"Com um índice de nacionalização em torno de 30%, a Honda Motor do Brasil apresentou ontem, em Guarujá, seu primeiro produto nacional: a CG 125."
O texto, publicado na Folha do dia 12 de novembro de 1976, anunciava a chegada da moto que se tornaria o veículo mais vendido do Brasil.
Passados 42 anos, a "cegezinha" deixa de ser produzida. Mais de 7 milhões de unidades foram comercializadas, superando o Fusca (cerca de 3 milhões) e o Gol, que em 2018 chegou a 6,7 milhões de emplacamentos no país. Ambos são da Volkswagen.
Não houve homenagens quando a última unidade da CG 125 passou pela linha de produção em Manaus, no dia 21 de dezembro de 2018. Em nota, a Honda atribui o fim da motocicleta à lei que obriga melhorias no sistema de freios, em vigor desde janeiro deste ano.
"A 125 representava menos de 10% do volume total da linha CG, com a maioria dos clientes já preferindo a versão de maior cilindrada", afirma o comunicado.
A sucessora CG 160 (a partir de R$ 8.390) é a atual líder de mercado: 253,2 mil unidades foram vendidas em 2018. Todas são equipadas com os freios CBS exigidos por lei. O sistema distribui parte da força aplicada na roda traseira à roda da frente, o que ajuda a manter o veículo sob controle. Na 125, cada roda é freada separadamente.
O preço tornou a moto da Honda o autêntico veículo popular do Brasil. Enquanto a versão básica do Renault Kwid custa R$ 32,6 mil, as últimas CG 125 estão sendo vendidas por R$ 7.160 nas opções Cargo e Fan. Apesar de simples, parecem esportivas quando comparadas às primeiras produzidas.
"O que a CG tinha de melhor era também o que tinha de pior, já nasceu desatualizada. Mas o presidente da Honda na época, Ossamu Iida, afirmava que uma moto nacional tinha que ser assim, pois era durável, com manutenção simples e confiável", afirma o engenheiro e jornalista Josias Silveira, 72.
"Com o fechamento das importações no começo de 1976, o mercado morria rapidamente, pois vivia de motocicletas estrangeiras, não havia mais o que vender. A inauguração da fábrica com o lançamento da CG significou um recomeço", conta Silveira, que é proprietário de duas 125 antigas, produzidas em 1976 e 1980.
Ele fez uma viagem de Manaus a São Paulo com uma das primeiras unidades produzidas. Foram 15 dias na estrada sem nenhum problema mecânico. "O japonês estava certo, a CG 125 tinha que ser daquele jeito mesmo."
A moto mudou muito em quatro décadas, mas deixou de ser interessante para seu maior público: jovens que a utilizam diariamente Brasil afora como ferramenta de trabalho. Embora mais caras, as opções com motor maior tomaram espaço.
Em 2013, o mecânico e motoboy Denis Kauê Terashi Marques, 30, trocou sua CG 125 ano 2008 pela versão 150.
"Houve uma grande evolução do motor, a 150 vibra menos e, na versão que eu comprei, é flex e tem partida elétrica", diz Marques. Ele afirma que consegue rodar 36 quilômetros com um litro de etanol misturado a um pouco de gasolina.
O mecânico explica que os gastos com manutenção são os mesmos e que a diferença de preço entre a CG 125 e a atual 160 (que substitui a 150 em 2016) é pequena. O valor se dilui no consórcio, modalidade de venda popular entre os compradores dessas motocicletas.
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Conheça a história do modelo
1971 - É inaugurada a Honda Motor do Brasil, com sede em Sumaré (interior de São Paulo). A empresa importa motos do Japão
1976 - A CG 125 começa a ser montada em Manaus. Nos primeiros meses, 1.500 unidades são feitas por mês. Tem 11 cv de potência e câmbio com quatro marchas
1979 - É lançada a CG 125 Turuna, com mudanças no motor e apelo esportivo
1981 - Honda lança a primeira motocicleta do mundo movida a álcool
1983 - CG passa por sua primeira reformulação. Fica mais longa e recebe o sistema Ecco, para poupar gasolina e poluir menos
1986 - Farol redondo é substituído por um novo, retangular, e câmbio passa a ter cinco marchas
1989 - Conselho Interministerial de Preços limita os valores cobrados por motos com motores de até 150 cm³. Honda lança CG 125 Today, que custava mais sem oferecer nada muito diferente das outras versões
1992 - Nova alteração no motor aumenta potência de 11 cv para 12,5 cv
1994 - Mudanças de estilo resgatam contornos arredondados e versão Today é substituída pela Titan
2000 - Nova remodelação e lançamento do sistema antiesvaziamento do pneu traseiro: um líquido colocado na câmara de ar funciona como selante em caso de furo
2003 - Série especial dourada celebra 5 milhões de unidades
2004 - Honda apresenta a sexta geração da CG, que agora tem versões com motor de 150 cm³
2009 - Moto passa por sua maior remodelação e ganha a versão 150 Mix, que pode rodar com álcool e gasolina
2013 - CG 125 muda novamente e passa a ser vendida com três anos de garantia
2016 - Estreia o motor com 160 cm³ e Honda começa a preparar o encerramento da produção da CG 125
2018 - No dia 21 de dezembro, última CG 125 é montada em Manaus