Já previa punição, diz autor de jogo banido pela Apple
Soldados gritam com mineiros escravos no Congo, seguranças usam uma rede elástica para impedir suicídios de um prédio, e trabalhadores recolhem lixo eletrônico em condições deploráveis.
Esses são alguns estágios do jogo Phone Story, aplicativo polêmico que se propõe a mostrar o ciclo de vida de um smartphone.
Lançado na semana passada na loja virtual da Apple por US$ 0,99 (R$ 1,69), Phone Story foi banido quatro horas após ser anunciado e depois de ter sido baixado por cerca de mil usuários.
No dia seguinte, foi lançado em uma versão para Android, sistema operacional do Google para portáteis.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Criado pela desenvolvedora italiana MolleIndustria e idealizado pelo núcleo ativista Yes Lab, o jogo faz alusões à Apple e aos suicídios em 2010 na fábrica chinesa Foxconn, que produz componentes para Apple, HP e Dell.
Também traz referências às acusações de extração por escravos do minério coltan, usado em dispositivos eletrônicos devido à sua resistência a calor, na República Democrática do Congo. Michael Pineschi, do Yes Lab, falou à Folha sobre o desenvolvimento de Phone Story. "Lançamos o jogo como aplicativo para smartphones, porque isso cria uma interação direta: o telefone fala com você sobre o ciclo de vida dele", argumenta.
Sobre a menção à Apple no aplicativo, Pineschi diz que "todos os smartphones (e dispositivos eletrônicos) sofrem desses problemas, mas a Apple é o grande arquétipo".
O ativista admite que a retirada do jogo da Apple Store não foi surpresa. "Esperávamos que ele seria banido em algum momento".
Segundo o desenvolvedor Paolo Pedercini, da MolleIndustria, o jogo foi criado em pouco mais de dois meses, durante o "tempo livre", com auxílio financeiro do festival britânico de cultura digital AND (Abandon Normal Devices) e da bienal de design de Gwangju (Coreia do Sul).
"Mas tudo será doado, então o orçamento foi zero". O programador diz que as doações, que serão registradas no site da MolleIndustria, irão para a Sacom, ONG que defende direitos trabalhistas baseada em Hong Kong, assim que Apple e Google enviarem o dinheiro.
A versão para o Android está disponível no Android Mar-ket brasileiro por R$ 1,71. Segundo o programador, ela foi construída na madrugada seguinte ao banimento. Cerca de 3.000 pessoas baixaram essa versão do app.
A MolleIndustria é especializada em jogos com críticas ao capitalismo. Além de Phone Story, já fez Oilgarchy, sobre a indústria do petróleo, e McDonald's Videogame, sobre a rede de fast food.
VIOLAÇÃO
Para distribuir aplicativos na Apple Store, é preciso enviá-los para aprovação. O processo existe "para garantir que os aplicativos são confiáveis, funcionam como esperado, e estão livres de material ofensivo e explícito", segundo o site da empresa.
"Vamos rejeitar aplicativos que tenham qualquer conteúdo ou comportamento que vá além dos limites", disse a Apple, em diretrizes divulgadas para desenvolvedores, em 2010.
Segundo a MolleIndustria, o jogo Phone Story foi proibido 20 horas após sua aprovação por violar quatro termos de serviço da Apple Store, incluindo mostrar violência ou abuso de crianças e mostrar conteúdo excessivamente condenável ou grosseiro.
Também burlou a regra de que apps com função de receber doações devem ser gratuitos e a norma de que doação deve ser por navegador Safari ou SMS.
O desenvolvedor do game, Paolo Pedercini, disse que o app foi aceito pela Apple em "menos de uma semana, sem revisões".
Procurada pela Folha, a assessoria da Apple disse que a empresa não comentaria o caso.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade