em 2017 para visitas agendadas

Fundação Romi (em funcionamento)

No acervo da empresa há dois Romi-Isettas e um furgão protótipo. Quem visitar o local poderá conhecer a história dos pequenos carros e do início da indústria automotiva nacional. A saga está registrada em 907 fotografias, 42 vídeos e 24 materiais publicitários, entre outros documentos

Endereço: Av. João Ometto, 118, Santa Bárbara d´Oeste (a 135 km de São Paulo)
Horário: Aberto de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 16h30
Preço: Gratuitas, as visitas espontâneas são livres, mas as monitoradas devem ser agendadas pelo telefone (19) 3499-1558

Museu da TAM (fechado)

A TAM suspendeu as atividades do museu localizado em São Carlos (a 232 km de São Paulo) em fevereiro do ano passado, alegando que as principais causas foram a inflação, a alta do dólar e a desaceleração do setor aéreo. O espaço reunia 96 aeronaves de várias épocas. Um dos aviões mais raros do acervo era o Spitfire 1942 que participou da Segunda Guerra

Museu Eduardo A. Matarazzo (fechado)

Localizado em Bebedouro (a 381 km de São Paulo), sofreu com alagamentos nos anos 1980 e também em 2006. Custos altos de manutenção fizeram a família Matarazzo fechar o acervo

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