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14/11/2011 - 17h50

Kindle Fire, da Amazon, merece sucesso, mas precisa ser refinado

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DAVID POGUE
DO "NEW YORK TIMES"

Se você acha que o ritmo do progresso tecnológico já anda rápido demais, evite olhar para os leitores eletrônicos ou poderá sofrer um choque.

Os fabricantes de leitores eletrônicos estão repentinamente inundando o mercado com novos modelos, todos ao mesmo tempo. Dá quase para pensar que estamos chegando a alguma grande temporada de compras.

A maior manchete entre os leitores eletrônicos cabe sem dúvida ao novo tablet colorido e equipado com tela de toque da Amazon, o Kindle Fire. (Um trocadilho com "kindle" -alumiar-- e "fire" --fogo--, percebe?) Na verdade, a grande notícia não é o aparelho, mas sim seu preço de US$ 200. Como os demais tablets custam por volta de US$ 500, um modelo vendido por US$ 200 é realmente importante. Voltaremos ao assunto em breve.

A Amazon lançou um total de três novos modelos de Kindle. Os dois mais baratos certamente atrairão menos atenção, devido à fumaça do Fire, mas é uma lástima, pois são realmente espetaculares.

Divulgação
Da esquerda para a direita, os aparelhos Kindle Fire, Kindle Touch e Kindle, da Amazon
Da esquerda para a direita, os aparelhos Kindle Fire, Kindle Touch e Kindle, da Amazon

E INK

O Kindle padrão, chamado simplesmente Kindle, tem uma versão melhorada da tela E Ink padrão de seis polegadas, que mostra texto nítido, preto, e imagens em tons de cinza sobre um fundo cinza claro. O clarão irritante de branco-preto-branco que surge quando se vira uma página de tela E Ink agora só acontece a cada seis páginas. A tela está se tornando espantosamente semelhante ao papel. E, como o papel, ela não brilha; para ler com um Kindle, você precisa de luz.

O novo Kindle é pequeno a ponto de caber no bolso da calça. Mas, de novo, a verdadeira notícia sobre ele é o preço: US$ 80.

Você faz ideia de como esse número espanta? O primeiro Kindle, lançado em novembro de 2007, custava US$ 400. O novo modelo pesa 40% menos, ocupa um terço menos de espaço e armazena sete vezes mais livros --e por 20% do preço original.

Se as coisas continuarem assim, dentro de um ano, a Amazon vai nos pagar para ler com o Kindle.

Há alguns benefícios adicionais que elevam um pouco o preço. Por exemplo, o modelo de US$ 80 exibe publicidade. Não durante a leitura --apenas na tela de "repouso" e em uma faixa na porção inferior da tela de menu. A maior parte dos anúncios oferece descontos, o que os torna bem mais palatáveis. Mas o mesmo Kindle está disponível sem publicidade ao preço de US$ 110.

O segundo modelo novo, o Kindle Touch, é quase idêntico -mas, no lugar de navegar usando um controle direcional mecânico, você usa uma tela de toque. O sistema funciona com perfeição. O modelo está disponível com anúncios por US$ 100 e sem eles a US$ 140.

Todos eles são conectáveis a redes Wi-Fi --para baixar novos livros, por exemplo. Mas o Touch também oferece conexão 3G, onde quer que você esteja. (O modelo 3G custa US$ 150 com anúncios e US$ 190 sem.) O acesso à internet é gratuito.

Mark Lennihan - 28.set.2011/Associated Press
Kindle Fire, tablet da Amazon, exibido em coletiva de imprensa em Nova York
Kindle Fire, tablet da Amazon, exibido em coletiva de imprensa em Nova York

FIRE

Bem, quanto ao Kindle Fire.

É um objeto espesso, preto e reluzente, com tela de sete polegadas. Opera com o Android, software do Google que aciona diversos celulares e tablets de outras empresas, mas isso é imperceptível, porque a Amazon alterou o design do Google a ponto de quase soterrá-lo.

A página inicial é colorida e exibe uma estante de madeira. O conteúdo que essa tela oferece é acessado por meio de pequenos cartazes que mostram livros, discos, programas de TV, filmes, documentos em PDF, aplicativos e páginas de preferências na internet. Na prateleira inferior da estante, você pode colocar os ícones que usa com mais frequência.

Mas, se você sentir um sobressalto e exclamar que "é como um iPad --e por US$ 200!", estará fazendo uma comparação perigosa.

Para começar, o Fire não é nem de longe tão versátil quanto um verdadeiro tablet. Seu design serve para consumir conteúdo, especialmente conteúdo comprado da Amazon, a exemplo de livros, jornais e música. Ele não conta com câmera, microfone, função GPS, entrada para cartão de memória ou conexão Bluetooth. O programa de e-mail é funcional, mas o aparelho não oferece agenda ou bloco de anotações.

O mais problemático é que o Fire não funciona com a elegância e a velocidade do iPad. O preço de US$ 200 se faz sentir a cada vez que você move os dedos na tela. As animações são lentas e instáveis --mesmo as viradas de páginas que, seria de imaginar, a equipe de designers do Fire está acostumada a simular. Os toques na tela ocasionalmente não são registrados. Não existem ícones de espera ou de progresso de tarefa, e por isso você muitas vezes fica sem saber se a máquina registrou sua instrução. O timing das animações não foi calculado corretamente, o que deixa tudo meio irascível.

As revistas deveriam ser uma das melhores experiências do novo aparelho. A maioria oferece duas formas de ver páginas. O modo Page View mostra o layout original da revista --mas pequeno demais para que você possa ler, porque o zoom é limitado. O modo Text View oferece apenas texto sobre um fundo branco. É ótimo para leitura, mas você perde o design e o layout, que são metade da alegria na leitura de uma revista. E o Text View às vezes come palavras, legendas de fotos e quadrinhos, etc.

Livros infantis, para os quais a cor é importante, nunca funcionaram bem nos tablets com tela E Ink, e por isso fazem com o Fire sua primeira aparição na família Kindle. A contribuição da Amazon para isso é que tocar a tela permite ampliar um bloco de texto para leitura --uma escolha peculiar, porque livros infantis já tendem a ter letras grandes.

O sistema de vídeo funciona bem, mas filmes e programas de TV não se enquadram nas proporções da tela e não é possível usar zoom para remover as faixas pretas nas laterais da tela. Reflexos também são problema, nessa tela de alto polimento.
O navegador de internet incluído supostamente acelera o download de páginas ao transferir parte da tarefa a servidores da Amazon. Além disso, se você visitar, por exemplo, a home page do "New York Times", a Amazon tenta adivinhar que link você procura com base na popularidade dos links, e encaminha certas porções de página automaticamente ao Kindle, o que pode tornar o processo ainda mais rápido.

Na prática, a vantagem não é perceptível: o site do "New York Times" demora dez segundos para ser carregado; o do eBay, 17 segundos; e o da Amazon, oito segundos. No caso do iPad, a demora é 50% menor. Por outro lado, o Fire pode executar vídeos em Flash (ainda que aos trancos), o que o iPad não faz.

Aplicativos criados para tablets equipados com o Android precisam de adaptação para funcionar no Fire. Os essenciais já estão disponíveis --Angry Birds, Netflix, rádio Pandora, Facebook, Twitter, Hulu Plus--, e a Amazon promete milhares de outros.

Stuart Goldenberg/The New York Times
Mistura de Kindle e iPad, o Fire merece ser uma força gigantesca e perturbadora, mas precisa ser refinado
Mistura de Kindle e iPad, o Fire merece ser uma força gigantesca e perturbadora, mas precisa ser refinado

ESCOLHA

A escolha de um leitor eletrônico é decisão importante. Os livros eletrônicos de cada empresa são distribuídos em formatos fechados, e o comprador não pode vendê-los ou doá-los. Assim, se você escolher um Kindle em vez de um Nook, da Barnes & Nobles, mudar de ideia pode custar caro.

O argumento em favor da Amazon é que ela domina o mercado. Conta com lojas on-line de música e filmes. E 11 mil bibliotecas públicas nos Estados Unidos emprestam livros para o Kindle.

Tudo o que for comprado ficará armazenado em um arquivo pessoal on-line pela Amazon, e por isso você conta com backup permanente e pode acessá-lo com qualquer outro aparelho da Amazon. Se você estiver assistindo a um filme com o Fire, seu Roku ou TiVo caseiro saberão em que ponto você parou e permitirão que retome a partir dele.

O pacote Amazon Prime, que custa US$ 80 ao ano, oferece transmissão ilimitada de 13 mil filmes e programas de TV, entrega gratuita de produtos em dois dias para suas compras na Amazon e um livro grátis para empréstimo no Kindle a cada mês (mas de um acervo bastante limitado).

A Barnes & Noble, por outro lado, oferece a conveniência de assistência técnica pessoal em sua rede de 700 lojas. E também prepara um tablet baseado no Android, que resenharei assim que for lançado.

Caso a leitura seja seu interesse primário em um leitor eletrônico, a escolha óbvia é o Kindle ou o Kindle Touch.

O Fire merece ser uma força gigantesca e perturbadora --é uma mistura de Kindle e iPad, um aparelho mais compacto para ver vídeos e acessar a internet, e tem preço ótimo. Mas por enquanto ainda precisa ser refinado; se você está acostumado com o iPad ou um tablet Android "real", os probleminhas de software vão deixá-lo furioso.

Mas a Amazon tende a remover os defeitos de suas criações 1.0 até que produza um sucesso. Ou, como se diz no mundo da tecnologia, "se a safra atual de leitores eletrônicos não o agrada, basta esperar um minuto".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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